Lucio Flavio conta detalhes de passagem de Bruno Lage no Botafogo e revela que tentou evitar ‘barração’ de Tiquinho: ‘Fui voto vencido’

Lucio Flavio conta detalhes de passagem de Bruno Lage no Botafogo e revela que tentou evitar ‘barração’ de Tiquinho: ‘Fui voto vencido’
YouTube/Charla Podcast

Bruno Lage foi demitido do Botafogo porque barrou Tiquinho Soares no jogo com o Goiás, no início do segundo turno do Campeonato Brasileiro-2023. O time acabou tropeçando em 1 a 1, com gol do próprio centroavante, que entrou no segundo tempo. Em entrevista ao “Charla Podcast” nesta terça-feira (5/12), o então auxiliar Lucio Flavio contou que tentou demover o treinador português da ideia.

Tiquinho teve a lesão contra o Cruzeiro, ficou algumas rodadas sem atuar, é normal voltar sem o mesmo rendimento de antes. Foi substituído duas ou três partidas em sequência. Durante a semana, ele (Lage) não abriu muito a questão da escalação. Nós todos só ficamos sabendo no dia do jogo, no hotel, no vídeo que fazemos no almoço. Na semana ele treinou com Tiquinho e Diego Costa, só com Tiquinho, foi fazendo variações, mesclas. Quando faltavam dois dias levantou essa situação, “estou pensando em jogar com Diego”. Falei, aí entrou a questão do voto vencido: “Bruno esse é um jogo que podemos jogar com os dois, Diego e Tiquinho, recuamos Eduardo, deslizamos Tchê Tchê na saída do lateral deles”. Júnior Santos não vinha jogando com ele. Falaram que ficaríamos muito vulneráveis, respondi: “Vamos jogar em casa, não vão atacar com mais do que com cinco homens. Vão atacar no momento que errarmos”. Foi uma ideia que dei – iniciou.

– Na véspera, ele fez um treino que não abria a escalação. No final, disse que estava mais propenso a jogar com o Diego. Falei: “Bruno, vamos pensar aqui, o Tiquinho, se não machucasse, a chance de ir para a Seleção Brasileira era muito grande, existe a expectativa por uma convocação, acho que não seria bom tirarmos do time, é o artilheiro do Campeonato, ídolo da torcida e de grande parte dos jogadores do elenco. Concordo que o Diego está bem, por isso temos que jogar com os dois”. Se divulga escalação com os dois, já mexe com os adversários no vestiário, faltando uma hora para o jogo. Era um encaixe interessante para o jogo. Aí vem a situação no hotel, o vídeo, vem a escalação. Fui jogador, preferia ir dormir sabendo se ia atuar ou não. Ele comenta assim: “Vou conversar com Tiquinho, é um cara simples”. Falei: “Você tem razão, ele não vai gerar problemas, pode ficar insatisfeito, mas na dele. Agora, qual a repercussão para o grupo?” Quando sai a escalação, já vi algo estranho. Mais silêncio para o almoço. Vestiário também diferente. Os caras são profissionais, vão para o jogo, sai a escalação, o clima do estádio já fica mais pesado. Falei para ele que não precisávamos trazer peso, era jogo em casa, importante, precisávamos ganhar, até para a questão do título. Naquele momento, não dá certo. Goiás sai na frente, ele teve que entrar e fez o gol. Não sabíamos, mas daqui a pouco um dos analistas fala “o que é esse negócio de Tiquinho Day?”. Respondi que era uma preparação que a torcida está fazendo para esse jogo. Depois da lesão, era a primeira ou segunda vez jogando no Nilton Santos, vai voltar a fazer gol. Infelizmente, iniciou no banco – lamentou Lucio Flavio.

