Um dos jogadores mais experientes e líderes do elenco do Botafogo, Alex Telles participou nesta segunda-feira (4/8) do programa “Sem Censura“, da “TV Brasil“, apresentado por Cissa Guimarães. O lateral-esquerdo repassou a carreira, recordou com foi sua transferência em cima da hora para o Glorioso e recordou uma passagem interessantes sobre a final da Libertadores em 2024.
Telles contou que, na véspera do jogo com o Atlético-MG em Buenos Aires, perdeu três pênaltis consecutivos no treinamento. O trabalho mental foi crucial para que ele seguisse confiante e, na histórica decisão, marcou o segundo gol do Fogão.
– Depois eu vejo esses lances e falo: “Cara, realmente eu fui corajoso”. Porque é um momento delicado. E o engraçado é que um dia antes eu sempre faço treinamento de falta, de pênalti, em todos os jogos. E um dia antes da final, eu fiz um treino de pênalti e eu errei três pênaltis seguidos. Eu não gosto de sair quando eu erro, só que eu estava com uma confiança tão grande que ia fazer um gol na final… Não sei se ia ser de pênalti ou não. Eu errei os três pênaltis, eu lembro que o John pegou dois um eu bati na trave. Quando bati o terceiro e errei, eu falei: “Cara, eu errei hoje, mas vou fazer amanhã.” E saí tranquilo, e não deu outra – contou Telles.
– Quando deu o pênalti, eu faço trabalho psicológico também, tenho uma psicóloga que é maravilhosa, que me ajuda desde a época da Copa do Mundo. A gente fez a mentalização dois dias antes, um dia antes. Ela falou assim: “Mentaliza como você quer o pênalti. No jogo, os movimentos que você quer fazer, o estilo de jogo que você quer ter, como você quer se sentir.” Então, eu fiz essa mentalização antes do jogo e realmente ajuda muito, porque é uma carga muito grande emocional – completou.
Outro momento curioso do bate-papo foi quando ele contou que conversou com John Textor sobre ir para o Botafogo pelo telefone com os dois de roupão – o lateral curtia uma folga numa ilha com a esposa.
– Eu não tinha intenção de voltar para o Brasil, porque já estava muitos anos fora. Ele [Textor] me ligou e eu falei: “Como é que vai ser esse projeto?” Ele me explicou, queria muito eu aqui, é uma coisa que valeu a pena. Ele atendeu de roupão, eu também estava de roupão, porque estava numa ilha. Foi uma situação engraçada. Ele estava querendo muito a minha vinda para o Brasil. Pedi algumas horas para pensar, um ou dois dias. Conversei com minha esposa, com meu pai, com a minha família, e acabei decidindo voltar para o Brasil depois de 10 anos – relatou.

Alex Telles presenteou Cissa Guimarães com uma camisa 13 do Botafogo e, ao responder uma torcedora que pedia para que ele não saísse do clube, afirmou que é muito feliz no Glorioso:
– Não tem nem como sair. Eu me sinto em casa, é o clube que está no meu coração e estou muito feliz aqui, pode ter certeza.
Veja as respostas de Alex Telles no ‘Sem Censura’:
VINDA APRESSADA PARA O BRASIL
“Minha vinda para o Brasil foi realmente da noite para o dia, porque eu estava fora já faziam 10 anos. Lá tem um limite de estrangeiros que pode ter na equipe, se não me engano eram oito, eles queriam contratar mais jogadores para a próxima temporada e, entre aspas, alguém tinha que sair. Eu não seria esse jogador que sairia naquele momento. Meu empresário me falou que eu iria ficar, minha esposa na época estava grávida. Eu estava naquela situação de, se eu for embora, me avisa com antecedência, tenho filho pequeno, minha esposa grávida e eu preciso me organizar. No último dia, 31 de agosto, que fecha a janela de transferências, me ligaram às 17h que eu teria que mudar de clube, porque teria um limite de estrangeiros e eu fui escolhido para sair. A partir dali minha vida virou do avesso. Eu estava numa ilha, porque a gente tinha ganhado uma folga, estava descansando. Fiquei desempregado do dia para a noite praticamente, sem clube. Conversei muito com a minha esposa, liguei para o meu pai, que é sempre muito decisivo na minha carreira… E aí do nada meu empresário falou: “Oh, o John Textor quer te ligar. Qual que é tua previsão de voltar para o Brasil? Eu não tinha intenção de voltar para o Brasil, porque já estava muitos anos fora, com 20 anos fui morar na Turquia sozinho, acabei tendo que amadurecer fora, em culturas diferentes, conhecendo pessoas diferentes. E aí eu tive que decidir essa escolha. Ele me ligou e eu falei: “Como é que vai ser esse projeto?” Ele me explicou, queria muito eu aqui, que é uma coisa que valeu a pena. Ele atendeu de roupão, eu também estava de roupão, porque estava numa ilha. Foi uma situação engraçada. Ele estava querendo muito a minha vinda para o Brasil. Pedi algumas horas para pensar, um ou dois dias. Conversei com minha esposa, com meu pai, com a minha família, e acabei decidindo voltar para o Brasil depois de 10 anos. Inclusive no dia seguinte era o aniversário da minha esposa, a gente teve que cancelar o aniversário, porque já tinha gente para chegar lá. Cancelamos, arrumamos as malas e no dia seguinte já viemos para o Brasil. Tinha dois cachorros que acabaram ficando lá por um tempo e depois vieram para cá.”
