Walmer Machado critica aproveitamento de Honda e Kalou e dispara: ‘Botafogo S/A é fantasia’

Walmer Machado - Candidato a presidente do Botafogo | Eleição 2020
Divulgação

O Botafogo elegerá, na próxima terça-feira (24), seu novo presidente por meio de eleições em sua sede, com a participação de membros do quadro social do clube. O candidato eleito presidirá o clube no próximo quadriênio: entre 1° de janeiro de 2021 e 31 de dezembro de 2024.

Encerrando a sequência de entrevistas exclusivas com os candidatos, o ESPN.com.br conversou com o advogado Walmer Machado, representante da chapa ‘O Mais Tradicional’.

Caso eleito, qual será a sua primeira medida como presidente do clube?

“O Botafogo não pode ter apenas uma primeira ação a ser tomada. Naturalmente, a primeira ação será empossar a diretoria e, em sequência, uma auditoria. Nós teremos que tratar os planos administrativos com todos os cuidados necessários. Porém, estamos numa situação em que o futebol está na zona de rebaixamento. Isso preocupa a todos nós botafoguenses. Ninguém quer conviver com esse experimento ruim. Vamos torcer ardentemente para que o Botafogo saia dessa situação, para que não tenhamos que, logo de imediato, tomar as primeiras medidas para socorrer o clube e tirar essa intranquilidade que ronda o nosso universo de botafoguenses”

Em entrevista coletiva online, Carlos Augusto Montenegro anunciou o seu afastamento do clube. Como você enxerga os próximos anos sem a presença de alguém tão influente como ele?

“Eu noto que Montenegro foi por vezes importante na vida do Botafogo. Um grande botafoguense. Mas eu acho que chegou no momento dele. Compreendo o afastamento porque ele realmente está cansado, exausto, e por conta disso, o Botafogo é tão gigante, tem tanta gente de naipe, influente, que não pode ficar a mercê de meia dúzia de pessoas. O Botafogo não pode ser isso. Tem que se reorganizar enquanto clube e oportunizar as pessoas de fora. Por exemplo, nosso grupo tem magistrados, desembargadores, ex-chefes de polícia, procuradores de justiça, jornalistas, médicos, advogados… pessoas que tem dignidade no seu trabalho, no seu labor como empregado, mas todos com a mesma paixão pelo Botafogo e com muito desejo de participar pela primeira vez da vida do clube. Acho que chegou o momento de oportunizar o novo. E o novo somos nós. Nunca tivemos cargos políticos, quando participei, reitero, fui terceirizado, nunca tive qualquer função política ou administrativa no Botafogo. Noventa e cinco por cento da minha chapa nunca participou da vida política do Botafogo. Então, nós agradecemos a contribuição do Montenegro como botafoguense, mas achamos que está na hora dele se afastar. Está na hora da renovação”

O Botafogo vive um momento muito complicado financeiramente, sem fluxo de caixa, com uma dívida de quase 1 bilhão de reais e sem perspectivas. Como anda o projeto da S.A? Caso ele não saia, você pretende tocar um plano B? Qual seria?

“Primeiramente, a S/A é fantasia. Nunca saiu do papel. Um delírio. A S/A não existe e o nosso plano B, que é o que temos, é uma gestão compartilhada, em que o Botafogo vai funcionar em conjunto com o banco europeu que nos vai dar todo suporte. Mas é uma gestão compartilhada. Não podemos entregar 100% da nossa grife, da marca, a um aventureiro qualquer. O fato de ter uma Sociedade Anônima não significa dizer que vai dar certo. Tem candidato que tem Sociedade Anônima e faliu. Agora, como vai querer iludir o torcedor, vender um produto e não conseguir entregar? O nosso plano B, que talvez seja o plano A, é o plano da gestão compartilhada. Eles querem tratar o futebol como se tratassem empresas, com cláusulas de confidencialidade, pelo CADE, aí não se pode declinar, nem divulgar nada. Mas nesse âmbito do futebol, é impossível essa massa de milhões de torcedores não saber o que está acontecendo. Não tem como entregar 100% a um terceiro. Se as vitórias não aparecerem, eles metem o pé e vão embora. A conta vai para viúva, que no caso é o Botafogo. Então a nossa proposta para administrar o Botafogo é a gestão compartilhada”

No ano passado, o Botafogo prorrogou a concessão do Estádio Nilton Santos até 2031. Quais são os planos para rentabilizar o estádio?

