Técnico do Palmeiras, Abel Ferreira deu uma longa explanação e opinou sobre a questão gramado sintético x gramado natural que domina o noticiário do futebol brasileiro neste primeiro bimestre de 2025. O português afirmou que só há um campo top no Brasil (fazendo referência à Neo Química Arena) e refutou haver vantagem para quem usa piso artificial.
Um dos argumentos de Abel Ferreira é que o Palmeiras e o Botafogo foram campeões brasileiros nos últimos anos (2022-2023-2024) com as melhores campanhas como visitantes.
Leia abaixo o que disse Abel Ferreira:
“Bem, já que toda a gente deu a opinião, também posso dar, não é? Aliás, ela está no meu livro. O que eu vos posso dizer é que… A pergunta que vocês têm que fazer é porquê que, por exemplo, o Atlético-MG, que fez uma arena nova, meteu um gramado novo e depois vai trocar por sintético? Não está em laudo nenhum escrito, cientificamente, que um gramado sintético provoca mais lesões do que um gramado natural ruim”.
“Se você me conseguir dar quatro gramados top, top, top aqui no Brasil, eu até vou mais, três… Se você me conseguir dizer que o Brasil tem três, entendo o Neymar, porque nós já estivemos lá no Mundial e vocês também estiveram lá. Vocês não viram a qualidade da grama? Natural. Melhor que o tapete a que a minha mulher tem lá em casa. Que o carpete que eu tenho lá em casa”.
“Agora, desculpem-me, mas se viesse aqui a Uefa regulamentar ou fiscalizar os gramados do Brasil, passava um. Um. Ou dois. Não sei como é que está o do Juventude. Se viesse aqui a UEFA fazer o que faz a Fifa para regulamentar os sintéticos, aqui no Brasil passava um. Mas eu não tenho dúvida. Se me pergunta, eu gosto de tudo natural. É o que eu mais gosto. Agora, não há como. Aqui no Brasil, sabem quantas vezes eu já joguei no Maracanã? E não tenho nada a ver. Maracanã, um dos estádios mais míticos a nível mundial. Sabem quantas vezes lá joguei? Umas quatro ou cinco vezes. Sabem quantas vezes o gramado estava médio? Zero. Joguei lá uma vez com o gramado mais ou menos sabem quando? Final da Libertadores. Quando a Conmebol disse ‘vamos parar isso. Preciso de um mês para compor o gramado’. Coisa que fizeram na última Libertadores, que foi feita lá com o Fluminense. Que houve discussão com o Flamengo, que não queria ficar sem jogar em casa”.
“Porque o problema das lesões não é o gramado sintético. O que acontece no gramado sintético, e falo por experiência própria, em termos de articulação, sofre-se mais. Mas há uma coisa, ele é uniforme. Não tem buracos. Ninguém me vai levar a mal se eu disser, quando vamos ao Castelão, eu só peço para os meus jogadores nem torcerem os pés. Quando vamos jogar ao Maracanã, peço a Deus que… Ainda agora, vejam o que é que disse o treinador do Flamengo, em relação ao campo duro. Vejam o que disse o Thiago Silva, que teve que sair ao intervalo porque era duro. Aqui a questão não é sintético, é natural. É competência e qualidade e rigor. Porque quando nós falamos do gramado da Europa, eles investem, há regulamentos, há fiscalização, há reuniões antes com diretores que vão fiscalizar, e quando aquilo não está como deve estar, são multados os clubes. Há um investimento forte”.
“Eu só quero que vocês me digam quais são os gramados top no Brasil. É isso que vocês me têm que dizer? Top? Diga-me um gramado top. Tem um, que eu não vou dizer de quem é, que já disse 500 vezes. Façam-me todos igual àqueles. Se fizer todos igual, top. Só que isso é tudo mentira, não fazem. Nem vão fazer. E a pergunta é… Por que é que os clubes estão a passar por gramados sintéticos? Eu digo-vos por quê. Não tem condições um gramado natural acompanhar a densidade de jogos que tem aqui no Brasil. É impossível. Como é que vai num Maracanã, jogam Vasco, Fluminense e Flamengo, um gramado natural aguentar? É impossível. Eu preferia lá ir jogar e ter um gramado sintético”.
“E depois, bem, “mas é tirarmos vantagem”. Quando o Palmeiras ganhou um dos campeonatos, nós fomos o melhor visitante, não foi mandante, visitante. O ano passado o Botafogo foi campeão, foi dos melhores visitantes. Esqueçam isso. Eu sou a favor da qualidade. Sabe o que é top, top, top, top? Porque se eu tiver a dizer que um gramado top… Ainda agora estava a ver o Pacaembu. Top. É uniforme, verdinho, não tem buracos, a regra é feita. Eu queria era que fosses… Agora há um, dois gramados. Porque se vier aqui a mesma fiscalização que a FIFA faz aos gramados sintéticos, se viesse a UEFA, que é a UEFA que faz isso, fiscalizar os gramados… Vocês sabem. E isso é como andar, como eu ter uma Ferrari e andar numa pista toda esburacada. É o que acontece aqui no Brasil”.
“Portanto, parabéns aos jogadores. Eu concordo com os jogadores. Adoro quando os jogadores se unem em torno de uma causa. Estão a falar dos gramados, está tudo certo. Falem dos salários em atraso, falem do fair play financeiro, falem da profissionalização dos árbitros, falem do gramado, está certo. Não tem problema nenhum. Juntem-se e falem. Porque deixem-me dizer isto aqui a todos. Porque eu também estou no Brasil já há cinco anos. Já posso ser brasileiro, certo? Já posso pedir o passaporte, não já? Pelo menos já me disseram que podia pedir. Quando quisesse, que tenho direito. Então vou falar dos cinco anos que eu estou aqui. Toda a gente fala, mas fazer bola. Aqui falo eu, falam vocês. Quando é preciso fazer as coisas, tomar decisões e fazer alterações naquilo que tem que fazer ao futebol, zero. Em cinco anos que estou aqui, quais foram as mudanças que se fez? Que mudanças fizeram? Zero. Mas vocês são uma parte fundamental nisto, juntamente com esse grupo de jogadores que se uniram. E jogadores como Neymar, jogadores como Rocha, jogadores como Veiga, como o capitão de Fluminense que me esqueci agora. Tem que se unir. O sindicato de jogadores tem que falar. Não é omitir-se. Falar. De tudo. Se tens salários em atraso, tem que denunciar salários em atraso. É assim que tem que ser. E eu adoro quando as pessoas se unem em torno de uma causa. Sabem qual é a causa maior de tudo e de todos? É o futebol brasileiro. Eu amo isso. Só que nós não saímos daqui. É um tema bom. Vai-vos dar cliques. Vai, toda a gente vai falar. O treinador de Palmeiras também falou. Amanhã vão fazer manchetes daquilo que o treinador do Palmeiras disse. Mas no fim, fazer coisas, passar para a ação, zero. É o que acontece. Mas está certo. Seguimos, assobiamos para o lado e amanhã há de haver outro tema”.