O futebol é farto em nos oferecer falsas verdades.
E a subida de produção do Botafogo na Série B do Brasileiro mostra o perigo das análises apaixonadas.
Há um mês, os próprios alvinegros sentenciavam seus dirigentes e jogadores pelo que julgavam ser um péssimo trabalho.
Da montagem do elenco à escolha do treinador – passando, evidentemente, pela qualidade individual do time.
Hoje, nove jogos depois, percebe-se o quanto houve de precipitação no julgamento de um trabalho em fase inicial.
Porque não é fácil construir um time em meio a um calendário tão nocivo e injusto.
Confunde-se montagem de elenco com formatação de equipe.
E não é assim.
As dificuldades são muitas, a começar pela heterogeneidade provocada por jogadores pouco afamados, vindos de diversos pontos, de distintas realidades.
E sob o olhar desconfiado de quem tem pressa.
Num clube sem recursos financeiros, com passado glorioso a carregar e sem tempo disponível para os ensaios, a missão é das mais cruéis.
A perna pesa, o pensamento trava, a ansiedade domina e os questionamentos externos e internos potencializam a baixa da autoestima.
E só com o tempo de trabalho contínuo é possível se enxergar as virtudes – individuais e coletivas.
Exatamente o que começa a acontecer no Botafogo.
A troca no comando técnico, anunciada no chamado “Dia do Amigo” (20 de julho), aquietou os corações botafoguenses.
Mais do que isso: renovou as expectativas e o projeto de montagem de um time competitivo pôde seguir seu rumo.
Talvez, a falsa impressão de que o elenco do Botafogo não fosse capaz de carregar o peso da missão de retornar à Série A tenha enganado até o técnico Lisca.
Era ele o escolhido para ocupar o lugar de Marcelo Chamusca, demitido com 43,3% de aproveitamento após o 3 a 3 com o Cruzeiro, na 10ª rodada.
O gaúcho, porém, se deixou levar pela falsa verdade de que o Vasco possuía um elenco mais capacitado.
Tomou o rumo de São Januário e deixou as portas abertas para Enderson Moreira.
Sob o comando dele o time do Botafogo amadureceu.
Primeiro, por jogar compactado de forma a não oferecer espaços aos adversários.
Depois, por ter três ou quatro formas de chegar ao ataque sem se desorganizar defensivamente.
O aproveitamento de 81,5% em nove jogos (sete vitórias, um empate e uma derrota) expressa a eficiência, mas ainda não garante o acesso à Série A.
É preciso estar atento às falsas verdades…