Economista aponta clubes que teriam dificuldade com fair play financeiro e elogia Botafogo: ‘Mudou de patamar após virar SAF’

Economista aponta clubes que teriam dificuldade com fair play financeiro e elogia Botafogo: ‘Mudou de patamar após virar SAF’
Reprodução/YouTube

O tema fair play financeiro é debatido no Brasil, sobretudo, por clubes incomodados com a grande fase e os altos investimentos do Botafogo. Contudo, seria o Glorioso o mais prejudicado caso o sistema fosse adotado? Na visão do economista Cesar Grafietti, há outras equipes que teriam mais dificuldades.

– Sempre hipoteticamente falando, usando os modelos que tem lá fora, que não consideram dívida nessa situação, claramente os “suspeitos” de sempre são aqueles que estão melhores, que se adaptariam mais rapidamente. Flamengo, Palmeiras, Athletico-PR, Fortaleza, Grêmio. São clubes que estão mais adaptados. No caso das SAFs, por exemplo, o Atlético-MG. O Cruzeiro do Ronaldo certamente estaria mais próximo desse equilíbrio. Nos demais, mesmo o Botafogo ou o Atlético-MG, de certa forma, precisamos ver números para ver se de fato eles se reequilibraram ou não. O dirigente fala muito que está assim ou está assado, mas nós nunca sabemos enquanto os números não chegam. Muitas vezes, quando aparecem, desmentem o que o dirigente falou ao longo da temporada – iniciou Grafietti, a “O Globo”.

– Ao mesmo tempo, temos alguns casos mais complicados. Internacional, Corinthians, Santos, Fluminense. O São Paulo no meio desse caminho entre um e outro. São clubes que teriam muita dificuldade em se adaptar rapidamente. Precisariam de um bom tempo para conseguir entrar em equilíbrio. Clubes como Juventude, o Cuiabá e o Criciúma, por exemplo, facilmente se adaptariam porque já operam em equilíbrio. O Cuiabá, de pequeno porte, é relativamente competitivo há três anos na primeira divisão mesmo com menos dinheiro do que outros. Porque não tem dívida, tem uma gestão eficiente, gasta só o que pode. Talvez a grande dificuldade no Brasil hoje seja que muitos clubes importantes de grande torcida estão em dificuldades e desvirtuando o mercado. Mas temos, sim, uma boa parte que já andou, já evoluiu nesse sentido e se encontra em uma condição mais equilibrada – acrescentou.

No caso do Botafogo, especificamente, Grafietti aponta que houve uma grande evolução após se tornar SAF. Ele explicou como investidores podem lucrar no futebol e citou o caso alvinegro.

– Isso vale para o Brasil e para qualquer mercado. No futebol, não se tira dinheiro com dividendo (retorno percentual do lucro aos acionistas), se ganha comprando um clube barato, entre aspas, de divisão inferior ou, geralmente, de terceiro terço de tabela. Investe, melhora a estrutura, cresce, aumenta as receitas e o valor final, aplicando um múltiplo melhor numa receita maior. A segunda forma, que pode estar associada ou não, é ter uma estrutura de formação de jogadores, que pode ser de base ou de compra. Você compra por 100 e vende por 1.000, vai ganhar um bom dinheiro e distribui parte disso para o acionista. Só se ganha dinheiro com futebol fazendo bem essas duas operações. Melhorando a gestão do clube e crescendo do ponto de vista esportivo e de receitas ou vendendo atletas – comentou o economista.

– Há um caso claro de valorização, que é o Cruzeiro. Quando o Ronaldo entra, ele e a estrutura dele aportam algo em torno de R$ 50 a 70 milhões e depois vendem por volta de R$ 150 milhões ao Pedro Lourenço (empresário). Ele ajudou no processo de reestruturação das dívidas, subiu o clube, manteve-se na Série A no primeiro ano, organizou uma estrutura operacional bastante eficiente e vendeu. Teve um ganho justamente nessa transição. As outras SAFs também são parecidas com isso? Eu acho que, dentre todas elas, a mais clara é o Botafogo. Vinha de um processo de reestruturação, já tinha subido ali naquele “pré-John Textor“, só que hoje se tornou um clube competitivo de fato. Saiu da zona intermediária baixa de tabela, já está numa zona mais alta, fazendo mais receitas. Se o Textor quisesse vender o clube hoje, certamente já valeria mais do que valia quando ele pegou. O Vasco ainda está em transição. O Bahia tem um outro modelo, que é de estar dentro de um grupo grande como o City e vai trabalhar essa formação de atletas muito mais do que simplesmente valorizar para vender. O Coritiba ainda é muito recente. Mas o Cruzeiro já é um caso executado, realizado o ganho. O Botafogo é um caso claro de clube que mudou de patamar a partir do momento que virou SAF – enalteceu.

Cesar Grafietti ainda lembrou pontos relevantes, como um período para o investidor poder aportar em um clube.

– Na verdade, seria uma forma de controle do dinheiro que se aplica dentro do sistema. Na Premier League, por exemplo, são 90 milhões de libras (de aporte permitido sobre os prejuízos) no acumulado de três anos. Na Uefa, são 30 milhões de euros também no acumulado de três anos. Vamos pensar que todas as SAFs têm por volta de dois anos completos. Você tem alguns prejuízos inicialmente para refazer as reestruturações de passivo, reforçar o elenco no primeiro ano, gastar um pouco no segundo, isso vai aumentar o custo da operação. No terceiro, você tem que começar a dar resultado e equilibrar as contas. Hoje, o nome que se fala muito, o Botafogo talvez tivesse problemas de enquadramento no fair play financeiro europeu, porque ele está num momento de investimento. Mas, à medida em que ele passe, por exemplo, para o próximo ano e tenha lucro porque vendeu jogadores, gastou um pouco menos, teve premiação por conquistas, na soma dos períodos ele vai se equilibrar. Um erro comum que nós cometemos aqui quando falamos do momento do futebol brasileiro, é que todo mundo, quando compara com a Europa, esquece ou ignora que lá há um período sempre de três anos para fazer essas contas. Nós ainda estaríamos na formação desse período de três anos para avaliar se lá na frente o acumulado estaria dentro ou fora da regra – esclareceu.

– Acho que essa regra de permitir aportes é importante por algum momento, porque traz o acionista para dentro do jogo, ele é obrigado a colocar dinheiro para equilibrar aquele gasto que ele fez a mais, mas ela não pode ser eterna. Em algum momento, você tem que forçar o clube a trabalhar sempre o máximo possível dentro das suas possibilidades, sem depender de tantos aportes do acionista. Pensando em sistema que está tentando organizar e reduzir o risco, toda vez que um clube gasta muito mais do que pode e o acionista coloca dinheiro, se em algum momento ele desiste porque cansou de gastar dinheiro, não conquistou nada ou o dinheiro acabou, ele vai deixar um problema, porque os custos são de longo prazo. Se os aportes param de acontecer, você vai continuar tendo problemas para honrar esses seus custos. Nesse cenário que nós temos, dá para dizer que eles são positivos, porque esses aportes estão ajudando a pagar dívidas, a reestruturar os clubes, a reforçar elencos que estavam muito desestruturados, mas disso a gente vai ter que ir desmamando ao longo do tempo para fazer com que os clubes possam, maduros, operar sem necessidade de aportes dos acionistas – finalizou.

Fonte: Redação FogãoNET e O Globo

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