A SAF (Sociedade Anônima do Futebol) do Botafogo , vendida para o empresário americano John Textor, voltou a ser tema nesta quarta-feira e gerou confusão no “Redação SporTV”, com números desencontrados e informações truncadas. Jornalista especializado em negócios do “Grupo Globo”, Rodrigo Capelo fez um longo fio no Twitter para esclarecer o tema.
De acordo com o jornalista, é preciso primeiramente separar investimentos e despesas. Ele creditou a confusão ao presidente Durcesio Mello, que deu entrevista ao site “GE” na semana passada, dizendo que haverá “investimento mínimo de R$ 200 milhões no Botafogo, sendo metade disso no futebol. Não acaba nesses R$ 400 milhões (iniciais)“.
Além disso, Capelo explicou que “existe mínimo para a folha (salarial do futebol) que a SAF terá entre 1º e 7º ano de operação” com reajuste seguindo correção da inflação ou metade do incremento da receita corrente (sem venda de atletas).
Leia abaixo:
O 1º ponto importantíssimo é a diferença entre investimentos e despesas. a) Investimentos são compras de direitos de atletas e infraestrutura, como a construção do CT. Não são recorrentes. b) Despesas com folha salarial são a soma de salários, imagem e encargos. São recorrentes.
— Rodrigo Capelo (@rodrigocapelo) January 19, 2022
O empréstimo-ponte existe para que o Botafogo possa reforçar o caixa agora, enquanto a SAF ainda não existe e o contrato definitivo com Textor ainda não foi assinado, para que a associação BFR contrate jogadores e consiga arcar com algumas despesas. Falta grana no início do ano.
— Rodrigo Capelo (@rodrigocapelo) January 19, 2022
Querem base de comparação para esses investimentos? Mostro números do @cesargrafietti, publicados no relatório dele no Itaú BBA.
Atletas + infraestrutura
2016 – R$ 23 milhões
2017 – R$ 30 milhões
2018 – R$ 1 milhão
2019 – R$ 28 milhões
2020 – R$ 7 milhões
2021 – Não divulgado— Rodrigo Capelo (@rodrigocapelo) January 19, 2022
Mas sabemos de regras valiosas. 1ª: Existe mínimo para a folha que a SAF terá entre 1º e 7º ano de operação. 2ª: Existe reajuste previsto em contrato, que seguirá (a) correção da inflação ou (b) metade do incremento da receita corrente (sem vendas de atletas); o que for maior.
— Rodrigo Capelo (@rodrigocapelo) January 19, 2022
Agora vamos imaginar que a liga foi fundada e que receitas de clubes dispararam. O Botafogo SAF faturou R$ 200 milhões em 2022 e fatura R$ 300 milhões em 2023 – sem considerar atletas. Do incremento de R$ 100 milhões, metade será acrescida à folha de 2024: R$ 50 milhões a mais.
— Rodrigo Capelo (@rodrigocapelo) January 19, 2022
O Durcesio misturou as bolas com suas afirmações. A imprensa repercutiu, a torcida não entendeu, e o dirigente quase violou cláusulas de confidencialidade. Dirigentes amadores, eu vos imploro: parem de falar! Produzir falsas expectativas na opinião pública fará muito mal a todos.
— Rodrigo Capelo (@rodrigocapelo) January 19, 2022
PS.: Só um acréscimo em relação às despesas. Existem dois mínimos garantidos: folha salarial (salários, encargos e imagem) e orçamento como um todo (folha, manutenção, consumo, administrativos etc). Dou ênfase à folha, porque ela interfere diretamente na performance em campo. 😉
— Rodrigo Capelo (@rodrigocapelo) January 19, 2022
Não, não funciona assim. Foi uma mecânica que eu também levei uns dias a mais para entender. Quando reajustada pela receita, a folha terá como acréscimo a metade do incremento na arrecadação entre um ano e outro. Se subiu de 200 para 300, o reajuste será de 50 (metade de 100).
— Rodrigo Capelo (@rodrigocapelo) January 19, 2022
É por isso que tenho tentado, dentro do meu limitado alcance, dizer para a torcida não dar bola pro Carioca. Não dá pra fazer muita coisa com os R$ 50 milhões. Para o Brasileirão, com os R$ 100 milhões que vêm na sequência, já dá para ter investimentos interessantes em atletas.
— Rodrigo Capelo (@rodrigocapelo) January 19, 2022
Não, JC. Receitas são outra coisa.
— Rodrigo Capelo (@rodrigocapelo) January 19, 2022
"Investiu" é o termo correto.
— Rodrigo Capelo (@rodrigocapelo) January 19, 2022