Economista e especialista em finanças do esporte, Cesar Grafietti considerou que as críticas de John Textor à Lei da SAF – feitas em entrevista ao FogãoNET na semana passada – eram questão de tempo. Em artigo no portal “Infomoney”, Grafietti relembrou falhas da legislação.
“John Textor descobriu que nem tudo que contaram para ele era verdade (…). Agora quer mudar a lei, porque ela não é boa. C’mon! Ela nunca foi boa, caro Textor! Ela tinha pegadinhas e cascas de bananas que, em algum momento, chegariam aos clubes menos atentos“, escreveu Grafietti.
O economista é um crítico da separação das dívidas estabelecida pela Lei da SAF, que exige que 20% das receitas – excluídas as vendas de atletas – sejam para pagar dívidas trabalhistas e cíveis, enquanto as dívidas desportivas e fiscais ficariam com o clube associativo. Para ele, o modelo melhor seria juntar todas as dívidas.
“Desde sempre estava claro que a única maneira de fazer o projeto da SAF funcionar sem riscos era agir de forma mais dura que a lei, fraca e incompleta desde seu nascimento. O ideal seria assumir todas as dívidas e colocá-las na conta de aquisição. Nem que para solucionar o problema fosse necessário pedir uma Recuperação Judicial na sequência“, argumentou Grafietti, considerando os valores das SAFs vendidas no ano passado como muito altos:
“Já disse várias vezes que as SAFs foram negociadas a valores muito caros. Tenho enormes dificuldades em visualizar retornos para os investidores a partir da simples boa gestão dos clubes. Isso porque alguns nem consideraram todas as dívidas nas contas. Se fossem obrigados a pagar tudo, talvez os negócios não aconteceriam.”
Por conta desses problemas, o economista disse acreditar que os clubes seguirão precisando vender seus talentos para manter o caixa, mesmo virando SAF. O Botafogo, por exemplo, negociou Jeffinho com o Lyon na última terça-feira (31).
“Lembram daquelas ideias de times fortes no Brasil? Esquece. Para essas estruturas que estão sendo montadas, o Brasil será sempre fornecedor de atletas – se não for, a conta não fecha. Ainda mais se a SAF tiver que bancar integralmente as dívidas das associações“, pontuou.
Por conta dos buracos da Lei da SAF, o Botafogo vem sofrendo com penhoras e bloqueios, mesmo tendo aderido ao RCE. O alerta ligado por Textor fez reascender o debate sobre a legislação brasileira, mas Grafietti teme que a emenda fique pior que o soneto.
“Já surgiram ideias de ‘revisar’ a Lei das SAFs usando como referência o horroroso projeto que competia com ela nas discussões no Congresso. A chance de retrocesso é enorme. Isso assusta investidores, como já afastava aqueles que pararam meia hora para analisar os riscos jurídicos da Lei das SAFs“, concluiu.