Mansur: ‘Acho injusto se criar narrativa que é preciso discutir fair play financeiro por causa do Botafogo’; apresentador vê reclamações como ‘clubismo’

Mansur: ‘Acho injusto se criar narrativa que é preciso discutir fair play financeiro por causa do Botafogo’; apresentador vê reclamações como ‘clubismo’
Reprodução/SporTV

O tema fair play financeiro foi amplamente debatido pelo programa “Troca de Passes”, do SporTV. Apesar de consideraram que o assunto é importante, os jornalistas criticaram o timing, que parece ser por conta dos altos investimentos do Botafogo.

O comentarista Carlos Eduardo Mansur é a favor do fair play financeiro, mas deu razão a boa parte das declarações de John Textor.

– O assunto vem sendo tratado por vezes de forma um tanto simplista, é muito complexo, tem muitos pontos envolvidos. Acho injusto se criar narrativa no futebol brasileiro de que é preciso discutir fair play financeira por causa do Botafogo, como se o Botafogo estivesse fazendo algo fora da regra. As regras hoje permitem tudo que John Textor está fazendo. Ao vir para cá ele certamente observou o ordenamento jurídico do futebol brasileiro, fez os investimentos. Tem razão quando fala na entrevista que o Brasil criou a lei da SAF, ele entendeu a lei, e o contrato com a associação o obrigava a investir. Tinha parâmetros de investimento que precisava cumprir – lembrou, fazendo ressalvas.

– Acho um equívoco e uma simplificação um pouco rasteira de entender fair play como o quanto se pode investir a partir de percentual de sua receitas. É uma série de ações de governança. Tem vários desenhos de fair play financeiro no mundo, como de limite de gastos a partir das suas receitas, limites máximos de perdas, limites máximos que o dono pode investir das suas empresas além do que o clube tem, e isso vai permitindo gradativamente ao clube ampliar suas receitas e ter crescimento sustentável. Não é verdade que fair play financeiro serve para manter um clube onde está, para manter o status quo. A origem é que tenha mecanismo de sustentabilidade de clubes. O ponto que discordo do John Textor é quando de certa forma desdenha de que é proteção a clubes. O conceito de proteção está dentro das regras, para clubes não serem plataforma para lavagem de dinheiro, origem ilegal, o que claramente não é o caso do Botafogo e do John Textor. Que o clube não seja extremamente dependente de uma pessoa ou organização estranha ao jogo – frisou.

– Qual o exemplo do Brasil? O Fluminense na época da Unimed contratava acima das suas receitas. Em dado momento, a empresa saiu do jogo. Os contatos com jogadores ficam em clube que não tem condição de sustentar, o futuro imediato é o flerte com rebaixamento, tanto que andou oscilando. E se os negócios do dono da SAF fora do futebol quebram, se ele quebra? O clube fica com obrigação dos salários. Se tiver bilheteria, direitos de TV, você vai ter mais garantias de que é sustentável. Ninguém torce por isso, meu Deus do céu, mas um clube que tem um dono colocando bilhões, se tem problema de saúde, em dois dias não está mais aí, o clube fica com essas obrigações. É preciso ter proteção ao clube. Um fair play que proteja o clube não permitiria que o Cruzeiro acontecesse, de chegar a esse nível de quebra. Teria sido impedido de contratar já no início do processo – acrescentou Mansur.

O apresentador Felipe Diniz aprova a forma de investimento de Textor e reclama de clubes que contratam sem honrar seus compromissos.

– O investimento é bem-vindo. Queremos que nossa liga melhore, cada vez mais ver movimentos como esse do Botafogo, que Palmeiras e Flamengo fazem há mais tempo, de trazer grande jogadores, deixar o ambiente cada vez melhor. O que não podemos permitir é que haja o calote. Esse é o ponto principal. Fair play financeiro pode ser moldado de inúmeras maneiras, mas quais serão as regras? Investimento como John Textor faz no Botafogo acho super bem-vindo, trazer o Botafogo para ser de novo um dos gigantes, acho ótimo. O que tem que ter é proteção para que você não possa contratar jogadores a peso de ouro sem pagar os outros. Isso não pode acontecer – pontuou Felipe Diniz.

– Fair play financeiro não é só limitação de investimento de acordo com receitas, é também cumprimento de obrigações. É quase um licenciamento de clubes para competir, cumprir determinadas prerrogativas – explicou Mansur.

– Hoje o Botafogo, o que acho interessante, é que tem recursos. Recuperou um clube destruído, a marca vale mais, tem ativos, contratou. Mesmo que John Textor virasse as costas, tem que ter determinada proteção, não é só o salário, tem jogadores como ativos, CT, estrutura, precisou fazer isso – disse Alex Meschini.

Mansur acredita que um fair play financeiro será benéfico ao futebol brasileiro, ressaltando ainda que é preciso discutir outros aspectos, como a distribuição de receitas.

– Acho até que há medidas que seriam boas para o Botafogo que poderiam estar incluídas. Não é criar Europa ou Suíça da noite para o dia, com série de regras duras que ninguém nunca praticou. Você tem que ter um processo, discutir com boa-fé, não de maneira clubista. Você pode ter investimento, abre espaço para investir, ampliar receitas, por outro lado é preciso ter sustentabilidade do investimento proporcional a receitas ordinárias do futebol para não colocar entidades em risco. “Ah, mas o outro tem receita maior”. Junto, pode discutir a distribuição de receitas de TV, receitas comerciais do campeonato, ter um ajuste. É um ponto que pode estar na mesa. Tenho ligeira discordância de quando se fala que fair play financeiro não é justo. Tem vários conceitos de justiça aí. Se tenho clube que precisa fechar no azul e trabalho para isso, como competir com clube que não precisa fechar no azul? Isso aí é para discutir, é outro ponto para ser colocado na mesa. Tudo pode ser discutido, o importante é todo mundo estar honestamente disposto a discutir, não por casuísmo clubista, mas uma série de regras de proteção para não termos quebradeira, risco ou aventuras. Hoje, o que o Botafogo faz é bom para o Campeonato Brasileiro, é ótimo. O que não significa que não podemos botar à mesa algumas discussões sobre regulações – destacou Mansur.

– Regulação é ótimo, o problema é o momento que as coisas são feitas, quando alguém incomoda, como é o caso do Botafogo. O problema é que tudo no Brasil é feito só com base no clubismo, não para melhorar o produto. A partir do problema que deixo de ganhar, quero criar um fato novo para tentar diminuir aquele que vai passar a ganhar. Se todo mundo tivesse preocupado com o todo, seria ótimo. Regra é sempre bom, desde que seja cumprida – completou Felipe Diniz.

Fonte: Redação FogãoNET e SporTV

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