Apresentado oficialmente como técnico do Fortaleza nesta sexta-feira (18/7), Renato Paiva não esqueceu o Botafogo. A ponto de, na primeira pergunta da entrevista coletiva, que nem foi sobre o Glorioso, o treinador fazer um longo desabafo. Ele foi demitido do clube alvinegro no dia 30 de junho, logo após a disputa da Copa do Mundo.
Com ironias a John Textor, acionista majoritário do Botafogo, Renato Paiva se defendeu sobre estilo de jogo, garantiu ter mentalidade ofensiva e reclamou de ser chamado de “retranqueiro”.
Leia abaixo a resposta completa de Paiva:
“Quando recebi o telefonema destes dois senhores (dirigentes do Fortaleza), o único porém que eu coloquei foi que temos pouco tempo para treinar e para implementar uma ideia. No entanto, convicção total, porque eu não sou um treinador que acredita nisso de chegar, estalar os dedos e mudar tudo, vai ser tudo diferente. Vamos precisar do tempo, mas do tempo necessário, porque não há muito, então vamos ter que ser muito criteriosos na questão de colocar as nossas ideias. Não são melhores nem piores que as do Juan Pablo (Vojvoda), são diferentes, pura e simplesmente. De fato, temos uma forma de ver o jogo diferente, um pouco diferente”.
“Quem me conhece, quem acompanha a minha trajetória, quem vê os meus números, vê uma equipe que propõe, ue quer atacar, que procura constantemente o gol adversário, que quando perde a bola tenta rapidamente conquistar a posse da bola e que tenta ser o mais equilibrado nos diferentes momentos do jogo. Não vamos sempre pressionar alto, não vamos sempre estar em bloco médio, não vamos sempre estar em bloco baixo, vai depender muito da forma também, porque o jogo tem vida e jogamos contra adversários. Portanto, o que eu quero e o que as minhas equipes têm sido ao longo do tempo, num primeiro momento algo desequilibradas, porque faziam muitos gols mas também sofriam, algo que foi melhorando com o tempo. E de fato, os números estão aí. Foi o melhor ataque no Equador, foi diversas vezes o melhor ataque no Benfica, ainda que na base. No Equador o melhor ataque do campeonato. No Toluca, num torneio o melhor ataque, num outro torneio o segundo melhor ataque. Agora no Botafogo, os jogos em casa, em especial os jogos em casa, só vitórias, só tivemos um empate contra o São Paulo em que merecíamos ter ganho.
“Relembro-me do jogo em que nos classificamos na o Libertadores, em que ficamos com 10 (contra a Universidad de Chile). Aos 20 minutos em que o Jair é expulso e que nós precisávamos de ganhar o jogo e obviamente o Renato nem mexeu no sistema, baixou o Gregore para zagueiro, não pôs um zagueiro. Jogou em 4-3-2, podia jogar em 4-4-1, jogou em 4-3-2 para meter dois jogadores na frente para atacarmos. Mentalidade ofensiva, ao contrário do que alguns dizem, mas esquecem-se dos números. Mas os números estão aí, os números é que falam, não é conversa, os números é que falam e acabamos por eliminar, acabámos por passar com menos um jogador durante 70 minutos e estar mais próximo do 2-0.
“Nós vamos tentar aos poucos é pôr a nossa ideia. Nós queremos, e disse aos jogadores, os jogadores gostam de um jogo mais de propor, mais de ter a bola em vez de estar à espera. Eu tenho que analisar, conheço os jogadores por ver, mas agora uma coisa é ver, outra coisa é estar no campo a trabalhar com eles, vou conhecê-los melhor e obviamente vou aos poucos aproveitando o que está bem feito, que é muito, e aos poucos colocando as nossas ideias, porque de fato não há tempo e se tu vais com muita informação o resultado é perfeitamente negativo e é o inverso daquilo que tu procuras. Portanto, o meu percurso fala por mim”.
“Lembro-me, por exemplo, no Bahia, que criticavam que eu sofria muitos gols, marcava gols, mas sofria muitos gols e agora de repente sou um treinador defensivo. Se eu me sinto injustiçado? Eu nem precisava de falar por mim, é só consultar o mundo do futebol, o mundo do futebol real, não é o mundo do futebol virtual, da internet, é o mundo do futebol real, é o mundo dos olhos nos olhos, é o mundo dos jogadores, dos treinadores, dos diretores, dos presidentes, de fato de quem entende futebol. Dizer o que foi a minha trajetória no Botafogo em quatro meses, como eu encontrei a equipe, como eu encontrei a estrutura e como ela terminou. Aliás, o Botafogo se tivesse ganho o Vitória estaria a três pontos da liderança, o Cruzeiro depois entretanto ganhou e disparou para seis, mas estaria a três pontos da liderança se tivesse ganho o Vitória em casa. Estávamos na Copa do Brasil, na Libertadores da forma que foi, a melhor trajetória da SAF desde a era SAF em casa, ninguém teve melhores números que a nossa comissão técnica no Botafogo, portanto eu podia estar aqui a falar, mas era dar muita atenção. Portanto, fala por mim quem entende, fala por mim o meu trabalho. Dizer por um jogo que o Renato Paiva é retranqueiro é mais fácil dizer isso, para justificar algumas coisas do próprio momento dar mérito ao Palmeiras”.
“Hoje em dia é muito difícil dar mérito a quem está do outro lado ou dar mérito a quem tem e é muito mais fácil criticar e fazer sangue em cima do outro que não tem sucesso. Em nenhum momento, e os meus jogadores falaram depois da coletiva, depois do jogo em coletiva, em nenhum momento o treinador passou ideias defensivas no plano de jogo, os meus diretores e os meus jogadores viram a preparação do jogo, em nenhum momento fomos defensivos intencionalmente, a questão é que o Palmeiras de fato surpreendeu-nos ali em um outro posicionamento, teve mais bola, obrigou-nos muitas vezes a baixar e obviamente é mais fácil criticar do que dar mérito a quem tem, portanto não vou falar mais, é ponto final no Botafogo”.
“Quero agradecer às pessoas que estiveram comigo no dia a dia, diretores, profissionais e jogadores, todas as pessoas que estiveram todas as horas connosco no dia a dia de trabalho foram absolutamente sensacionais, excepcionais, não nos deixaram faltar nada. São grandes profissionais e grandes seres humanos, é uma grande família que está ali no Botafogo. As pessoas que ali estão todos os dias nos deram apoio e um suporte extraordinário, um grupo de jogadores fantástico, uma sinergia, uma identificação brutal e por isso foi possível em quatro meses fazer o que fizemos, organizar a equipe e os feitos. Agradecer muito a eles, agradecer à torcida todo o apoio que nos deu em muitos momentos difíceis, é uma torcida muito apaixonada e muito bonita. Não vamos agradar a todos, é normal, nem o Guardiola nem o Mourinho agradam a todos, nem Deus agrada a todos, quanto mais eu. Agradecer a todos pelo apoio, agradecer as críticas também porque nos fizeram crescer, a partir daqui ponto final nas questões Botafogo, a partir de agora a minha paixão, a minha direção e a minha atenção total e absoluta no projeto Fortaleza”.