Além do presidente do São Paulo, Julio Casares, a CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas ouviu nesta quarta-feira também o presidente do STJD, José Perdiz, e o procurador-geral do STJD, Ronaldo Piacente. O motivo foram as denúncias de manipulação de resultados apresentadas por John Textor aos senadores.
Ronaldo Piacente afirmou que os relatórios da empresa francesa “Good Game!”, usados por John Textor, não têm embasamento para provar manipulação ou corrupção de jogadores. Segundo ele, o dono da SAF do Botafogo age de forma irresponsável ao fazer acusações com base em relatórios de inteligência artifical.
– Me parece que a Good Game! é um relatório que, por si só, não faz prova nenhuma de manipulação de resultado. Há um estudo feito pela Uefa, inclusive assistido pela comunidade europeia, em que, analisando o Sportradar e a Good Game!, eles mesmos chegaram à conclusão de que o relatório por si só não faz prova – e não faz prova mesmo. E, quando o John Textor quer, com base nesse relatório, dizer que houve uma manipulação de resultado, com todo respeito, é uma irresponsabilidade, porque ele coloca não só os atletas, ele não coloca só os árbitros, mas como a própria competição, como a própria CBF, as federações, dirigentes, em descrédito – disse Piacente.
– Ele esteve no tribunal, mostrou uma imagem no computador, sinceramente não consegui ver nenhuma questão de manipulação, de um defensor perder a bola de forma proposital para o atacante fazer o gol. O relatório por si só não é prova suficiente para denunciar ou condenar ninguém, ela tem que estar somada a outras provas. Precisa ter lá a questão de que houve uma aposta, que ele realmente fez o ato e que se beneficou levando direito. Ou se o atleta confessar. Por si só, os relatórios não podem ser tidos como prova para condenar alguém por manipulação de resultados – afirmou o procurador-geral.
Presidente do STJD, José Perdiz afirmou que a metodologia da empresa Sportradar é aceita mundialmente, ao contrário da “Good Game!”, e também questionou os métodos de inteligência artificial usados pela firma contratada por John Textor.
– Nós trabalhamos hoje com a Sportradar, que é uma empresa chancelada mundialmente, com uma metodologia conhecida, definida e padronizada internacionalmente, porque não podemos aqui que uma pessoa que detenha o conhecimento tecnológico crie um site, um aplicativo, para analisar essas questões e diga: “Olha, a minha metodologia é uma” – criada por ele próprio – e passe a analisar e questionar as decisões. A Justiça Desportiva não pode aceitar isso, como a Justiça comum também não vai aceitar a partir dessas questões, porque a inteligência artificial é muito suscetível a um determinado caminho – falou Perdiz.
Apesar das críticas à metodologia usada por Textor, José Perdiz afirmou que há um inquérito em andamento no STJD, pedido pelo próprio dono da SAF do Botafogo, para que sejam investigados os indícios de manipulação apresentados.
– Eu acredito que ele possa sim entregar ao STJD para apuração todas as provas, todas as dúvidas, evidências que ele tenha. O que pode ocorrer é o tribunal aceitar umas questões e não aceitar outras, não pela credibilidade ou não dele, mas pela tecnicidade da legislação e da forma de apuração. Tudo que chega o tribunal apura. Ele já entregou ao tribunal as mesmas que entregou à CPI e o tribunal está apurando, em fase de inquérito, que tramita sob sigilo – disse.
Perdiz afirmou que, em algum momento, o sigilo precisará ser derrubado para que as denúncias cheguem de fato ao conhecimento público e admitiu que a manipulação de resultados é o tema mais relevante no momento no futebol brasileiro.