John Textor fala sobre afastamento do Lyon, venda do Crystal Palace e busca por clube inglês; Sheffield Wednesday é uma possibilidade

John Textor, do Botafogo
Vítor Silva/Botafogo

Acionista majoritário da SAF do Botafogo, John Textor não falou apenas sobre o Glorioso e sua relação particular com Evangelos Marinakis em entrevista ao podcast britânico “The Added Time” nesta semana. O empresário norte-americano fez comentários sobre os outros clubes da Eagle Football – entre eles o Crystal Palace, cujas ações que ele tinha já foram vendidas – e a busca por um novo time inglês.

Em especial, Textor passou a limpo o que aconteceu na França, quando ele acabou precisando se afastar do Lyon para que o clube não fosse rebaixado pela DNCG. De acordo com ele, suas propostas de mudança na liga local acabaram não sendo bem recebidas, o que criou um grande problema político.

Na França, eu provavelmente interpretei essa ciência muito mal [risos]. Um reformista americano na França? Não sei se isso já deu certo alguma vez. E essa liga precisa de muita ajuda. A Federação está brigando com a liga, o chefe da liga foi investigado por corrupção, o acordo de TV… Imagine comandar um grande clube europeu e sua cota de TV cair de 40, 50 milhões para 9 milhões. A liga não cuidou do acordo de TV da mesma forma que a Premier League faz tão bem na Inglaterra. Eu era um defensor da reforma. Cometi alguns erros, creio eu, críticos ao acreditar que as pessoas estavam prontas para a reforma – iniciou Textor.

Na verdade, fui convidado para alguns painéis, juntamente com todos os outros proprietários de clubes, que a Federação Francesa de Futebol estava realizando, um dos quais era para avaliar a DNCG, uma espécie de órgão francês de sustentabilidade. E eu era um defensor declarado de um modelo da Premier League onde não há DNCG, onde todos os clubes, todos os dirigentes, participam da diretoria. Acho que esse modelo funciona. Os padrões de sustentabilidade financeira são preto no branco. Temos o PSR [Regras de Lucro e Sustentabilidade da Premier League], que se baseia em contabilidade direta. Já na França, eles têm um grupo de voluntários que trabalham, de certa forma, com sua própria fórmula do que acham que seu modelo de negócios deveria ser. Então, acho que forcei demais.

John Textor disse que a decisão pelo rebaixamento administrativo do Lyon por questões financeiras o surpreendeu e que, por isso, precisou se afastar.

Nunca vi um clube ser rebaixado administrativamente quando é apoiado por acionistas muito abastados, instituições como a Ares, meus sócios atuais, JP, Michele, eu… Sou o maior contribuinte individual de capital em dinheiro para a Eagle Football. Michelle se destacou bastante, assim como outros acionistas mais recentemente. Mas a ideia de que você pode se sentar diante da DNCG no dia 20 de maio, eles te dão sinal verde total e dizem: “Sem problemas com rebaixamento, sem problemas com sustentabilidade.” E então você volta no dia 24 de junho, e você realmente melhorou o que trouxe para a mesa em termos de dinheiro, investimos mais dinheiro, vendemos um jogador nesse intervalo de tempo… E, sem aviso prévio, podemos ser aprovados pela Uefa para a Liga Europa e passar pela onerosa revisão de sustentabilidade financeira, e alguns dias depois sermos rebaixados administrativamente. Não acho que isso aconteça no futebol em lugar nenhum do mundo.

O que eles fizeram a torcida passar, na verdade, foi o ego de homens que só queriam a mudança de liderança. Acho que está claro que eles não queriam o cowboy americano, não queriam a minha versão de reforma e meu relacionamento com o antigo dono de quem comprei. Ficou claro que, para proteger a comunidade, para proteger o clube, eu tinha que me afastar. Ainda sou o proprietário majoritário da Eagle Football. Mas Michele Kang, uma parceira fantástica, trabalhou na França e passa muito tempo lá, inicialmente no futebol feminino. Na verdade, perguntei a ela 30 dias antes da audiência da DNCG se ela consideraria ser copresidente. Porque, politicamente, enquanto todo mundo achava o americano com o chapéu de cowboy engraçado, acho que as pessoas importantes não achavam isso engraçado. Então, era importante para mim me afastar. E, num bom momento, o clube está indo bem, o departamento de futebol está indo bem, uma fração do orçamento, e estamos melhor nos olheiros, recrutando melhor, e estamos jogando muito bem. Estou tão orgulhoso do Lyon quanto da minha passagem pelo Palace – completou.

