Série que mostrou os bastidores do Botafogo em 2021, “Acesso Total” foi um sucesso ao revelar os detalhes do funcionamento do clube. Para o colunista Carlos Eduardo Mansur, em sua coluna em “O Globo”, os episódios provaram também que o Alvinegro “não estava pronto para ganhar” na Série B.
O jornalista relembra episódios como a tumultuada demissão de Marcelo Chamusca, com pressão de conselheiros e o vice-presidente Vinicius Assumpção admitindo buscar “alguém para resolver”, mesmo antes da saída do antigo treinador.
Outra cena lembrada é a de um integrante de organizada enquadrando Kanu na sala do diretor de futebol Eduardo Freeland, na presença de um PM armado: “Você não vai falar comigo do jeito que falou (com torcedores) no jogo com o ABC”.
– É justo o espectador duvidar que tal enredo, permeado por salários atrasados, vá terminar em título. Ex-dirigente do Barcelona e hoje no Manchester City, Ferran Soriano escreveu “A bola não entra por acaso”, livro em que defende processos como premissa para resultados. Talvez, a série o convencesse de que não é tão incomum a bola entrar por acaso. Só é mais fácil entrar quando se tem um projeto – escreveu Mansur.
– Não se trata de desmerecer a boa intenção de Durcesio, a tentativa de Freeland de impor racionalidade ao caos, ou o trabalho de Enderson Moreira e dos jogadores. O Botafogo ganhou a Série B com méritos. Mas de constatar que aquele não era um clube pronto para ganhar. O que é um debate rico em tempos de SAF – acrescentou.
Mansur cita também a chegada de Ronaldo Fenômeno ao Cruzeiro, bem diferente do esperado. Em vez de investir em contratações, ele primeiro busca cortes no orçamento.
– O modelo tradicional tem sua parte no endividamento bilionário de Botafogo e Cruzeiro. Pela via das receitas orgânicas, a recuperação soava tão utópica quanto imaginar investidores injetando dinheiro para cartolas amadores, que fabricaram tais dívidas, administrarem. Não há SAF que garanta salvação, mas a esta altura não parecia restar outro caminho a Botafogo e Cruzeiro. Apenas torcer para que a bola voltasse a entrar por acaso – completou o jornalista.