“Temos estudos, uma comissão de trabalho nesse sentido, de alterar o objeto de contrato da concessão do estádio. O Botafogo é um concessionário do município. O objeto dispõe que o Botafogo só pode utilizar o estádio para fins esportivos. Nós vamos criar um elemento, aditivar esse objeto, para fins de natureza comercial. Se o Botafogo quiser fazer um show, tem que pedir alvará, autorização. No momento que você torna essa condição mercantil, comercial, você possibilita uma série de investidores, até para atender aquela região do Engenho de Dentro. Você pode fazer um mini shopping, mil coisas para ganhar dinheiro. Isso para o Botafogo seria um ativo de primeira qualidade. O Estádio Nilton Santos é extremamente rentável. Agora, precisa sobretudo ter a condição de modificar, ou seja, criar um aditivo ao objeto da concessão, permitindo que seja explorado para fins comerciais”

E as outras estruturas que o clube possui, como o CT (em construção) e o Mourisco (inativo)? Quais são os planos da sua gestão?

“Nós temos um compromisso, inclusive temos uma pessoa na nossa chapa, o Claudio Abitbol, que ele fez um movimento sobre a piscina do Botafogo, sobre aquele descaso e abandono, temos um compromisso com ele e com todo mundo de recuperar imediatamente a piscina do Botafogo de Futebol e Regatas. Em relação a todas essas situações, o Botafogo é muito grande, então nós temos um propósito chamado Cidade Botafogo. É a reunião de todas essas sedes, como se fosse um gerenciamento de tudo que nós temos. Hoje você não tem informações, as sedes são isoladas, cada uma apartada de uma forma, você não sabe quem toma conta. Tem que concentrar isso. E o mais importante, o dinheiro arrecadado nas mensalidades de sócios, ele tem que ficar no clube. Para recuperar sedes, piscina… esse dinheiro não pode sair, ir para o futebol. Essa rubrica tem que ser destacada, tem que ficar ali, para que o sócio tenha sua dignidade e opinar junto. Esse dinheiro ficando no clube, nós vamos ter possibilidade de, juntamente com os sócios, dizer para onde vão os investimentos. Nós temos que atender os sócios. O sócio é que está pagando. E é um sócio diferente do futebol. Ele frequenta o clube, é aquele que quer ter seu entretenimento, quer estar com a sua família, e ele hoje está largado, abandonado, ninguém dá bola para ele. Só na época de eleição. Vão dizer que estou com discurso político, mas não. Eu já encontrei onde está o dinheiro que não pode sair e tem que ficar na sede. É simples. Aquele dinheiro da mensalidade será destinado como rubrica própria para essa finalidade”

Como você avalia os movimentos que o clube teve no mercado de transferências neste ano, principalmente com as chegadas de Kalou e Honda?

“O Honda foi uma aquisição fantástica, paramos o Galeão, foi uma coisa linda. Uma pena que o marketing do Botafogo não soube explorar o Honda e trazer resultados financeiros para o clube. Isso mostra o descompasso de como funciona o Botafogo. O Kalou, tenho cá minhas dúvidas, porque pela idade avançada dele, vindo numa época de pandemia. Agora, nós nos filiamos a algum investimento de impacto, sim. A torcida precisa disso. A torcida quer títulos, ganhar um Brasileiro, uma Copa do Brasil. E nós temos que sair dessa situação de ficar brigando para não cair. Eu sou de uma época que o Botafogo só me dava alegria. Minhas filhas, três botafoguenses, ainda pegaram um pouquinho, mas não pegaram essa fase. Tudo que elas enxergam do Botafogo é através da torcida, porque no campo nós deixamos a desejar. E vamos, realmente, partir para uma situação mais ousada, buscando investimentos e jogadores que possam honrar o nosso manto”

O Botafogo não vence um título de expressão há 25 anos. Na sua gestão a fila vai acabar ou serão 3 anos com outras prioridades, como a reestruturação financeira?

