Um dos favoritos para assumir a vaga de Artur Jorge como técnico do Botafogo, André Jardine concedeu uma entrevista ao vivo no programa “Seleção SporTV” no último dia 20 de dezembro que mostrou algumas pretensões e pensamentos do atual treinador do América-MEX, multicampeão no país no último ano e meio.
Numa das respostas, Jardine revelou que assistiu à derrota do Botafogo para o Pachuca na Copa Intercontinental e disse que tinha alertado aos amigos que tem no setor de scouting do Glorioso sobre as características do time mexicano. O treinador frisou que seria muito difícil o Alvinegro passar por conta das condições físicas.
– Eu assisti ao jogo. Tenho alguns amigos que hoje trabalham no Botafogo, sobretudo o pessoal do scouting, que tem feito um grande trabalho nessa captação, o Botafogo tem dado algumas cartadas importantes. E eu tinha avisado, o Pachuca é um time extremamente intenso, que joga de uma forma muito vertical, que pressiona o tempo inteiro. O Almada é um treinador desses que não tem medo de ninguém, vai para a troca de tiro, não importa se acha que o time dele é inferior em nomes, ele não muda em nada o jeito de jogar, vai seguir pressionando e tentar fazer o jogo que ele acredita, contra qualquer time – contou Jardine.
– O pior cenário para o Botafogo era justamente chegar cansado contra um adversário que joga desse jeito, que propõe um jogo muito intenso, de transições, que se puder atacar com dois, três passes vai fazer e vai tomar outro contra-ataque, se roubar a bola vai acelerar de novo… Não é nada fácil jogar com o Pachuca. Prova a paridade da liga, eu diria que teriam hoje cinco ou seis times bastante superiores ao Pachuca para estar nesse Mundial. Era um jogo, para um time nas condições do Botafogo, viajando, cansado de duas finais, realmente ficou uma missão impossível enfrentá-lo, seria muito difícil para o Botafogo conseguir um resultado diferente, talvez uma derrota mais justa, mas vencer era muito difícil – completou.
André Jardine também explicou o que projetava para sua carreira. O treinador disse que sonha em trabalhar na Espanha e que, mais à frente, gostaria de participar de um projeto duradouro no Brasil – algo que pode acontecer agora com o Botafogo. Mas frisou que, pelo menos naquele dia, não pretendia deixar o América-MEX agora.
– O objetivo aqui no México era chegar num clube grande, num clube que me desse condições de brigar pelo título, acabou acontecendo muito rápido, eu imaginava demorar um pouquinho mais esse objetivo. Hoje eu sigo muito feliz no América, tenho tudo aquilo que o treinador quer, que é esse tempo maior para poder moldar o elenco à nossa forma, para poder talvez criar um ciclo vitorioso similar ao que o Abel [Ferreira] conseguiu fazer no Palmeiras, Felipão no Grêmio há um tempo mais atrás… É tão difícil a gente conquistar esse tempo para fazer a coisa acontecer um pouco mais do nosso jeito, que eu quero me dar o direito de desfrutar um pouquinho disso tudo que a gente conquistou aqui e tentar fazer um período vitorioso, não só um ano, um ano e meio como atualmente é, mas vamos ver se a gente consegue perdurar um pouco mais tempo esse ciclo vitorioso. Eu ainda tenho dois anos e meio de contrato com a América, me vejo cumprindo eles, porque o clube hoje me atende 100% naquilo que eu quero, em todos os fatores, sobretudo condições da gente seguir brigando por títulos – disse.
– E aí, encerrando esse ciclo aqui, no futebol a gente não consegue criar muitos planos para um futuro muito longe, mas sem dúvida são vários sonhos que eu tenho. Um deles é ainda trabalhar em uma outra liga fora do país, tenho o sonho de trabalhar na liga espanhola, acho que agora falando o espanhol isso não é mais um empecilho. Pretendo também melhorar o inglês que me permita trabalhar em alguma liga diferente, a MLS é uma liga que me parece ser muito atraente pelo nível dos clubes, pelo nível também de morar nos Estados Unidos, as condições que dão para os profissionais. E, talvez no futuro um pouquinho mais longe, também fazer um trabalho significativo no Brasil. A gente fica com esse gostinho, essa pontinha de frustração de ainda não ter todo o reconhecimento que eu gostaria de ter dentro do meu país, apesar de ter conquistado uma medalha de ouro que parece fácil, mas não é. Pretendo ainda fazer um trabalho significativo em algum clube brasileiro, e não pretendo ter uma carreira tão longa não, pretendo me aposentar um pouquinho mais cedo do que essa turma que foi até os 70 trabalhando, porque o futebol te exige muito, desgasta muito, não pretendo ser um profissional desses que passa de clube em clube, ou que passa por três, quatro clubes em um mesmo ano. Acho que profissional precisa fazer trabalhos um pouquinho mais duradouros, e entre um trabalho e outro tem um período de descanso, de reciclagem – completou.
Futebol mexicano
Jardine afirmou que América-MEX, Toluca, Tigres, Monterrey e Chivas são alguns clubes do país que brigariam na parte de cima da tabela caso disputassem o Campeonato Brasileiro. E confidenciou que a a pressão que os treinadores sofrem no México não é diferente do que acontece no nosso país.
– Não é muito diferente. As condições do México e do Brasil são muito semelhantes. Talvez um pouquinho mais de paciência o mexicano tenha, até pelo fato de eu aqui ser estrangeiro. Hoje sou o treinador da liga mexicana há mais tempo no cargo, há um ano e meio no América. A rotatividade é bastante grande. Nesse período, praticamente, todos os grandes clubes já trocaram até mais de uma vez de treinador. E o América vem me dando essa sequência, obviamente também porque a gente foi conquistando resultados. Nessa última conquista mesmo, que a gente começou com alguma dificuldade durante a primeira fase, a imprensa já começou a fazer um barulho, perguntando se o ciclo não tinha encerrado… É uma pressão muito similar – contou.