Jornalista brasileiro morando na Espanha há 12 anos, Fernando Kallás veio ao Brasil no mês passado para fazer uma entrevista com John Textor, acionista da SAF do Botafogo, para a Reuters, na qual trabalha como correspondente. Torcedor do Botafogo, Kallás contou bastidores da conversa que teve com o empresário americano no podcast “Flow Sport Club”, exibido nesta terça (30/8).
Textor nunca escondeu que quer, com o Botafogo, construir a maior rede de identificador de talentos do futebol mundial. Segundo Kallás, os planos do americano são ambiciosos, e não passa somente em usar o Glorioso como uma mera ferramenta para exportar jogadores para a Europa. E isso tem a ver com as regras da Premier League para contratar jogadores de fora do Reino Unido.
– O Textor quer transformar o Botafogo na melhor base do Brasil. Ele quer criar uma rede internacional de recrutamento de talentos, e há muito talento desperdiçado no Brasil, acho que nem 25% do potencial é explorado pelos clubes, pelos olheiros. Por isso essa preocupação com o time B, ele quer ter uma fábrica de talentos. E ele não está olhando só o talento brasileiro, ele quer explorar os Estados Unidos através do Brasil, achei isso interessantíssimo. Ele tem a teoria de que um país gigante como os EUA, com tanta imigração latina, não tenha jogador de futebol. O pobre americano joga basquete e futebol americano, e aí você tem a elite que tem que pagar escolinha, que é o beisebol e o futebol. Quem joga futebol é a elite nos EUA – iniciou Kallás.
– O que ele quer é trazer essa molecada para o sub-20 do Botafogo para ver se realmente eles valem, se têm o nível. E ser jogador de futebol nos Estados Unidos e ir para a Europa é praticamente impossível. A Premier League tem um sistema de cotas: para jogar lá, receber o visto de trabalho, tem que ter uma série de requisitos, o Campeonato Brasileiro tem pouquíssimos pontos, mas a Libertadores e a Sul-Americana têm muitos pontos. Jogando nos EUA, você nunca vai conseguir ir para a Europa. Por isso, o Brasil é estratégico para ele. Se não existir o Botafogo, ele não tem como fazer essa rede internacional. Para isso, o Botafogo precisa estar no mínimo numa Sul-Americana, precisa voltar a ganhar e a ser relevante. Precisa ganhar para esses jogadores poderem ir para a Europa e ter visibilidade – completou.
Kallás elogiou a preocupação de Textor com o lado social e quer estreitar os laços do futebol brasileiro com o futebol dos Estados Unidos através do Botafogo, para que jovens possam até mesmo ganhar bolsas universitárias naquele país. E, para isso, quer tornar obrigatório o ensino de inglês nas categorias de base do Fogão.
– Ele falou que será obrigatório na base do Botafogo os jogadores falarem inglês. O mais bacana que ele falou é que, se o jogador não conseguir subir, não ter nível para jogar nem na liga belga, pelo menos terá nível para ir para os EUA, conseguir uma bolsa numa universidade americana e estudar, sendo jogador de futebol. Porque o nível do sub-20 do Botafogo é mais do que suficiente para conseguir uma bolsa numa universidade americana – explicou Kallás.
Torcedor declarado do Botafogo, Kallás não esconde sua paixão pelo clube quando participa dos programas do SporTV, exibindo orgulhosamente uma bandeirinha do Glorioso em seu escritório. O jornalista não escondeu que a conversa que teve com Textor o deixou animado sobre o futuro do Fogão.
– Eu acho que essa paixão dele é genuína, ele não imaginava chegar no aeroporto e ter aquilo tudo, ele virou uma celebridade. No Lyon tem lá o (Jean-Michel) Aulas que é o presidente, no Crystal Palace ele é coproprietário, mas no Botafogo é tudo dele, teve que começar do zero. Não tem CT, não tinha treinador, time, não tinha nada. Estou otimista para caralho (risos) – concluiu.