Lucio Flavio explica por que se sentiu ‘injustiçado’ em saída do Botafogo e aponta jogo que ‘tirou condição do título’

Lucio Flavio, ex-auxiliar técnico do Botafogo
YouTube/GE

Ex-auxiliar técnico e treinador interino do Botafogo, Lucio Flavio deu entrevista ao podcast “GE Botafogo” na manhã desta terça-feira para relembrar o que aconteceu em 2023. Ele apontou qual jogo foi determinante para o time perder o título no Campeonato Brasileiro.

– Não participei até o final, como todos sabem. Olhando de fora, o jogo que de fato praticamente tirou da condição de título foi contra o Santos. Se vence, teria mais três jogos para brigar pelo título. E era um adversário que naquele momento estava ameaçado, acabou caindo. Até pelo jogo que o Botafogo estava fazendo, não se esperava levar o gol como levou, praticamente no último lance. Levou para os outros jogos a necessidade de vencer, foi o que aconteceu. Todos nós temos consciência que o jogo com o Coritiba poucas vezes vai se repetir. Por ter ido para jogo com Fortaleza, difícil, ter conseguido empatar, foi o jogo com o Santos que tirou a possibilidade de conquista – afirmou.

Demitido em novembro de 2023, Lucio Flavio explicou por que se sentiu injustiçado e disse não ter se arrependido de ter virado interino.

– Em relação a me arrepender de ter assumido o clube, não, jamais. Até porque eu era funcionário. Por que falei que me senti injustiçado? Primeiro porque o clube na vinda do Luís Castro optou por não ter auxiliar na equipe profissional, ele veio com toda a comissão. O desenrolar do tempo mostrou que na saída do Luís Castro o clube ficou sem ninguém. Eu era treinador do sub-23, não participava do dia a dia do profissional, mas fui chamado em uma manhã que estava dando jogo-treino pedindo para me apresentar no Lonier. O jogo contra o Vasco o Cláudio (Caçapa) já estava, mas todo o trabalho foi realizado por mim, porque ele chegou no sábado no fim da tarde. Teve a continuidade com Cláudio, escolha pelo Bruno (Lage), pedido pela minha permanência por parte do Bruno. Com a saída dele, o que me passaram foi que eu ficaria à frente até o fim do campeonato, mas já vinha se falando na vinda de um treinador para 2024. Eu não estava como treinador do Botafogo, eu era um funcionário do clube. Assumi contra o Fluminense, se não tivesse contra Fluminense e América-MG, ali já teriam contratado um treinador. Ganhamos as duas, o rendimento foi bom, aí veio sequência a partir do jogo com Athletico-PR, que foi muito atípico pelas quedas de energia e por tudo como aconteceu. A partir dali, o Botafogo não ganhou mais nenhum jogo. Por isso falei em ter sido injustiçado. Porque durante todo esse processo o único funcionário que acabou saindo fui eu. Sendo que no jogo com o Red Bull Bragantino fui informado que permaneceria como auxiliar, que era minha função até a saída do Bruno Lage. Por isso as coisas não ficaram muito corretas nesse sentido. Sei que houve uma parte de pressão externa principalmente sobre o dono do clube, e ele optou pela minha saída nesse caso – disse.

– Imaginei que ficaria mais tempo como auxiliar do clube. Eu fiquei no lugar do Bruno Lage, mas sem ter da parte do clube a efetivação como treinador. Eu não recebi R$ 1 a mais de salário porque fui treinador da equipe principal. Meu salário era o de funcionário do clube – lembrou.

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Maior peso

– Acho que um pouco mais forte foi esse aspecto psicológico, principalmente após o jogo com o Palmeiras. Ficou mais latente, aconteceu em diversos jogos, principalmente no momento em que se tomava um gol. Era muita notória a queda no jogo. Em vários dos jogos, a equipe tinha comportamentos bons técnicos, táticos e o físico entra na questão da própria cabeça, de estar indo para reta final de competição, com expectativa alta criada. Esse lado psicológico pesou demais. Mesmo depois da minha saída, isso aí ficou muito forte em relação ao término do Botafogo.

