Andarilho. Essa pode ser uma das palavras mais fieis para definir Enderson Moreira, novo técnico do Botafogo apresentado ontem. Com passagens por 12 equipes do primeiro escalão do futebol nacional, o mineiro chega ao Alvinegro com um dos maiores desafios de sua carreira: levar o clube de volta à Série A do Campeonato Brasileiro. O presente apresenta as dificuldades: o Bota não vence há cinco jogos e está a dez pontos do G-4.
Mas pode-se dizer que o treinador está acostumado com esse tipo de adversidade. Primeiro, porque conhece a competição: já foi campeão duas vezes, em 2012, com o Goiás, e 2017, numa boa campanha com o América-MG. Além disso, Enderson sabe que terá de lidar com a pressão a todo momento. Há dois meses, em entrevista ao #nuncaésóesporte, coluna do GLOBO, falou sobre o assunto.
— A gente vive num mundo irreal, porque ninguém consegue 100% de aproveitamento. Geralmente, não tem nem fase de preparação, os dirigentes não esperam. Culturalmente, no Brasil, se associa o resultado do time ao treinador. A gente está preso na dinâmica do rodízio e não cresce, fica no mesmo lugar. Muito difícil — desabafou Enderson.
Por isso, chegou ao Botafogo ontem para comandar o primeiro treino, às 15h, como está acostumado: sem a família, só com os auxiliares Luis Fernando Flores e Ailton Serafim, além do preparador físico Edy Carlos Soares.
Por outro lado, a diretoria alvinegra demonstrou total confiança no trabalho do treinador. Após o anúncio da contratação, o diretor de futebol Eduardo Freeland afirmou que a chegada de Enderson colocaria “o bico do avião para cima”. Segundo Freeland, os pontos perdidos serão recuperados e a torcida poderá comemorar o acesso no fim da temporada.
Como revelado pelo atacante Rafael Moura em sua apresentação, o planejamento do Botafogo era de conquistar sete pontos a cada quatro jogos. Até agora, foram somados apenas 13 em 12 partidas, oito a menos que o desejado, que entram automaticamente no débito do novo comandante.
— Tenho uma forma de pensar um pouco diferente. Jogo sempre com a possibilidade do próximo jogo. Me aplico sempre pensando nos três pontos. Às vezes quando você coloca metas é importante em termos motivacionais, mas você pode frustrar. Eu trabalho o atleta na questão dos três pontos, isso vai nos dando confiança e uma possibilidade maior de continuar pontuando — frizou o novo comandante em sua apresentação.
Enderson foi um dos nomes entregues ao comitê pela Footure, departamento de analise de mercados que auxilia o departamento de futebol. A seu favor, esteve o fato de ser um bom gestor de grupo — inclusive já trabalhou com Diego Cavalieri, Ricardinho, Marco Antônio e Rafael Moura —, além de conhecer a Série B e estar dentro da realidade financeira do clube.
Mas, se para o Glorioso a chegada do treinador vale a última cartada de 2021 para o retorno à Serie A, já que não poderá contratar mais nenhum outro técnico, para Enderson vale a mudança de sua imagem.
Os últimos trabalhos não foram bons. No Cruzeiro, ficou por 12 jogos, sendo seis seguidos sem vencer. No Goiás, foram dez partidas e nenhuma vitória. No Fortaleza, os resultados foram um pouco melhores. Contratado para livrar o Leão do rebaixamento, alcançou o objetivo, mas foi demitido no início da atual temporada após eliminação na semifinal da Copa do Nordeste. Por isso, o lema da união entre Botafogo e Enderson Moreira pode ser “ganha-se junto, perde-se junto”.