Comentarista vai contra John Textor e diz que Botafogo ‘não está adaptado a fair play financeiro europeu’: ‘Liga vai ser desbalanceada. Clubes como Flamengo, Palmeiras e São Paulo não têm investidor externo’

Rodrigo Mattos, do UOL
YouTube/UOL Esporte

Colunista do “UOL”, Rodrigo Mattos foi contra as palavras de John Textor, que tem três clubes na Europa e disse que o Botafogo está dentro das regras de fair play financeiro europeu. O jornalista disse que “não é verdade” e criticou os altos investimentos do Alvinegro, sem considerar em momento algum que parte das contratações foi sem custos de transferências e outras pagas de forma parcelada.

Textor fala que o Botafogo está adaptado ao fair play financeiro europeu, o que não é verdade. Primeiro, que a questão do fair play financeiro não está sendo discutida agora por causa do Botafogo. Eu lembro de fazer minha primeira matéria sobre isso em 2008, na “Folha de S. Paulo”. É uma discussão de 15 anos. Ela continua a existir porque a CBF, e os clubes nesse caso têm responsabilidade, não faz nada. Já teve milhões de projetos de fair play que iam avançando, primeiro com Rogério Caboclo, ex-presidente da CBF, e aí os clubes resistiam, clubes que não pagavam as contas e usavam essa alavancagem e doping financeiro constantemente, ou seja, gastavam mais do que poderiam. Eles resistiam, e a CBF recuava. Tem um projeto do Cesar Grafietti feito para a CBF, contratado pela CBF, que a CBF engavetou. Esse projeto é muito bom, é similar ao europeu, inclusive com avanços, porque ele pegou a legislação europeia e avançou. Mas botaram na gaveta e esqueceram o assunto, então isso não é por causa do Botafogo, já existe essa discussão há 15 anos – alegou Rodrigo Mattos.

O que é o fair play europeu, que não é perfeito? Ele pressupõe que você vai investir e pode gastar dinheiro que você gera com o próprio futebol. Qual o objetivo disso? Não chegar um xeique árabe, como está acontecendo na Europa, e por isso eu digo que tem problemas lá também, e gastar um dinheiro infinito e desequilibrar completamente a liga com um dinheiro que não é gerado pelo próprio futebol. E é o que o Botafogo está fazendo. O Textor gastou esse ano, o Botafogo, entre R$ 360 milhões e R$ 390 milhões em contratações. A receita recorrente do ano passado foi R$ 390 milhões. Ou seja, ele gastou em contratações o dinheiro praticamente inteiro que ele recebeu. Aí, o Textor fala que estaria adaptado ao fair play da Europa, não é verdade. O fair play europeu que está entrando agora diz o seguinte: você tem que ter um limite de gasto em termos da sua receita. E ao contrário do que diz o Textor, não é só sobre salário. A nova regra fala de salário de jogador, de técnico, transferências e comissões de atletas – argumentou o colunista, em live no UOL” nesta quinta-feira (5/9).

O jornalista afirmou que a regra passará a valer nesta temporada na Europa (2024/2025), com adaptações para os próximos anos.

Qual a restrição? Essa temporada europeia que entra será de 90% da receita, no ano seguinte 80% e na sequência 70%. Ou seja, você pode gastar com tudo do futebol 70% da sua receita, o Botafogo gastou 90% ou 100% só em transferência de jogador, você acha que ele estaria adaptado ao fair play europeu? É óbvio que não. O que Textor está usando de subterfúgio é dizer que em salário gasta 45%, mas ele gasta em transferência de jogador muito mais. O Botafogo teve déficit nos últimos anos de R$ 250 milhões e no seguinte R$ 260 milhões ou R$ 100 milhões, dependendo da conta. Ele não estaria de nenhum jeito adaptado a nenhum tipo de fair play financeiro, só o que o Textor quer fazer pra ele, que é só limitar a salário e não a transferência de jogador. Então, temos um problema muito sério no Brasil. Vai ter uma liga muito desbalanceada se você permitir gasto infinito sem ter geração de receita daqueles clubes. Porque clubes como Flamengo, Palmeiras, São Paulo, têm que gastar de acordo com o que geram, porque não têm um investidor interno. Têm que gastar de acordo com o que geram no futebol dele – disse Rodrigo Mattos.

O fair play tem que ter isso e outra coisa é punir clubes que não pagarem dívidas, não pagarem contratações. Senão vão fazer como o Corinthians, se livram da Série B e um Cuiabá é rebaixado porque estava pagando em contas. Tem duas coisas, não pode deixar dinheiro de fora do futebol interferir nas contratações, no caso do Textor é porque tem grupo de clubes. E também não permitir que comprem sem pagar. Essa regra tem projeto na gaveta da CBF, não precisa discutir muito, é só pegar o projeto da Grafietti e aplicar – acrescentou.

Rodrigo Mattos ainda reclamou de John Textor poder realizar investimentos em seu terceiro ano e sugeriu um limite.

Na construção do modelo de SAF faz sentido investimento inicial forte. Já é o terceiro ano, botando R$ 300 milhões. Não está construindo base, está botando dinheiro para ser campeão. Ele já chegou na disputa da Série A, está colocando dinheiro a mais que as possibilidades dele para ficar acima. É diferente de fazer a SAF, pagar dívidas. Tem um modelo inicial, precisamos investir para ajustar dívidas e ter elenco base. Dentro da lei, tem que ter abertura para isso, os dois primeiros anos com direito a investimento acima. Se colocar para três, quatro anos, não é mais isso. Não quer se estruturar, quer competir acima do que a torcida dele permite. Não é para colocar dinheiro infinito para competir com quem está lá na frente, cada clube tem que ser do tamanho da sua torcida. Ninguém quer que Botafogo, Vasco, Cruzeiro acabem, o objetivo é salvá-los. E que dentro do modelo orgânico se estruturem, paguem suas contas, subam receitas. Ele tinha possibilidade de ter time melhor que antes, mas colocou dinheiro que não se encaixa de nenhuma forma dentro do orçamento dele. É algo que deveria ter regulação – cobrou.

Fonte: Redação FogãoNET e UOL

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