Já são 15 jogos de invencibilidade, cinco vitórias em cinco partidas no Campeonato Brasileiro e liderança da competição. Afinal, o que mudou no Botafogo do início temporada para o atual? Em entrevista coletiva, o técnico Luís Castro revelou que um episódio foi fundamental para a virada.
– Há quatro dimensões do rendimento. Uma delas, é psicológica. Mesmo quando todos não acreditam, como líder, temos que fazer acreditar. Sempre acreditamos, com a família unida, nunca abrimos brecha. Isso é fundamental como em cada lar. O mais difícil era reverter essa onda. Lembro que na final da Taça Rio, que não queríamos, mas era a realidade, era o jogo que tínhamos, tínhamos que ganhar. Com surpresa nossa, quando ganhamos fomos insultados por todo estádio – espantou-se Luís Castro
– Não entendemos. Ou era seguir bem unidos, bem fechados… A situação estava insustentável. Não entendíamos que estávamos há cinco jogos sem perder e continuávamos a ser insultados. O que queriam de nós afinal? Entregávamos resultados positivos, e recebíamos insultos. Foi um momento decisivo. Só tínhamos uma forma a fazer, era seguir, com apoio da administração. Estávamos unidos, com apoio de todos os departamentos. A dimensão mental se manteve. Não foi ao fundo. Ela precede a dimensão física, tática, estratégica e técnica. Ela estando boa como esteve, resgatamos a equipe. Voltamos à casa, a um gramado de qualidade e as coisas aconteceram – contou o treinador.
O técnico português pediu mais tempo aos profissionais do futebol e mais reflexões.
– Muitas vezes, olhamos para o jogo e percebemos que falta ocupar aquele espaço, mas logo o jogador já vê. “Ah, no início não faziam isso”. Mas jogamos com a casa nas costas por dois meses, sem nosso estádio por dois meses. Não é desculpa. O terreno de jogo é fundamental para desenvolver o bom futebol. As principais ligas jogam com os melhores gramados. Mas tem gente que acha que tem jogar da mesma forma no terreno baldio ou num bom gramado. O que lhes interessa é o sangue, o que tem de pior no futebol – citou.
– Querem melhorar o futebol brasileiro? Destaquem o que há de melhor no futebol brasileiro. Não andem à procura dos problemas. Já viu que nas redes não aparece problema de ninguém? Queremos explorar nos outros tudo que é bom. Mas sou ser humano, tenho coisas más, erro como os outros. E daí? Não posso errar? Em outros trabalhos as pessoas erram uma, duas ou três vezes ninguém fala para afastar. E aqui tem que se afastar logo. Deem tempo aos treinadores também. Não é no Botafogo, é em todos os clubes. Deem tempo como dão a muito de vocês que vão para as profissões e erram uma, duas, três vezes e os mantém nos cargos e depois são grandes jornalistas, médicos ou engenheiros. Não é para mim que quero tempo, deem tempo ao futebol – acrescentou.
Luís Castro vê o Botafogo em uma transformação importante para o futuro.
– Prefiro pegar mais abaixo, a mudança do Botafogo. Prefiro pegar no evento que teve no Botafogo esta semana com todos os departamentos, aí está o futuro, com a organização que existe, a grande mudança do Botafogo, através do professor João Paulo Costa, com o staff em volta dele para fazer emergir uma academia que tem qualidade, mas que na minha opinião precisa percorrer caminhos para chegar à excelência para servir um clube de excelência, tradicional, que tem muito prestígio – avisou.
– O prestígio dos clubes caminha ao longo dos tempos e não precisa de vitórias, precisa de dignidade. Mas o que nos preocupou foi dignidade, que temos que ter sempre. E fomos sempre dignos. Trabalhamos muito. A derrota é só uma derrota, só que a derrota às vezes apaga toda a dignidade que levamos a campo. E tem pessoas que não são honestas intelectualmente, que colocam em pauta os seres humanos nesse momento. O Botafogo realmente está de volta, mas é pelo seu prestígio ao longo dos tempos e fica mais vivo. Não é só pelos resultados – completou.