Técnico do Botafogo há um ano e dois meses, Luís Castro já consegue fazer um bom diagnóstico do futebol brasileiro. Apesar de considerar excessivo o número de partidas, o treinador alvinegro está feliz no país. Ele apenas faz a ressalva sobre as consequências da quantidade de jogos.
– Começando pela loucura do futebol brasileiro, é loucura pela densidade de jogos. São muitos jogos. Embora na pandemia já tenha passado por isso no Shakhtar Donetsk, aqui no Brasil é por opção. O Brasil optou por condensar jogos, fazer de dois em dois dias, chegou à conclusão que o produto é muito vendável, o mundo também já chegou a essa conclusão, por isso a Fifa está a pensar em regulamentar tempo de descanso aos jogadores, que não são máquinas. Essa loucura penaliza fundamentalmente o futebol brasileiro, não deixa vender da melhor forma para o mundo. Só um jogador fresco consegue desempenhar seu máximo. Como regulamentar tudo isso, os gramados, o número de jogos, o número de lesões que vamos tendo ao longo do campeonato, é algo que não compete a mim, compete à CBF. Vamos ver como consegue equilibrar tudo isso – ponderou Luís Castro, em entrevista ao programa “Baita Amigos”, do Bandsports.
– Claramente é um número exagerado de jogos, não para nós treinadores, mas para quem está dentro do campo. As equipes em determinados momentos estão exaustas, com jogadores lesionados, suspensos, a forma como saem os amarelos do bolso dos árbitros é muito fácil, muitas vezes não é porque o jogador tenha propósito de agressão, é pelo cansaço, pela descoordenação mental. Temos um número demasiado de jogos já na temporada. Quando vim ao futebol brasileiro, sabia que ia apanhar por isso, aceitei em consciência. É um dos campeonatos mais difíceis do mundo, felizmente com jogadores e treinadores de grande qualidade, o que me dá prazer de estar aqui – adicionou Luís Castro.
O técnico comentou ainda sobre o período de descanso na Data Fifa e a viagem que fez a Portugal.
– Vocês sabem que quando voltamos ao nosso país temos sensações que nos invadem, um gosto enorme voltar ao país que nos viu nascer, na condição que voltei. Tenho estado pouco tempo nos últimos anos lá. Saí do Al-Duhail, passei no Porto para trocar mala e viajei para o Brasil. Agora foram dois dias em Portugal, vemos família, amigos, conversamos com pessoas, contamos histórias, ouvimos histórias e as histórias que contei desta vez eram bonitas – explicou.
– Há uma coisa que eu gostaria de falar, sou treinador do mundo, não sou treinador português. Tive o Marinho Peres e Paulo Autuori como meus treinadores, eu não dizia “o treinador brasileiro”. Dizia o professor Paulo Autuori, o Mister Marinho Peres. Sempre disse que quem sai cedo de casa abraça o mundo, não o país. Não distingo pessoas, países, raças, nada. Treinador deve ser transversal ao futebol. Outra coisa que tenho bem consciente, tenho grandes amigos aqui, bons amigos treinadores no Brasil, não é nacionalidade que me faz saber mais ou menos. Aprendo muito com meus amigos treinadores – acrescentou.
Luís Castro ainda detalhou qual o estilo de jogo prefere.
– Sou um treinador que gosto que minhas equipes controlem o jogo, joguem no momento ofensivo ocupando os três corredores, tenham variações, cheguem juntos à frente, ocupem a área com muitos jogadores. Mas depende do contexto que trabalhamos. Muitas vezes os objetivos ds clubes que representamos é diferente, em relação a jogar para ser terceiro e conseguir uma classificação para a Champions League do que ser campeão. Equipes que jogam para ser campeãs têm mais vitórias. Jogar de forma ofensiva me atrai, mas para jogar de forma defensiva todos têm que estar bem postados. No ataque podemos chegar com três e fazer um gol, ao defender com menos três você vai passar dificuldades. Apesar de ser ofensivo, o que mais peço para minhas equipes é para jogar para ganhar contra qualquer equipe do mundo em qualquer lugar do mundo. Só uma equipe bem equilibrada dá para a paz necessária para uma equipe atacar. Sou esse treinador – descreveu.