Auxiliar do técnico Abel Ferreira no Palmeiras, João Martins deu detalhes do jogo psicológico do treinador nas entrevistas coletivas quando o Botafogo estava com larga vantagem na liderança do Campeonato Brasileiro. Não se tratou de elogios puros, mas sim de tentar jogar a pressão para o lado alvinegro. E o pior é que, pelo visto, funcionou.
– Foi engraçado porque quando a distância abriu muito, o Abel começou a passar o discurso: “Vou dar-nos como fora do título, só para tentar que o Botafogo comece a sentir mais pressão de ser líder. Sempre que me perguntarem, eu vou dizer que o Botafogo é o grande candidato, que o Botafogo tem tudo para ganhar, que o Botafogo só depende dele”. Porque sabíamos bem o que nos custou, no ano passado, sermos consistentes. É preciso saber estar na frente, lidar com a pressão, saber lidar com a visibilidade, com essas coisas todas de quem ganha. Sabíamos que era um clube que não ganha há muitos anos. A verdade é que estava com tudo para ganhar e com grande, grande, grande distância. O Abel disse isto, se calhar, há três ou quatro meses. O mais engraçado é que os jogadores partilhavam muito isso: “João, você vai ver que eles vão começar a escorregar, vão começar a perder pontos” – contou Martins ao jornal português “Tribuna Expresso”.
João Martins contou detalhes de como Abel Ferreira planejou o Campeonato Brasileiro para tentar tirar a grande distância para o Botafogo, que chegou a ter 13 pontos de vantagem e terminou na quinta colocação, seis pontos atrás do Palmeiras.
– Todos os anos usamos uma história para toda a competição. A história deste ano era o Monopólio. A imagem do nosso meeting antes do jogo era o Monopólio, cada casinha é cada jogo. O Abel começava sempre a dizer “ainda vai passar muita água nesta ponte”, que era a reta do Monopólio. O mais engraçado é que no final da reta, no final do retângulo há a curva, e ele dizia: “A ver se eles não se despistam nesta curva” [era o Botafogo x Palmeiras, que ficaria 3-4 depois de ter estado 3-0 ao intervalo]. O mais engraçado é que foi nessa curva que começámos a ficar a dois pontos, três pontos. Quando passámos para a frente, ele disse: “Vamos tirar o retrovisor do nosso carro, só interessa nós contra nós. Se formos mais rápidos do que quem vier atrás não nos vão apanhar”. Ele dava sempre o exemplo do Verstappen, que concorre sempre contra ele próprio. Ele gosta muito de desportos motorizados porque o pai é mecânico. Esqueçam quem vem atrás, é nós contra nós – revelou o auxiliar.