Ter sido vaiado e xingado por torcedores do Botafogo ainda incomoda Luís Castro, hoje técnico do Al-Nassr (SAU). O treinador português admitiu em entrevista a “O Jogo” que ficou magoado com determinadas atitudes.
– A massa adepta é muito emocional e adora o clube. A emoção e a forma como se expressa no estádio é muito natural. Esse comportamento nunca magoa. O que magoa é a premeditação de alguém ir a um estádio para ofender outra pessoa. Ter as bancadas cheias de gente que dirige palavras menos próprias ao treinador não ofende, mas a premeditação ofende e é imperdoável – disse.
O técnico contou as melhorias que foram promovidas no Botafogo e revelou que não esquecer as críticas.
– Foi um percurso ondulante, como o Oceano Atlântico. Chegámos e não tínhamos nada. Não havia centro de treinos, campo para treinar e o estádio tinha más condições. Não havia um sítio para fazermos as refeições juntos, não tínhamos massagens, nem sequer marquesas. A equipe vinha da Série B e tinha de ser reconstruída, apesar de ter muitos jogadores e seres humanos bons. Tínhamos de refazer tudo. Encontrámos também uma mentalidade muito fatalista. Após um jogo, ganhando ou perdendo, as pessoas pensavam que não iriam voltar a vencer – ponderou.
– Em primeiro lugar, tivemos de encontrar um centro de treinos com balneários que permitissem que todos se equipassem juntos. Depois, também foi necessário construir uma mentalidade vencedora, a parte mais difícil, dado que necessita de comunicação permanente. Fomos resolvendo problemas. Os jogadores deixaram de comer sandes depois do treino e criámos um refeitório, um posto médico, um auditório e outras condições, implementando uma organização que permitiu ao clube estar pronto para discutir algo no futebol brasileiro. Na primeira época criámos essas condições e partimos para a segunda com o objetivo de conquistar uma vaga na Libertadores. O compromisso com o grupo era simples e passava por melhorar sempre a classificação. E se estivéssemos em primeiro a ideia era aumentar a vantagem. Depois de um Carioca muito mau, quase toda a gente pediu a minha saída, curiosamente os mesmos que depois pediram para eu ficar. Mas ainda somos donos de nós mesmos. Quem bate esquece, mas quem leva nunca esquece. Não saí por isso, mas sim pela oportunidade única que tive. No futebol, não são só os clubes que podem dispensar treinadores. Às vezes também pode acontecer o contrário. A vida de um treinador não é só chegar ao estádio e a administração mandar embora – completou.