Com medo da morte, empresário que revelou manipulações no futebol brasileiro garante ter provas no WhatsApp e explica ‘sistema’: ‘John Textor enxergou isso’

Com medo da morte, empresário que revelou manipulações no futebol brasileiro garante ter provas no WhatsApp e explica ‘sistema’: ‘John Textor enxergou isso’
Jefferson Rudy/Agência Senado

Com depoimento bombástico na CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas esta semana, William Rogatto revelou ter lucrado mais de R$ 300 milhões em apostas, rebaixado diversos times, envolvimento com árbitros e um esquema pesado no futebol brasileiro. Em entrevista ao “UOL”, o empresário garantiu ter provas, prometeu entregá-las às autoridades e disse ter medo de morte. Ele quer mudar de vida.

William Rogatto contou por que resolveu dar as declarações.

– Eu vou tentar detalhar bastante algumas coisinhas, porque às vezes as pessoas não sabem interpretar um texto. Infelizmente, muitas pessoas aí que a gente vê na internet… É um baixo grau de escolaridade de não conseguir interpretar um texto ou uma fala. Então, a questão de medo é porque eu sei o que acontece. Em certas situações aonde eu já tive envolvido, e algumas, não. Quando você coloca e expõe uma situação que, hoje… olha como tomou uma proporção gigantesca, porque todo mundo agora quer saber se realmente isso é ou não é. Só que as pessoas não sabem nem direcionar. Por que que eu fui parar na CPI? Bem simples e objetivo: a Polícia Federal, junto com a CPI, me convocou. Eu tenho três mandados de prisão. Pô, será que a Federal não sabe que eu tenho, eles não têm as provas sobre o que eu já fiz ou não fiz? Você acha que existe um mandado de prisão para uma pessoa que eles não sabem que tem alguma coisa? – indagou.

– A única coisa que eu fiz foi.. Olha, eu quero uma mudança de vida. Eu quero, hoje, recomeçar uma vida, porque eu acho que todo mundo tem direito de errar. Eu não fiz mal a ninguém, não matei ninguém, não sou traficante. Eu simplesmente fui uma peça do sistema. Ponto. E eu, hoje, quero viver uma vida normal, cara. E, aí, as pessoas começam a pegar tudo isso e vira esse “auê” que está virando, esquecem que a gente tem uma família, esquecem que eu também sou um ser humano. E, poxa, as pessoas que estão lá em cima: “Pô, ele estava no sistema. Ele conhece”. As pessoas que já trabalharam e me conhecem, eu tenho certeza que, hoje, ou estão com medo, ou estão bolando alguma coisa para me calar – argumentou.

O apostador explicou que não vai delatar outras pessoas, mas vai apontar caminhos em suas provas.

É bem simples: está em segredo de Justiça não é à toa. Entende? É uma transferência, é uma conversa no WhatsApp, são áudios, são vídeos. Entende? São provas ali da eventual… Eu já passei por uma situação na CPI mostrando que, realmente, eu, é… Estou realmente sendo réu confesso, porque não adianta você falar. Então, eu já passei algumas coisas ali na CPI. Falando: “Ó, eu quero me confessar, porque eu quero uma vida nova”. Eu não estou aqui para delatar ninguém. Entenda isso. As pessoas estão confundindo isso. Eu não estou aqui para delatar ninguém. Eu estou aqui para mostrar que eu errei. E eu, William Rogatto, quero uma vida nova. Eu quero uma vida nova. Eu quero mudança. Agora, se as pessoas que fazem isso… Aí é problema delas, entende? Eu coloquei algumas coisas em pauta ali, agora é o papel de quem vai investigar. E eu vou colaborar. Eu vou ser apenas um quebra-cabeça para vocês chegarem aonde vocês querem. Tá? Porque esse pessoal já teve envolvimento comigo. Só isso. Entendeu? Alguns diretamente, e alguns trabalharam para mim e nem sabem quem sou eu. Só que eu sempre tive o controle de tudo. Até porque a gente trabalha com pessoas, cara, a gente coloca pessoas, a gente se blinda – explicou.

Incomodado por estar sendo descredibilizado por parte da mídia e por críticas de Casagrande, William Rogatto contou ainda que há um “sistema”, que foi percebido por John Textor, acionista da SAF do Botafogo.

– Jogadores têm família, gostam de dinheiro, como qualquer um. “Ah, mas é mau caráter”. Mau caráter, não. Vai ver salário. Se o salário está compatível, os jogadores estão felizes. Se não está, meu amigo, eu ofereço mais. Esse é o sistema. Você contente, ou não. Mais uma vez, ele (Casagrande) está falando que eu estou acusando o São Paulo, acusando o Palmeiras. Não estou acusando, tá bom, que fique bem claro. Cada um responde pelos seus atos. Eu falei muito bem claro: um jogador, um árbitro. Eles fazem todo um jogo mudar de cenário. Então, de repente, o clube não está nem sabendo. Aí, o John Textor enxergou isso, chamaram ele de mentiroso, de louco… – declarou Rogatto, que garantiu haver jogos da Série A manipulados.

Tudo. Série A, Série B, Série C, Série D do Brasileiro. Copa do Brasil. Eu vou falar para você… Eu não vou te dizer que eu vou entregar pessoas. Eu vou entregar os vestígios de apostas que eu fiz, conversas que eu tive. Não vou dar a direção que foi a pessoa. Eu também tenho teto de vidro. Eu não vou falar simplesmente: “O fulano entregou o jogo para beneficiar”. Não. Eu vou mostrar os indícios e mostrar realmente que teve alteração naquele jogo. Mas eu não vou chegar e falar… Eu não sou rato, né? Na nossa linguagem, eu não sou um rato para chegar e dar nomes como eles querem. Isso aí é até uma fantasia. Eu vou mostrar para eles: “Ó, o indício aqui do jogo, tá aqui, ó. Eu fiz, esse aqui é o jogador que eu trabalhei, tá aqui a conversa com ele, tá aqui o áudio”. Só que é o seguinte, eu vou mostrar para eles. Eu não vou dar nomes. Não vou falar: “É esse”. Se vocês reconhecerem pela voz, ok, se não, não tem o que eu fazer. Até porque tem jogadores que ainda estão em atividade. Eu vou prejudicar jogadores? Eu quero mudar a minha vida, não atrapalhar a vida dos outros. Então, é isso que está sendo confundido. Eu fui para a CPI porque eu já sou condenado. Eu já sou condenado na Justiça, já tenho mandado de prisão. Eu resolvi, por mim, fazer a minha parte, por ser, como eu falei, já… Se não o maior, um dos maiores, que trabalharam em resultados, cara. Entende? É toda uma máquina que funciona. Isso é um sistema. Começa lá do erro deles, até onde eu chego, que é a conclusão dos valores. Até porque esse sistema todo, hoje, é dos ganhos. Eu acho que todo mundo está lutando por dinheiro. Você está lutando por dinheiro, qualquer um… Eu achei uma brecha no sistema, e eu entrei. Agora, isso não me faz um criminoso, como eles estão colocando. Ser um criminoso, porque eu cometi alguns erros, ok. Está na lei, é crime, vou ter que pagar – acrescentou o empresário, que tem medo da morte por “estar mexendo no maior sistema hoje, depois de tráfico e política, que é o futebol.

Fonte: Redação FogãoNET e UOL

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