Integração e interinidade

– Da chegada do Luís Castro, foram quatro meses até a vinda de um coordenador técnico para a base. Nesses quatro meses iniciais não houve nenhum contato. A não ser no dia da apresentação dele, foi quando teve reunião comigo, explicou situação da equipe B e disseram que me queriam como técnico da equipe B. Ali ele me perguntou sobre alguns jogadores, foi o único contato que tive até a vinda do coordenador. Aí entrou a situação do Botafogo Way, levou mais quase dois meses para que pudéssemos assistir a um treino da equipe profissional. A partir daí, nesse primeiro contato com Luís, eu por ser treinador da equipe B e por muitas pessoas falarem de mim, ele passou a me dar mais condição de assistir a treinos. Mas eram nos mesmos horários os nossos treinos, assisti a uns cinco ou seis. Assistia a todos os jogos, sabia como o Botafogo jogava, os comportamentos. Com a saída do Bruno, eu vendo a dificuldade de alguns jogadores, por eu estar lá no contexto, procurei fazer que a equipe trabalhasse em cima do que estava acostumada e levou à liderança. Do período que tive ali à frente, o único jogo foi contra o Vasco, mais amarrado, mais feio, até pela situação dos jogos, psicologicamente não estávamos bem. Quem fizesse o primeiro gol certamente ganharia. Contra o Grêmio tivemos bons momentos, fizemos 3 a 1, contra o Bragantino fizemos um jogo equilibrado, bom, até o meio do segundo tempo.

Ter mantido parte tática

– Sobre mudança tática, você falou que o Tiago mudou, mas ele não tinha o Marçal e o Hugo. Foi obrigado a mexer na característica da equipe. Foi um fato novo. Até teve momentos interessantes da forma que a equipe jogou, era uma oportunidade pelo fato de ter uma necessidade. Era difícil para uma equipe há tanto tempo liderando chegar e querer fazer ajuste na questão tática sem ter necessidade gritante.

Diferença do Botafogo nos turnos

– O primeiro turno, principalmente, para quem é do futebol e teve primeiro momento muito aquém no Campeonato Carioca, fez os jogadores e a comissão usarem como algo para alimentar o que seriam em relação ao Brasileiro, de ninguém acreditar ou apostar. Se formos pegar a situação de favoritos, o Botafogo nunca esteve ali. Por aquilo que havia demonstrado. Isso fez o trabalho e o grupo entenderem que teriam que fazer algo mais para performar e ter campeonato diferente. A resposta foi sendo dada. Ao longo de todo o campeonato, foi-se falado que o Botafogo não tinha aquele grande jogador, o Tiquinho foi se destacando fazendo gols, mas o grupo era o ponto forte. Naquele primeiro momento, mesmo após jogo ruim na Sul-Americana, contra o Magallanes, quando assumimos contra o Vasco a equipe já tinha a questão da confiança, o automático, porque já tinham muito forte dentro dele tudo que haviam construído, foi dado sequência. Quando assumo depois do Bruno, havia uma diferença porque cada treinador tem um pensamento, uma forma de enxergar o futebol. Bruno tentou implementar a forma dele trabalhar, em determinado momento surtiu efeito, em outros não. Isso fez com que alguns jogadores tivessem uma queda de produção, outros ficaram não satisfeitos com a forma que as coisas estavam andando, tivemos que realinhar. Por isso alguns jogadores deram entrevista nesse sentido, de que Lucio deu sequência ao trabalho que tínhamos. Uma equipe que vem em momento bom e perde treinador, no outro foi que treinador não estava fazendo o que se imaginava, na concepção do clube.

Ausência de reforços

– Às vezes não é simples no momento. Até pelo que a equipe vinha fazendo, tinha a liderança. Percebeu-se que os reforços teriam que vir eram olhando um pouco mais à frente. Era uma ideia. Tua equipe está certinha, tudo correndo bem, existe até certo receio de trazer alguém que possa atrapalhar o processo, o ambiente. Era um dos cuidados que a direção tinha. O outro era financeiro, por o clube ter tido gasto maior no ano anterior. Optou-se por não trazer mais ninguém, a não ser mais na frente, o Diego Costa, por causa da lesão do Tiquinho. Como a equipe não perdeu ninguém praticamente, foi-se pensado que “como caminhamos bem durante todo esse período, vamos levar com esse grupo e pontualmente, se houver necessidade, trazer alguém”.

Houve oba-oba?

Algumas situações, não aponto para o grupo, todos tinham consciência que não tinha oba-oba. Havia possibilidade grande de atingir objetivo, mas ali você consegue controlar, o que está fora não. A torcida estava entusiasmada, a cada jogo era uma festa mais bonita que a outra, fora de casa a carga terminava rapidamente porque a torcida estava acreditando. O entusiasmo vinha por parte do torcedor, é difícil você lá dentro controlar, como pedir para o torcedor não fazer isso? Ele tem sua paixão, sabe os momentos que passou na história do clube, não são todos os anos que o Botafogo consegue um nível alto. Era uma torcida acreditando e fazendo de cada jogo uma festa, aproveitando bem o momento. Por parte de jogador e do dia a dia, isso aí não existia. Sabemos que futebol não dá essa oportunidade de querer comemorar antes ou fazer algo que não seja continuar o trabalho e ter as convicções necessárias.

Fonte: Redação FogãoNET e podcast GE Botafogo

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