“Nós vamos compatibilizar. Clube de futebol não é empresa. Em uma empresa você pode fazer um projeto de médio prazo, porque não tem cobrança de ninguém. Ninguém sabe o que está acontecendo. Quando você lida com um clube de massa, a cobrança é no dia seguinte. Não é possível você planejar arrumar o clube e dizer “ah, o Botafogo não deve nada”, mas em compensação vão dizer “você ganhou o que? o que você fez?”. Torcida quer resultado. Quem trabalha, tem que produzir resultado. Eu, vocês, qualquer um. Se não produz, não serve para o mercado. Em qualquer segmento da vida. Vamos ter uma situação agressiva no sentido de buscar títulos, também teremos cautela, mas não podemos pensar em sanear o clube, organizar, até porque você não organiza o clube em quatro anos. Estamos há trinta anos aí e deixaram o clube com terra arrasada. O novo quando chega, para poder dar o fôlego ao torcedor, para que ele suporte o lapso de tempo, ele tem que ter uma alegria. Senão você vai ser apedrejado, mais um no meio daqueles. Nosso propósito tem uma direção, sim: títulos! E outra coisa, para ganhar título tem que ter respeito nas federações. O Botafogo não tem. O Botafogo é escandalosamente tungado nos jogos que assistimos, lamentavelmente é uma realidade. Aí os diretores dizem “vamos fazer uma reclamação”, eles pegam aquela reclamação, colocam na gaveta e pronto. Conosco, não. Isso vai mudar. Temos ferramentas jurídicas que vão funcionar, ainda que sejam feitas por torcedores, mas não vão mais achincalhar o Botafogo. Não vão mesmo. Falar que o Botafogo não tem dinheiro será proibido. Quem tem dinheiro? Temos dois coirmãos que não tem um tostão, mas ninguém fala mal deles. O próprio botafoguense fica se fazendo de vítima, depois quer que ninguém fale? Procura a imprensa para dizer que o Botafogo tá falido, para justificar que eles são os salvadores da pátria. Isso a gente não quer e não vai acontecer”

Segundo Montenegro, o Botafogo está falido. Fechar as portas e recomeçar do 0 é uma possibilidade do futuro, na sua opinião? Você acha que tem chance de isso acontecer?

“É mais fácil qualquer empresa de radiodifusão acabar do que o Botafogo acabar. Isso é impossível, não existe. O Botafogo já viveu época que não tinha bolas, não tinha sede, não tinha nada. Viveu 21 anos (do jejum) sendo um bando de loucos, de torcedores apaixonados botando 30, 40, 50 mil pessoas nos jogos no Maracanã. Isso é coisa de quem tem um discurso à noite e outro pela manhã. Que a toda evidência, ele é repugnante. Nós vamos passar nessa vida e o Botafogo é imortal. Podem ter certeza disso. Não só o Botafogo, mas outros coirmãos também são. Sempre vai aparecer alguém para socorrer, mas não é disso que o Botafogo precisa. O Botafogo precisa se reorganizar, não ficar na mão desses senhores. Acabei de dizer que apresentamos um banco europeu. Esse banco vem da influência de botafoguenses. Outros coirmãos não apresentaram isso. O Botafogo é o clube que tem governadores, prefeitos, o presidente no Rio é Botafogo, mas não é só a influência dos torcedores, é a paixão que eles têm pelo clube. Muita gente está se aproximando com a nossa possibilidade de candidatura, inclusive para investir em Naming Rights e tudo mais. Nós somos apenas candidatos a um pleito, assim mesmo as procuras estão sendo incríveis. Isso é o Botafogo. Lá fora só se conhece Botafogo e Santos. O restante, com todo respeito, fica em segundo plano”

Quais são os planos da sua gestão para o basquete e os esportes olímpicos?

“Nós convidamos o professor Carlos Alberto Lancetta, que foi presidente da Federação de Atletismo, o Botafogo vai voltar a ter Atletismo, tem aquela pista maravilhosa no Estádio Nilton Santos, uma das melhores pistas do Brasil e do mundo, segundo especialistas. Nós fizemos logo um desenho de que a atual administração acabou com o basquete, o vôlei, com tudo. Agora, no apagar das luzes, surgem com essa ideia de sócio torcedor para o basquete. Nós não conhecemos isso. A nossa ideia é incentivar os esportes olímpicos por verba incentivada. Inclusive, temos na nossa chapa o secretário nacional de futebol. Temos autoridades que são sócios do Botafogo e estão na nossa chapa. E que embora não confundam suas atribuições com algum favorecimento, não significa que o Botafogo não tenha nenhuma orientação nesse tipo. As facilidades de prospecção serão múltiplas. O Pinheiros de São Paulo, por exemplo, é um clube que consegue muita verba incentivada. Significa que as portas estão abertas. Vamos reestruturar os esportes olímpicos. Inclusive, ouso dizer que já temos nomes para esses esportes. No vôlei, nós temos a Ana Richa, uma campeã. No basquete, um campeão, ídolo, Arnaldinho. Nós estamos bem servidos de naipes botafoguenses comprometidos com a causa”.

Fonte: ESPN Brasil

Comentários