Carlos Leiria foi o escolhido no início de 2025 para ser treinador interino no Botafogo. Após acumular funções de técnico sub-20 e sub-23, ele assumiu o profissional que viveu um começo de temporada turbulento, não teve bons resultados e perdeu a Supercopa do Brasil para o Flamengo. Acabou deixando o cargo rapidamente.
Em entrevista ao podcast “Toca e Passa”, de “O Globo”, Leiria falou sobre o período, lamentou a falta de preparação adequada e o planejamento ruim do clube, mas falou com gratidão do Botafogo.
Leia abaixo os principais trechos:
Supercopa do Brasil
– Por parte do John Textor, já tinha abdicado e deixou isso muito claro, acho que isso mostra um pouco o que o Botafogo está vivendo na temporada. Não foi uma preparação adequada e não foi também o valor adequado pra competições que os próprios jogadores e nós enquanto comissão técnica, nós somos competitivos, a gente quer entrar em campo e vencer. O torcedor não quer perder pro Flamengo, o torcedor queria que nós voltássemos com o título da Supercopa.
Jogou mais pelos resultados do que pelo planejamento?
– Não, não me vejo assim, porque a minha ideia ali era passar tranquilidade para a direção poder tomar a melhor decisão. Não poderia ser um problema para o Botafogo, teria que ser uma solução imediata e caseira através de uma oportunidade que hoje a meu ver eu não encaro como oportunidade, foi uma vaga que tinha e eu que fui para estar nessa vaga. Eu digo porque deveria ter sido feito um trabalho de maior proteção ao treinador nesse momento e de explicar um pouco mais também o que vinha acontecendo. Então, todas as decisões praticamente eram pautadas em conjunto. Hoje em dia, qualquer treinador, em qualquer um desses clubes de Série A, até mesmo Série B, não toma decisão sozinho porque o calendário não te permite um tempo maior para que tu possa treinar, então tu precisa receber as informações e partir das informações você toma a decisão adequada. Eu não tenho e nunca também pautei a minha a minha carreira por vencer, eu luto muito para vencer, eu sou um profissional, um treinador que se considera um cara competitivo, eu gosto do jogo, eu gosto do ambiente de treino, mas eu nunca coloco isso em primeiro lugar, até talvez pelo fato de eu ter ficado muito tempo na base e me preocupar muito com o desenvolvimento do jogador. Então, eu não coloco e no Botafogo eu não coloquei. Na verdade, foram decisões ali baseadas naquilo que a gente tinha que pensar com esses poucos jogadores que a gente tinha à disposição, eu estou fazendo um jogo hoje, mas eu preciso pensar daqui a 10 dias o que vai acontecer porque uma decisão errada naquele momento poderia ocasionar um problema mais grave para a sequência da temporada. E eu, como um profissional responsável, obviamente eu gostaria que a integridade, a saúde física dos jogadores fossem preservadas.
Planejamento do início do ano
– John Textor, pela moral do ano anterior que tem, poderia ter também falado um pouco mais sobre isso. Recentemente ele deu uma declaração que não vou saber parafrasear em que dizia que o problema que vem encontrando enquanto dono do clube foram as pré-temporadas. Ou seja, o Botafogo foi para a terceira temporada que não classifica para as finais do Campeonato Carioca. Então não está só no Carlos essa questão que muitas vezes eu via falarem, “o treinador é cabeça dura”, não, eu tenho uma convicção enquanto treinador e isso eu vejo como positivo mas ao mesmo tempo eu sou um cara flexível. Tanto é que, como eu sempre falei, a minha ideia foi conseguir dar tranquilidade para que a direção pudesse tomar as melhores decisões e era isso que eu procurava fazer, então eu via todos os lados e em nenhum momento eu busquei alguma decisão de maneira isolada ou autoritária, até porque eu não tinha um cargo também para isso e também não é do meu perfil fazer isso.