Veja outras declarações de John Textor:

CRYSTAL PALACE E MÁGOA POR ‘REBAIXAMENTO’ PARA CONFERENCE LEAGUE
– Ainda sou um grande torcedor do clube, adoro a posição deles na tabela. Tivemos um jogo equilibrado esta semana, um jogo que deveríamos ter vencido. Diria que é justo dizer que não me desliguei de verdade, você não pode ser tão próximo de um clube por tanto tempo, seus filhos se envolvem, e eu acordo todo sábado, domingo de manhã ansioso por um jogo do Palace, como fazia há um mês ou há um ano. Estou muito orgulhoso da contribuição que pude dar. Obviamente fica alguma amargura quanto à forma como a Uefa lidou com isso, ser fortemente inspirado, se não encorajado, a vender seu interesse em um clube, tendo recebido algumas garantias, se não garantias, forte indicação de que se eu vendesse meu interesse, os torcedores poderiam aproveitar o futebol da Liga Europa. E então descobrir que eles seriam rebaixados [para a Conference League], mesmo depois de nos separarmos completamente, é difícil explicar. É difícil explicar os sentimentos que tenho ao vender um clube por esse motivo, apenas para vê-los serem rebaixados mesmo assim, mas de um ponto de vista prático e de precedentes legais, eu realmente não sei o que a Uefa estava tentando alcançar. Se a separação total de um clube bem antes do sorteio não for suficiente, eu não sei o que é. Mas, dito isso, eles estão jogando uma liga europeia agora, têm uma chance de vencer este torneio, se vencerem têm uma chance de voltar à Liga Europa por várias temporadas. Acho que você vê a maneira como eles jogam contra alguns dos melhores times da Premier League, então acho que eles têm uma chance muito boa de vencer este evento, é futebol. Só espero que eles cumpram, terminem a missão e continuem jogando tão bem quanto vêm jogando.

CRÍTICAS DOS ULTRAS DO CRYSTAL PALACE
– Tudo é justo no futebol. Quer dizer, você nunca sabe onde as críticas param e a admiração começa. Futebol é como a vida, temos uma minoria muito vocal. Recebi muitas críticas, uma faixa famosa escrito “Textor, não confiamos em você” muito cedo, quando eu não era tão ativo, ficava nos bastidores ajudando, meu capital entrou e pagou a dívida da Covid, essa dívida era em grande parte com acionistas, mais da metade do dinheiro que coloquei foi para os cofres dos outros acionistas. Parte dele permaneceu no clube, nos permitiu completar o CT da base, reduzir a idade média do elenco, acho que na época, era provavelmente 29 anos, reduzimos para 26. Trabalhei muito ativamente com Dougie Freedman, nos tornamos muito próximos, provavelmente é meu melhor amigo no futebol em termos de nível de confiança e de como trabalhamos juntos. Ele me ajudou a montar nossa rede de futebol, olheiros, staff, técnicos, de outra forma na Eagle Football. Sinto que fiz parte de uma redefinição de ambição, não acho que fosse um clube muito ambicioso antes de eu aparecer. Acho que a energia que trouxe para a diretoria, a resposta enérgica dos outros diretores, a atitude em torno do clube… Acho que ajudei. Mas os ultras, você sabe, eles não confiaram em mim desde o início, mesmo antes de eu fazer qualquer coisa. Um dos meus filhos estava se divertindo conhecendo-os e indo aos jogos, então quando vi a faixa, fiquei surpreso, eu disse: “Ei, por que não vamos tomar uma cerveja?”. Eu o encontrei para uma cerveja, eles começaram a vir até mim, dizendo que não confiavam em mim, que eu envergonhei o clube quando trouxe o Botafogo para jogar um amistoso [0 a 0, no fim de 2022]… Acho que os ultras buscam atenção, eles fazem muito barulho, acho que a base de torcedores com a qual mais me importo é aquele tipo de torcedor anônimo que ama o clube porque seu pai amava, seus parentes…. Acho que os torcedores do Palace são pessoas de classe, não acredito que eles são representados pelas pessoas que seguraram as faixas e foram atrás do Nottingham Forest ou de mim. Nós no chamamos Eagle Football por uma razão. Ainda amo esse clube.