TÍTULOS DE 2024
“Foi um meio ano, porque eu cheguei em agosto, um dos mais intensos da minha carreira. Porque depois de voltar pro Brasil, para mim era novo novamente, eu tinha jogado em 2013 no Brasil. E eu já volto com outra cabeça, volto casado, com dois filhos, com uma outra vivência. E com nome também, que eu construí lá fora. E aí eu voltar para cá, ser valorizado da forma como fui valorizado, chegar como praticamente um dos líderes do grupo, podendo ajudar de uma certa forma. E eu entrei num momento da temporada muito crucial, estávamos na fase final da Libertadores e na fase final do Brasileiro. O clube estava muito sedento por essas competições, porque faziam 30 anos que o Botafogo não conquistava um título. Já tinha um sentimento tanto dos atletas, do staff, da torcida principalmente, a responsabilidade era alta. Todos os meus companheiros me abraçaram de uma forma magnífica, eu me senti em casa desde o primeiro dia, morar no Rio de Janeiro é maravilhoso… Foram seis meses de alto nível e que eu vou levar para minha vida inteira.”
JANTAR ANTES DA FINAL DA LIBERTADORES
“É uma carga emocional muito grande. Era um título inédito, estava todo o clube se movimentando em prol dessa competição. Nós tínhamos um adversário também que era competente. Uma forma de liberar esse estresse de certa forma, e o nosso maior conforto é a nossa família. Na época nosso treinador Artur Jorge, o staff todo, tiveram essa brilhante ideia de levar os familiares para a Argentina, a gente também levou todo mundo para lá. Teve um jantar dois dias antes da final no hotel, tivemos um momento com a família, com os filhos, teve um grito coletivo…”
PÊNALTI NA FINAL
“De vez em quando eu paro em casa e boto de novo para assistir, porque realmente é um dos top 3 momentos da minha carreira, se não o melhor. Já vem todo esse peso psicológico de ser importante para o clube, e se tu parar para pensar, olhar para cada rosto na arquibancada, é um sonho que está ali, é uma família que está ali querendo vencer. É uma expectativa que é criada em cima de ti também, de quem está dentro de campo. Só que no momento, assim… A gente treina todos os dias para isso, eu jogo futebol desde os meus seis anos de idade. Claro que a pressão vai aumentando e a responsabilidade vai aumentando de acordo com os anos. No momento do jogo, com a adrenalina, obviamente que eu me sinto preparado. No momento em que foi chamado o VAR para dar o pênalti eu já esqueci da decisão, peguei a bola e fui concentrar, fui lá fazer minha mentalização. É um momento que eu sabia que ia ficar marcado tanto na minha carreira, quanto na memória dos torcedores. E eu só tinha que, entre aspas, dar o meu melhor e fazer o meu melhor, como eu tinha treinado. Só que depois eu vejo esses lances e falo: “Cara, realmente eu fui corajoso”. Porque é um momento delicado. E o engraçado é que um dia antes eu sempre faço treinamento de falta, de pênalti, em todos os jogos. E um dia antes da final, eu fiz um treino de pênalti e eu errei três pênaltis seguidos. Eu não gosto de sair quando eu erro, só que eu estava com uma confiança tão grande que ia fazer um gol na final… Não sei se ia ser de pênalti ou não. Eu errei os três pênaltis, eu lembro que o John pegou dois um eu bati na trave. Quando bati o terceiro e errei, eu falei: “Cara, eu errei hoje, mas vou fazer amanhã.” E saí tranquilo, e não deu outra. Quando deu o pênalti, eu faço trabalho psicológico também, tenho uma psicóloga que é maravilhosa, me ajuda desde a época da Copa do Mundo. A gente fez a mentalização dois dias antes, um dia antes. Ela falou assim: “Mentaliza como você quer o pênalti. No jogo, os movimentos que você quer fazer, o estilo de jogo que você quer ter, como você quer se sentir.” Então, eu fiz essa mentalização antes do jogo e realmente ajuda muito, porque é uma carga muito grande emocional.”
