A divisão dos direitos de transmissão de futebol no Brasil é um tema que gera debates, principalmente após o presidente Jair Bolsonaro assinar Medida Provisória que dá o poder de negociação ao clube mandante, não mais aos dois envolvidos em uma partida. Ex-presidente do Botafogo, Carlos Augusto Montenegro opinou sobre o assunto em entrevista à TV Folgada.
O dirigente defendeu o modelo inglês, com liga e negociação coletiva dos direitos. Para ele, é preciso evitar grandes diferenças financeiras na distribuição, algo que não gostaria nem se favorecesse o Botafogo.
Gosto pelo modelo inglês
– Há duas formas de negociar direitos de televisão. Primeiro, precisamos tomar cuidado que a televisão está com muitos concorrentes, como YouTube, Facebook, pode ter o Google no futuro. Por isso falam no streaming, a possibilidade de negociar seus jogos. No mundo hoje há dois modelos. O espanhol, parecido com o Brasil, no qual a TV negocia com os clubes individualmente, cada vez fica mais a distância de Real Madrid e Barcelona para os outros. No modelo inglês, que prefiro, é preciso fazer uma liga. Ela combina com a TV, é muito mais forte. O primeiro colocado ganha 150 milhões de libras, o vigésimo ganha 100 milhões. O vice ganha 147, outro 143, 139, até chegar ao 100 do vigésimo.
– Isso dá um equilíbrio muito maior. Por isso tem oito ou nove clubes bons. Com dinheirão de TV, aí tem estádio, publicidade, renda, venda de jogadores, é mais dinheiro ainda. Aí quem tiver mais competência é campeão. Tem dinheiro da Liga para tornar o campeonato equilibrado. Não tem esse negócio de Flamengo ganhar R$ 800 milhões e a Chapecoense R$ 2 milhões. Futebol é competição, é competitividade, a disputa tem que ser dentro de campo. Não vai ter graça nenhuma, mesmo que fosse o Botafogo e o Palmeiras, ter dez vezes mais dinheiro que todo mundo. No começo é bom, depois fica chato. Como é com Real Madrid e Barcelona. O Campeonato Inglês nos últimos anos teve vários campeões – argumentou Montenegro.
MP será bastante debatida
O ex-presidente alvinegro não acredita que a MP será aprovada no formato atual e transformada em lei.
– É isso que penso. Tem que haver debate maior. O que o Flamengo apresentou na Câmara vai ser muito debatido, primeiro porque foi ideia dele sozinho, segundo porque é modelo parecido com espanhol, protege ele, Corinthians, talvez o Palmeiras. Vai abrir distância. Com S/A podemos brigar um pouco, mas não é esse o ideal do futebol – resumiu Montenegro.