BUSCA POR UM CLUBE INGLÊS
– Acreditamos que a colaboração entre clube e comunidade pode competir com o dinheiro. Sabemos que o dinheiro domina o esporte, todos os esportes, o nosso em particular, as taxas de transferência incríveis, o valor dos jogadores, mas o mundo é realmente grande. Não acho que Deus tenha beijado os pés apenas das crianças europeias e britânicas. Acho que existem grandes jogadores de futebol no mundo todo, mas eles não têm acesso economicamente, estruturalmente. Teve uma reportagem muito legal que eu li, eu não tinha percebido que tínhamos feito dessa forma, mas era sobre o Botafogo e como vencemos grandes times do mundo contratando jogadores da segunda divisão, do Paraguai, do Japão, ou caras como o Igor Jesus, que veio gratuitamente dos Emirados Árabes Unidos, ou o Lucas Perri, que era jogador do Crystal Palace antes de voltar para o Brasil e se tornou um dos melhores goleiros da Europa. Com a ajuda do Dougie em particular, montando esse grupo na área do futebol, a colaboração entre nossos clubes é o motivo de termos tanto sucesso esportivo. Se você não tiver um parceiro no Reino Unido, não poderá realmente oferecer esses caminhos aos jogadores. Gostamos também de dizer que a água flui para onde deve. E o fato é que os melhores jogadores do mundo querem chegar à melhor liga do mundo. E se você não tiver essa oportunidade de apresentar isso a eles, realmente limita seu recrutamento em todos esses mercados periféricos, pequenos ou grandes. Precisamos de uma estratégia para o Reino Unido. Nunca conseguimos levar jogadores para o Palace. Como investidor minoritário, realmente não tivemos aquela colaboração que tivemos no Lyon ou voltando para o Brasil. Gostaríamos de conseguir isso. Gostaríamos de ter uma participação majoritária em um clube no Reino Unido onde possamos realmente colaborar. E se for da segunda divisão, eu adoraria uma batalha pelo acesso. Acho que poderíamos lidar com isso. Acho que já provamos isso. Se for algo na Premier League, ainda há algumas opções.

VAI COMPRAR O SHEFFIELD?
– Se você quiser falar sobre o Sheffield Wednesday… Recebo muitas cartas dos torcedores. Acho que fiz alguns elogios aos grandes e tradicionais clubes da Inglaterra. Meu avô era inglês e me levava aos jogos. Meus primeiros jogos foram em lugares como Leyton Orient, Stockport County… Ele não me levou tanto aos jogos porque a convivência com ele foi muito curta, mas as discussões sobre os jogos e os jogos que assistíamos, isso foi legal. Especificamente em relação ao Wednesday, detesto dizer algo controverso aos torcedores, mas o dono, pelo menos na minha experiência com ele, tem sido muito aberto a ideias. Tive um pouco de interação, algumas mais diretas. Ele está muito preocupado com o clube, sei que pode não parecer. As mudanças que ele teve na vida que levaram a essa separação entre o futuro dele e o futuro do clube, não quero comentar sobre isso. Eu diria que, mais recentemente, tenho ficado satisfeito com a abertura deles para conversar sobre ideias. Eu diria que é realmente complicado. O Wednesday é um dos clubes que estamos analisando. Eles estão em uma situação muito difícil. Há muito o que resolver com o dono. Há muito o que resolver com a própria liga. E não há muito tempo. Provavelmente metade ou dois terços desse elenco tem menos de 21 anos. Quando conseguirmos resolver as coisas, se chegarmos a um acordo com o clube, certamente espero que não seja tarde demais. Acho que eles estão lutando muito. Os torcedores estão apoiando o time, mesmo que não necessariamente o dono. E todo mundo está torcendo para que dê certo. Acho que foi um pouco exagerado o quanto estamos envolvidos nessa situação. Somos um dos, creio eu, três ou quatro grupos que estão recebendo uma quantidade adequada de abertura por parte do proprietário.

Fonte: Redação FogãoNET e The Added Time Podcast

Comentários