Gratidão ao Botafogo
– Enquanto profissional, foi uma experiência fantástica, eu sou muito grato, devo muito ao Botafogo. Gostaria que as coisas tivessem acontecido de uma maneira diferente, gostaria de poder falar isso com o torcedor do Botafogo, de que não houve falta de empenho, falta de conhecimento, falta de ouvir as pessoas, pelo contrário. Acho que eu fui um profissional que, eu falo sempre que o tempo não diz o que você produz, mas eu chegava normalmente antes das 6 da manhã e cansei de sair à noite do CT, mas produzindo, analisando o treino, vendo o vídeo, montando o treino pensando na estratégia do jogo, discutindo com a comissão o que fazer. Foi um período em que eu procurei aproveitar. Eu sabia que a oportunidade muitas vezes que é dada a um treinador na minha condição de ser oriundo da base, apesar de ter 21 anos como treinador, ainda é um tabu que a gente tem que quebrar. Talvez se fosse um outro perfil, ou até mesmo estrangeiro, não seriam dadas essas condições ou ser tratada como uma oportunidade numa condição dessa. Óbvio que eu tratei como uma oportunidade importante na minha carreira e levo isso pra mim, pra minha vida, as experiências que eu tive no Botafogo, inclusive como lidar com essa cobrança que foi feita, principalmente a nível de imprensa, que muitas vezes cria o jogo da final da Libertadores, das finais do Brasileiro, da reta final do Brasileiro e talvez sem entender que essa equipe ainda não tinha uma dinâmica de jogo, tinha que se reencontrar tinha que coordenar novos movimentos, novos companheiros que estavam chegando, ou que iriam chegar e que aqueles já não estavam mais, e alguns decisivos, como o Luiz Henrique e Almada. Então, acho que esse é um ponto que eu gostaria de tocar e a importância do clube pro Carlos como treinador, pra sequência da minha carreira, pra mim foi muito importante, é um marco na minha vida. O Botafogo eu trato como um marco de desenvolvimento pessoal e profissional, pra que eu possa agora estar desenvolvendo como treinador e aprendendo com o que aconteceu naquele momento para que futuramente eu consiga também corrigir aquilo que eu não consegui fazer, principalmente entregar os resultados, que é uma coisa que a gente não controla.
– Nós tivemos a felicidade de ser vice-campeões brasileiros no sub-23, que a gente citou que faziam oito anos que o Botafogo não chegava em uma final, e depois a gente não conseguiu também ter mais êxito, apesar desses fatores todos que eu falei, e o que mais me marca, é a questão de treinar com poucos jogadores, de treinar com oito jogadores, não ter um elenco forte como era o elenco anterior, ou de repente de poder ter realmente uma pré-temporada como depois o Botafogo conseguiu ter um tempo maior pra treinar. Acho que foram 40 e poucos dias, é um período muito bom pra tu preparar uma equipe, pra tu fazer jogos treinos e realmente estar com essa equipe chegando no ápice pras principais competições. Eu acredito sim que interfere, porque tu começa todo um planejamento atrasado, por mais que o clube, principalmente na figura do seu dono, do John Textor, não acredita numa temporada de 11 meses como ele cita, no Brasil é assim. Então, se no Brasil é assim, hoje o Flamengo faz e faz muito bem, o Palmeiras faz e faz muito bem, dentre outros clubes que tem conseguido iniciar a temporada no inicio do ano e fazem de uma maneira exitosa como foi o Botafogo na temporada passada. Então acho que o período que ficou, principalmente no momento em que você não tem um elenco completo pra que você possa treinar para que você possa criar as relações não só de jogo, mas as relações humanas isso certamente interfere, depois mais uma mudança de comando técnico certamente vai ter um impacto no final da temporada.
Acordo por saída, não demissão
– No meu retorno para o sub-20 eu não fico um mês, porque eu peço um período, eu vou para São Paulo, eu vou para casa acho que 10 dias em São Paulo, eu pedi porque tinha sido um período muito intenso. Quando a equipe principal se apresenta, no dia 14, eu passo a treinar a equipe alternativa e a equipe principal. De nove meses no Botafogo, em sete eu treino em duas equipes. Então eu peço um período, eu vou refletindo com a família em casa, e eu acho que o melhor cenário tanto pro Carlos quanto pro Botafogo era que esse vínculo fosse encerrado porque realmente foi um desgaste inicial muito grande na temporada. Talvez isso pudesse gerar algum reflexo na formação, na categoria de base. Não era minha intenção, minha intenção é sempre contribuir, ajudar. Outro ponto que o Carlos foi demitido, não, o Carlos fez um acordo com o Botafogo, junto com a direção, de que o melhor era terminar esse vínculo como um acordo. Era uma vontade minha naquele momento de não permanecer porque também eu vim, inicialmente, não com o propósito de treinar a equipe profissional, vim pra fazer um trabalho bom no sub-20 acabou tendo o meio do caminho o sub-23, mas obviamente no futuro eu gostaria de treinar a equipe principal do Botafogo. Eu não esperava num futuro tão recente, e isso se tornou inviável, a partir da pré-temporada 2025 se tornou inviável, então eu optei junto com o clube de como um acordo me desligar e enfim seguir a minha vida e o Botafogo seguindo a dele.