🎙️ Leia abaixo outras partes da entrevista:

PERMANÊNCIA COMO AUXILIAR

– Quando foi anunciado o Bruno Lage, era uma situação normal eu voltar para o Botafogo B, mas a recepção dele em relação a todos já era diferente. Uma forma um pouco mais simples, mais aberta. Em um primeiro momento, na questão de não conhecer inteiramente, pela primeira vez vindo para o Brasil, se mostrou aberto em pedir ajuda. Faz um treino antes do jogo da Sul-Americana, empatamos. Aí veio o jogo do Santos. Pensei que ficaria mais uns dias, uma transição, mas na véspera do jogo com o Santos eu não imaginei que fosse viajar, até pelo que acontecia em relação ao treinador anterior, eles observam e perguntam se não vou. Aí chama-se o auxiliar e ele diz “quero que Lucio vá, vai me ajudar”. Chama toda a comissão dele e fala que se o Lucio quiser pode ficar conosco aqui. Eu queria conhecer o trabalho, vivenciar, sou um auxiliar do clube. Tanto é que me coloca até no banco com ele, cria uma situação de eu ser o responsável pelas bolas paradas. Toda vez que tinha falta ou escanteio eu ia lá na frente. Ele gostava que acontecesse isso. Cada um dos auxiliares tinha uma função específica. foi bacana por parte dele a integração.

MUDANÇAS NA FORMA DE JOGAR

– Quando o Cláudio (Caçapa) vem e fala que ia ficar só quatro jogos, não tínhamos motivos para mexer em nada. Porque ia vir outro profissional, com a cabeça dele, ia introduzir o perfil dele. O próprio Bruno falou sobre isso em entrevistas, ia acrescentar o pensamento dele. Foi justamente o que tentou. Até algumas modificações dele fizeram efeito positivo, outras não. Alguns jogadores se sentiram desconfortáveis. As pessoas falam em linha mais alta, Luís Castro em alguns momentos subia também. Mas Luís entendeu que o Botafogo era time de transição, que reagia. Ano passado os jogos que teve mais dificuldade foram em casa contra equipes retraídas. Perdeu uma vaga na Libertadores porque perdeu muitos pontos em casa, contra Avaí, Cuiabá, Goiás. Era um perfil que o Luís entendeu. No Estadual como foi? Teve dificuldade. Na cabeça do Bruno, sabia que ia ter dificuldade com isso, por isso quis mudar a característica. Eu tinha boa liberdade com o irmão dele, auxiliar principal, falei “sei que está tentando mexer nisso ou naquilo, mas está dentro do perfil do grupo, vamos tentar ajusrar isso para não ser 8 nem 80”. Aos poucos deram ouvidos, fomos tentando ajustar, fizemos jogos bons contra Bahia, Coritiba e Inter, em outros não tão encaixou tão bem. Mas não era uma situação que ficava muito distante dos adversários.

REAÇÃO PÓS-CLÁSSICO COM O FLAMENGO

– Um clássico, duas equipes de alto nível, qualquer um poderia vencer, venceu o Flamengo. Seria comum falar “tentamos e não fizemos um bom jogo”. A mesma reação que teve quem estava na sala de imprensa nós tivemos no vestiário porque estávamos acompanhando a entrevista dele. Começamos a um olhar para o outro, ninguém sabia nada, foi um fato que chamou atenção até para nós. Quando volta, ele fala que queria chamar a responsabilidade para ele, tirar dos jogadores, porque vinha sentindo uma pressão de obrigação de ganhar o campeonato. Perdeu o primeiro jogo em casa. Isso repercutiu em debates esportivos e provavelmente no grupo, alguns não gostaram da forma que se pronunciou. Fomos aos poucos tentando ajustar. Isso para um grupo não soa bem. Jogadores se falam. Percebemos isso, as primeiras falas minhas foram “vamos tentar refazer”, aos poucos fomos recuperando, normalizando, digamos. Até chegar o jogo do Goiás. Andou normal até ali.

A SAÍDA DO BOTAFOGO

– Teve uma reunião sobre a continuidade ou não, houve opção pela saída. Não sei se tentaram trazer o Cláudio, na cabeça do jogador já veio um treinador tentar fazer diferente, então pensaram “mantém o Lucio”. Acredito que apoiaram. Não chegou nada deles para mim, mas como fui colocado deve ter tido um consenso. Não houve manifestação que eu era o treinador efetivo, era o auxiliar assumindo a função. Isso é normal.

Fonte: Redação FogãoNET e Charla Podcast

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