Artur Jorge deu entrevista à Botafogo TV nesta sexta-feira (25/10), em um longo bate-papo após a goleada por 5 a 0 sobre o Peñarol no jogo de ida da semifinal da Libertadores, e na véspera do duelo com o Red Bull Bragantino pelo Campeonato Brasileiro. O treinador português destacou a conexão com a torcida na temporada 2024 e a construção de mentalidade vencedora no clube.
– Este de fato é um momento importante para todos nós, uma vez que devemos compartilhar com todos que contribuem diretamente para que é o Botafogo. A face mais visível é o resultado, o jogo, mas temos que estar satisfeitos por estarmos a contribuir diariamente para o crescimento do Botafogo. Há seis meses, quando cheguei, falei sobre caminhada de sucesso. Cada vez mais se mostra que foi uma aposta certeira, aquela que eu tive também, para poder fazer parte desse grandioso clube, poder lutar por objetivos maiores. Foi o nosso compromisso, o meu compromisso acima de tudo. Foi a conversa com os aletas, para definirmos metas, objetivos alcançáveis. Nessa altura, estamos com dois grandes objetivos, temos que lutar por eles, mas o balanço é muito positivo. O que mais tem me surpreendido é a paixão dessa torcida, que me tem feito viver momentos que nunca vivi, nem como jogador nem como treinador. Tem sido de uma intensidade e energia contagiantes, positivas. Espero que assim seja, porque é importante termos essa caminhada, que se iniciou e vai terminar, esperamos nós, com títulos, em conjunto, pela muito importante contribuição dela no nosso trabalho e no nosso desempenho – afirmou Artur Jorge, que no último jogo chamou torcedores para estarem presentes na preleção.
– De uma forma geral, considero importante olhar para aspectos do bem-estar dos atletas. Não só bom preparo físico, estar bem preparado, se não estiver com sanidade mental, bem com si próprio, será difícil rentabilizar. Sei o que somos expostos, por experiência acumulada, é extremamente difícil o papel que ocupamos. Falei da torcida, de momentos positivos, temos vivido momentos impagáveis, mas resulta de grande exposição, que tem lado bom e lado menos bom. Por isso tenho preocupação genuína com o bem-estar dos atletas, com a sanidade, com problemas que possam afetar rendimento. Tenho tido esse cuidado para ter gestão de pessoas. É importante a equipe, mas também o grupo de homens. Nós nos inspiramos em muitas coisas. Na qualidade do líder, temos que procurar o que é o incentivo, a inspiração, pode ser uma música, um livro, uma história de vida. Minha iniciativa vai ao encontro do que estou a falar. Vejo dentro e fora do estádio uma torcida apaixonada, com mil histórias para contar, mas nunca se nega o compromisso, a paixão, o que demonstram para que uma equipe e seus sacrifícios sejam diários. Fiz questão de no último jogo em casa poder ter alguma representação dessa torcida. Em um dos momentos de preleção, pedi que escolhessem pessoas que nos representassem dentro dos valores que temos no dia a dia, de superação, família, paixão. Tivemos uma representação aleatória para mostrar que não jogamos só para nós, carregamos o sonho e a ambição de muita gente nas costas. Importante trazer nesse momento especial da história do clube para ter mais motivação e estímulo, uma equipe unida à sua torcida, por um objetivo que é do Botafogo – acrescentou.
– Temos uma torcida que de fato mostra sua paixão nos jogos. Tenho sentido carinho grande por parte de todos eles, tem me dado muito conforto, ajudado a superar a distância do meu próprio país e da minha família. Faz nos sentir com propósito, com algum sentido. O Botafogo de fato é o termômetro por nossa felicidade ou infelicidade, podemos contribuir com alegria. Sabemos que a vida não é fácil, temos todos que lutar por nossos objetivos, mas este é o momento que carregamos 30 mil, 40 mil, 50 mil, 60 mil, que às vezes estão no estádio e fazem aquele jogo ser o momento mais importante para eles. Procuramos passar a alegria através do resultado – explicou o treinador.
Artur Jorge trabalha internamente pela evolução do elenco e pelo fortalecimento da mentalidade vencedora, evitando falar sobre o time “ter sua cara”.
– Já teve a minha cara quando perdemos para LDU e Cruzeiro, nos dois primeiros jogos. O que precisamos foi lavar essa cara. Quando fazemos essa metáfora, para mim, desde o primeiro momento, ficamos claros sobre o projeto, metas, ambições, metodologia do treino, comportamento em campo, responsabilidade com o clube. Tudo que tive na primeira conversa com atletas foi determinar linhas que seriam conduzidas. Obviamente nesse caminho temos que fazer menos obstáculos para ser mais limpo. Conseguimos ter performance. Se no início nós tivemos a ideia definida mas nos faltou entrosamento, entendimento, hoje, havendo margem para crescer, desafio meus atletas para evoluírem, porque temos metas para a frente, é melhorar. É importante ter essa mentalidade, para que não haja conformismo, comodismo, mas que possa sempre se crescer mais. É minha missão desde que cheguei. A evolução tem sido constante. Não existe ninguém que possa crer mais ou ter mais ambição que nós, que trabalhamos e damos a cara pelo Botafogo diariamente. Podem ter o mesmo que nós. Nós cremos muito mais, é nesse sentido que trabalhamos – salientou.
– Temos tentado fazer que essas metas que temos sejam de clube grande, de equipe grande, que possamos sentir diariamente a pressão. Fizemos há dois dias um jogo de semifinal da Libertadores, ganhamos com margem confortável, mas viramos o foco para o jogo com o Red Bull Bragantino. Não há tempo para desfrutar de euforia. Temos a responsabilidade de ter os pés fincados na terra, a responsabilidade de saber que projeto ainda está longe do fim, percebendo e vivendo os momentos bons. Não somos de ferro. Vivemos os momentos bons, ficamos orgulhosos, mas temos que virar o chip para treinarmos no dia seguinte. Ontem chovia muitíssimo e estávamos a trabalhar porque o objetivo está no jogo de sábado. Isso faz haver mentalidade ganhadora, jogadores não se cansarem de ganhar. Digo muitas vezes aos nossos jogadores não se cansem de ganhar. Por vezes, quando parecemos que estamos em patamar alto, a vitória deixa de ter o mesmo valor. Tem que ter sempre esse mesmo valor, temos que lutar em todos os jogos. Quando temos resultado que não gostamos, não há outra forma que não seja mudar a mentalidade para o jogo seguinte. É um processo, um trabalho feito, felizmente temos jogadores com muita ambição, que já ganharam muito, outros não, essa diferença faz haver um objetivo comum em favor do Botafogo para conseguir colocar esse clube no lugar que merece – completou.