SAÚDE MENTAL
“É uma das questões que eu converso muito com as pessoas quando falam sobre essa questão de que parece que sempre estamos muito bem, sob controle. As pessoas sempre veem a gente no estádio, jogando, dando entrevista, e elas não veem os bastidores no dia a dia. A gente é ser humano, tem dias que às vezes eu acordo e meu corpo não está querendo treinar, mas eu preciso ir lá treinar porque é a minha profissão, é a minha responsabilidade. E eu amo o que eu faço. Tem dias que realmente a gente está com uma dor aqui, uma dor ali, precisa ter um tratamento, precisa falar sobre certos assuntos…”
JOGAR A FINAL COM UM A MENOS
“Foi isso que deu um gostinho maior de conquistar esse título. O Gregore era um dos principais jogadores nossos ali, era um cara muito importante no nosso sistema defensivo. Então, com 30 segundos, ele foi expulso. E a partir desse momento em que ele é expulso, você fica nuns 30 segundos assim: “E agora? O que vai acontecer?” A gente meio que se olhou dentro de campo, a gente viu que o jogador já estava sangrando na cabeça e a gente sabia que ele ia ser expulso. Então, a partir desse momento, você já começa a mentalizar o que vai ser dali para frente. A gente olhou para o treinador, o treinador já começou a redefinir a equipe. Só que ele foi muito inteligente naquela estratégia, porque ele não mudou, ele continuou com a mesma formação, só baixou um jogador da frente para trás e a gente tinha um esquema montado. O Marlon, que é o nosso capitão, reuniu todo mundo dentro de campo e falou uma frase que eu nunca me esqueço: “Para o Botafogo sempre foi mais difícil que para os outros, e se aconteceu dessa forma é porque a gente vai ganhar. Vamos correr pelo Gregore, pelo jogador que está faltando. Vamos nos unir aqui que a gente vai vencer.” E a partir daí a gente meio que bateu as mãos ali e saímos como se a confiança tivesse redobrado. E logo em seguida a gente fez o primeiro gol e depois veio o pênalti, enfim…”
VITÓRIA SOBRE O PSG NO MUNDIAL
“Infelizmente o brasileiro às vezes não valoriza o que é de dentro, só valoriza o que é de fora. E a gente estava saindo do Brasil para representar, junto com as outras equipes brasileiras, o Brasil no Mundial. E muita gente daqui falando que a gente ia ser goleado, que a gente não ia fazer um bom papel… E eu vi todas as equipes brasileiras fazendo um grande papel. O Botafogo foi lá e venceu o campeão da Champions League. Esse jogo contra o PSG, inclusive, a gente tratou como uma final, porque era o atual campeão da Champions League, é visto como o melhor time do mundo hoje em dia. E a gente estava indo para lá para sermos praticamente os franco-atiradores, para não tomar de 3, de 4. A gente entrou no jogo com a nossa identidade, com a forma de jogar, lutou até o fim. Esse jogo foi realmente histórico para o clube e foi o jogo que nos deu a classificação para as oitavas de final. A gente entrou com olho no olho com o Paris, só que no início do jogo foi complicado, porque eles têm muita qualidade. Eles tiveram três ou quatro chances com 10 minutos de jogo, mas a gente sempre sabe que os primeiros 10, 15 minutos, se tu joga na casa do adversário, eles vêm sempre com muita força. Se tu conseguir neutralizar esses 15 minutos, aí eles baixam um pouco a pressão e tu começa a entrar no jogo. A gente sabia que os primeiros 10, 15 minutos seriam importantíssimos. E a gente conseguiu suportar bem isso. E a partir do momento que a gente conseguiu suportar bem, uma das maiores características do nosso time é o contra-ataque, é defender bem e sair rápido. Então, numa jogada dessa, foi o gol do Igor Jesus. A gente recuperou uma bola no erro deles e fez 1 a 0, e a partir daí a gente falou: “Cara, dá para a gente ganhar. Agora é fechar. A gente ganhou a Libertadores com 10 jogadores, agora com 11 a gente vai se fechar aqui e vai dar vida para não perder”. E foi dessa forma. Foi um jogo maravilhoso, memorável. E o Botafogo foi visto no mundo inteiro.”
