Apesar de não conseguir evitar a derrota por 6 a 2 contra o Botafogo, o lateral-esquerdo da Cabofriense chamou atenção na partida de outra forma. Em seu primeiro jogo como titular, Luan Santos foi o único jogador do clube de Cabo Frio a se juntar aos 11 do alvinegro no protesto antirracista em referência ao movimento “Black Lives Matter“. O jovem de 19 anos, que já sofreu racismo, se viu como único jogador adversário ajoelhado diante de um Estádio Nilton Santos vazio na volta da Campeonato Carioca em meio à pandemia do novo coronavírus.
Luan explica que o gesto não foi premeditado, e seus companheiros de clube não sabiam do protesto. Mas ele sentiu que deveria se juntar ao time adversário, que aos dois minutos se ajoelhou e paralisou o jogo com a bola rolando. O restante da equipe da Cabofriense seguiu de pé, mas respeitou o momento dos botafoguenses, sem oferecer perigo ao adversário.
— Essa luta não é só do Botafogo, é uma coisa que existe e afeta os negros de todos os lugares. É uma doença que deveria ser eliminada da nossa sociedade — disse o jogador de 19 anos.
O preconceito que ele sofreu na infância ficou marcado, e o levou a protestar contra o racismo na partida. Luan pretende usar o futebol como uma plataforma para acessar outros jovens, e acredita que influenciou também os companheiros de equipe.
— Fui chamado de macaco na escola, e nunca mais esqueci. Acho que essa luta também é minha. O futebol tem muita influência no mundo todo. Um simples gesto que você faz dentro de campo pode chegar a muitas pessoas. Com certeza, no próximo jogo, mais jogadores vão protestar. Fico feliz por de alguma forma influenciar o meu time, e espero que isso chegue a mais pessoas.
Contrário à volta do futebol
O carioca começou a carreira no futebol aos 14 anos, no Friburguense. Morando sozinho, ele logo precisou pausar o sonho para se sustentar. Durante um ano trabalhou como garçom, e em 2018 conseguiu uma oportunidade no Audax, de Osasco. Por lá fez cinco jogos até chegar à Cabofriense, onde integrava o sub-20 desde o ano passado.
O time teve nove contratos encerrados por causa da paralisação, o que deu a Luan sua segunda oportunidade como profissional na carreira. Ele já tem outro compromisso marcado com a Cabofriense, na próxima quarta-feira, contra o Bangu, no encerramento da fase de grupos do Estadual.
— Eu acho que não era o momento para voltar a jogar futebol, com mais de 50 mil mortes no nosso país — acrescentou Luan, em opinião contrária ao do time que joga na Região dos Lagos, que foi favorável ao retorno do Estadual.