Ex-CEO do Botafogo, do qual saiu brigado e com ação na justiça, Jorge Braga comentou sobre a SAF no Brasil, em entrevista ao site “GE”. O foco maior da reportagem era sobre a possibilidade de o Atlético-MG se tornar clube-empresa, com o acionista Peter Grieve (que chegou a negociar com o Glorioso antes do acerto com John Textor). Mas vários temas foram debatidos.
Jorge Braga deixou clara a importância da SAF e que não se trata de “calote a credores”.
– A SAF é a melhor segunda opção. É a segunda chance para os clubes altamente endividados, que queiram estrutura a parte financeira e pagar. Não é um calote. Muitos dos ruídos que estamos escutados é de quem esperava coisa diferente do que ela faz. É um bom veículo para os clubes endividados alongarem as suas dívidas. Há uma série de mecanismos. Uma das formas de enfrentar a dívida, que é o RCE, só é possível se você efetivar uma SAF – explicou Braga.
– A SAF traz ao futebol questões corriqueiras no mundo empresarial, mas que são minimizados no futebol: pagar compromisso em dia, publicação de balanço, transparência, controle de gestão. A Juventus tomou um cano grande, teve os dirigentes processados, por causa de falta de gestão e correção. Há também a investigação contra o Manchester City de fair play financeiro. Isso vai chegar. O que a SAF faz é acelerar toda essa discussão – acrescentou.
Perguntado sobre as críticas de John Textor à Lei da SAF, Jorge Braga evitou falar especificamente da declaração, mas deu a entender que os clubes devem ser protegidos.
– Vou dizer o que penso, evitando comentar a fala de outras pessoas. Estamos falando de uma lei nova e inovadora. Precisa de tempo de ajuste. Foi assim com qualquer lei no Brasil. A recuperação judicial levou alguns anos, nos quais havia dúvidas sobre cláusulas e condições. Qualquer lei nova admite melhorias. Mas a lei da SAF tem colocações claras em relação ao enfrentamento da dívida, e a separação das dívidas do clube e da SAF. Pode até acontecer uma confusão ou outra da Justiça. Mas pelo que sei, toda vez que o clube recorreu a um tribunal superior, o apelo foi ganho. A minha convicção é esta: é uma lei inovadora, admite ser melhorada, mas não pode ser atacada. Não é passe-livre para um calote – ponderou.
Braga ainda comentou quais são as possibilidades existentes para clubes com dívidas altas.
– O RCE é exclusivo para clubes que são SAF. Se não for escolhido, existem mecanismos mais comuns, como a recuperação judicial e a recuperação extra-judicial. Cada uma com suas vantagens e desvantagens. Se formos colocar na régua, a RCE está na esquerda, a REJ está no meio, e a RJ está na direta. Quando mais à direita, mais seguro é o desenho. Porque ele é mais antigo, já foi testado há mais tempo, há estabilidade, em compensação, ele é mais rígido. Quanto mais à esquerda, onde está o RCE, ele é mais flexível, só que permite discussões de melhoria. No RCE, o percentual a ser pago das dívidas depende das receitas do clube/SAF. Outra coisa: não existe a condição de o clube/associação falir, na outra ponta, no RJ, se o plano a ser apresentado não tiver a maioria dos credores, o juiz pode decretar a falência. Não existe o remédio perfeito para todos, varia do momento e da estratégia de cada clube – completou.