VOLTA À SELEÇÃO
“É um sonho disputar outra Copa do Mundo. [Na Copa do Mundo de 2022] eu tive um trauma no jogo contra Camarões. Foi uma bola alçada na área, fui cabecear e o jogador de Camarões veio com muita força no meu corpo e na hora da batida eu acabei torcendo o joelho e tive uma lesão no ligamento colateral medial. Mas a minha história com a Seleção é muito boa, porque fui convocado pela primeira vez em 2018. Então já são aí seis ou sete anos de Seleção Brasileira. Para mim é um privilégio poder passar o processo pós-Copa de 2018. Fiz parte da Copa do Mundo de 2022, que é um sonho de todo jogador. É um sonho que eu realizei, e eu tenho esse sonho de ir para mais uma Copa, porque hoje sou um jogador mais experiente, tenho mais rodagem para poder encarar esses momentos. Para ser sincero, eu nunca imaginei que chegaria no nível que eu cheguei, sempre fui escalando degrau por degrau. Meu sonho primeiro era chegar no profissional, depois queria chegar num clube de visibilidade para chegar numa Série A, aí depois fui para o Grêmio. Aí eu queria jogar na Europa… E fui indo, a partir do momento em que cheguei num clube grande da Europa queria chegar à Seleção Brasileira. Então, sempre foi um passo de cada vez, eu sempre faço isso na minha vida, E o meu próximo passo com certeza é continuar ganhando com o Botafogo e voltar para a Seleção Brasileira.”
CICATRIZ NA CABEÇA
“Foi uma lesão que eu tive em 2003. Muita gente acha que é corte, mas ela é a cabeça inteira. São 70 pontos. Foi um choque cabeça com cabeça num Gre-Nal em 2013. Foi em Caxias do Sul, minha família estava assistindo e foi um trauma para todo mundo. Eu fiquei três meses fora do futebol e eu tive que fazer essa operação. Como eu afundei a testa e quebrei o nariz desse lado, eu tinha que ou fazer um corte no rosto ou abrir na cabeça inteira. Eu optei na época por fazer na cabeça, porque o cabelo esconde. Virou uma marca da minha carreira.”
PENSA EM SER TREINADOR?
“Eu não sei se técnico em si, mas trabalhar com futebol sim. Eu me vi no futebol desde os meus 6 anos de idade, é o que eu sei mais fazer. Estudei por um bom período, porque se não desse certo na carreira, fiz faculdade de Educação Física. Não me formei, mas uma coisa que meus pais sempre me falaram para não deixar os estudos de lado. Cursei dois semestres de Educação Física e depois tive que trancar porque eu fui para Porto Alegre jogar no Grêmio. Sempre tive esse estudo para poder também ter uma virtude fora também do futebol.”
GOSTO PELA MÚSICA
“Com oito anos eu ganhei de amigo secreto de um primo um violão. E a partir daí eu comecei a fazer aula de violão com um primo meu, ele me ensinou o básico. Muita gente fala que eu sou autodidata, que eu gosto de aprender, e eu gosto mesmo. Toco o violão desde os oito anos e fui aprendendo sozinho. Percussão eu sempre tocava na escola, na mesa, com caneta, e hoje toco surdo, cavaco, tantã, pandeiro, reco… A música sempre foi presente na minha vida, sempre tive familiares músicos também. A Vitória, minha esposa, é cantora e compositora. Minha filha já acorda de manhã e canta… Sempre escuto muita música antes de jogo. Sou um cara que gosta muito de MPB, escuto Djavan para caramba… Se olhar minha playlist eu tenho de tudo, MPB, rock, samba, pagode… Muita coisa. Gosto de escutar muitas coisas, depende do dia. Eu sou muito da melodia que toca, que faz o cara arrepiar. Tem a melodia, estou escutando.”
NÚMERO 13
“Eu usava o 6 por ser lateral-esquerdo, e quando fui para o Grêmio eu pedi quais números tinha disponíveis. E no Grêmio tinha entre elas a 13. Até então não tinha algo especifico, mas meus pais têm datas especiais, eles se casaram no dia 13. Eu sou de família católica, sou católico e devoto de Nossa Senhora de Fátima, que é 13 de maio… Eu cresci vendo a imagem dela no meu quarto que meus pais sempre deixaram lá para mim, minhas orações sempre foram para ela. É um número que para mim me acompanha, em todos os clubes que eu passei tem esse número. E a partir desse momento, os momentos importantes sempre foram no dia 13. Eu cheguei no Porto para assinar o contrato no dia 11, deu um problema no contrato, fui assinar no dia 12, não consegui assinar e só assinei no dia 13. Então são coisas que realmente fazem sentido para mim.”