Perto de sair do Botafogo, apesar de ter contrato até o fim de 2025, Artur Jorge lembrou como foi a chegada ao clube. À época treinador do Braga, ele se encontrou com John Textor em um jantar e rapidamente percebeu que seu caminho seria no Glorioso.
– Foi muito fácil. Tivemos uma conversa pessoal. Ele veio a Portugal propositadamente para jantar comigo. (Foi o jantar em Matosinhos?) Sim, em que, curiosamente, falamos pouco de futebol. Estivemos umas três, quatro horas a conversar, mas não sobre chavões relacionados com táticas, modelos de jogo ou jogadores. Seria demasiado redutor. Falamos sobre as nossas vidas pessoais, sobre temas que estavam na altura a acontecer pelo mundo fora. Foi uma boa forma de nos conhecermos, de perceber que tipo de relação podíamos ter para, depois, aí sim, abraçar um projeto desportivo de sucesso. Foi tudo muito fácil. A partir dessa conversa, tomei uma decisão imediata e disse: “O meu futuro passa pelo Botafogo e já” – descreveu Artur Jorge, ao site “Mais Futebol”.
O jantar, porém, irritou o presidente do Braga, António Salvador, o que Artur Jorge não leva tanto em consideração.
– Por vezes, há quem tenha dificuldade em olhar para dentro. Eu era treinador do Sporting Braga e soube que havia conversas com outros treinadores, até já para questionar sobre alguns jogadores (reforços). Isto acontece no futebol. A minha decisão estava tomada e era sair para o Botafogo. Logo após ter vencido um título no Braga, disse que poderia ser ali o momento em que fechássemos ali um ciclo. Não há timings perfeitos. Não concluir a temporada em Portugal abria a possibilidade de começar a temporada no Brasil – explicou Artur.
– O presidente do Braga quis fazer uma manobra de diversão. Tudo para que a verdade não fosse toda contada. O treinador que veio para me substituir (Daniel Sousa) estava já contratado ou pelo menos apalavrado. Foi uma forma de minimizar o meu trabalho. Isto faz parte do futebol, mas é o lado de que menos gosto. O presidente falou muitas vezes com outros treinadores, umas para poder sondar, outras para falar sobre jogadores. O importante é estarmos seguros do que fazemos e do que somos. Tive um jantar com Textor, falamos e o futuro acabou por ser decidido no imediato, face à vontade de ambas as partes – acescentou.
O treinador lembrou ainda que sua saída rendeu financeiramente ao Braga.
– Eu fui comprado. O Botafogo pagou por mim. Dei um título ao Braga, conseguimos dois terceiros lugares no campeonato, a presença na Liga dos Campeões e ainda rendi dinheiro. Fui um ativo altamente rentabilizado pelo clube – gaba-se Artur Jorge, que não lamenta a forma que saiu.
– Não lamento nada. Ninguém tem de fazer aquilo que não quer fazer. O Braga é a minha casa. Estou no Braga desde os 12 anos, passei lá mais de metade da minha vida. A minha gratidão é muito maior do que qualquer lamento. Sou eternamente grato ao Braga, pelas oportunidades que me deu. Isso nunca será apagado. Da mesma forma, não será apagado o meu nome, que está na história do Braga – concluiu.