Agora que veio à tona o descontentamento de Camilo com as funções que lhe foram atribuídas a partir da chegada de Montillo fica mais fácil entender o travamento da evolução tática do Botafogo.
Porque se algo de diferente tinha naquele time que surpreendeu a todos no Brasileiro, o “borogodó” estava no espírito voluntarioso dos jogadores.
Voluntariedade que vinha de um encaixe perfeito das peças, combinado à alegria de servir.
Era de fato um Botafogo superior à maioria dos adversários.
COM TRÊS VOLANTES na proteção e um Camilo eficiente (mal mensurado por todos) na ligação com o ataque, o time que Jair Ventura herdou de Ricardo Gomes ganhou equilíbrio e eficiência.
Mas apresentava problemas no jogo ofensivo, deficiência que se procurou corrigir com a contratação do meia argentino.
Jair era questionado pela cúpula do futebol a construir um Botafogo que não perdesse pontos para equipes mais frágeis.
E agora não havia mais a desculpa de que não havia peças no elenco…
O PROBLEMA é que para encaixar Montillo ao lado de Camilo, Jair Ventura foi obrigado a abrir mão do esquema com três volantes e dois atacantes marcando a saída de bola.
No mínimo, abrir mão de um atacante na pegada ofensiva, redistribuindo a obrigação entre os “wingers”, que são a europeização dos pontas agora recuados à linha intermediária _ jogadores que têm a missão de impedir o avanço dos laterais adversários.
No Botafogo, Camilo pela direita, Pimpão pela esquerda.
CAMILO, que até dezembro de 2016 era visto como a estrela do time, acabou sobrecarregado no sistema.
Ao 31 anos, se viu distante do gol adversário, sem força para trabalhar na recomposição defensiva e na transição ofensiva.
E como Montillo, um ano mais velho, ainda necessita de tempo para se readequar às exigências do futebol brasileiro, sobrou mesmo para o astro do time de 2016 a missão de se sacrificar pelo esquema.
A produção caiu, é claro, e os questionamentos surgiram.
E NÃO ADIANTA Jair Ventura citar a seleção como exemplo.
Camilo participou de um evento especial, sem maiores cobranças e ou responsabilidades.
No Botafogo, ele reivindica o direito de ser apenas e tão semente a referência de sempre.
Pode jogar com Montillo?
Pode.
Mas desde que o técnico encontre uma forma de alivia-lo das obrigações táticas defensivas _ característica que não é o seu forte…