O Botafogo virou a bola da vez no futebol brasileiro. Líder do Campeonato Brasileiro e nas quartas de final da Libertadores, o time é indiretamente o “pivô” da discussão de fair play financeiro, porque rivais estão incomodados com o investimento de John Textor.
Na visão do comentarista Carlos Eduardo Mansur, do “Redação SporTV”, o melhor caminho não é esse.
– Sentar à mesa para discutir fair play financeiro por causa do Botafogo vai levar aos piores resultados. Porque o início da conversa vai ser ruim, embora também seja possível, entre outros temas, incluir Botafogo e Bahia, discutir se em competição que tem clubes precisando fechando no azul e um que pode ter perdas por que tem dono colocando dinheiro é saudável do ponto de vista da igualdade. Pode discutir junto à divisão dos recursos. Mas a disposição tem que ser de construir competição saudável – declarou Mansur.
O incômodo do jornalista é com a contratação de Memphis Depay pelo Corinthians.
– Não tem nenhuma regra no Brasil que impeça clubes que não pagam seus compromissos de continuar inscrevendo jogador. “Ah, tem patrocinador que vai arcar com custo”. Isso não encerra o debate financeiro de clube com dívida de R$ 2 bilhões com dificuldades para cumprir compromissos correntes. Se faltava um rosto famoso para exemplificar por que o futebol brasileiro é descontrolado e precisa de regulações, daí o debate fair play financeiro, caso venha a ser travado com honestidade e princípios, não com casuísmos. É construir ambiente regulado para ter futebol mais saudável. Se precisava de rosto, está aí. É só pegar o rosto do Depay na apresentação. É o retrato do descalabro do futebol brasileiro – criticou.
Mansur ainda discorreu mais sobre a discussão de fair play financeiro no Brasil.
– Me incomoda porque estamos quase sempre discutindo com objetivo de tirar vantagem ou impedir vantagem de um clube se destacando. É ruim se destacar do fair play financeiro como mecanismos de proteção de clubes, porque ele de fato é. O Cruzeiro não aconteceria, o que quase quebrou. Em meio a tantas temporadas que produziu resultados esportivos que não se sustentavam na realidade econômica, com dívida galopante, o processo de país com regulação interromperia no meio – ponderou.
– Não gosto do exemplo que o fair play financeiro seja desenhado para manter status. Existem clubes que com investimento cresceram no cenário internacional, como Manchester City. Vai se discutir se burlaram regras, tem 115 acusações, acho que punição vai vir, de maneira exemplar. Há várias maneiras de desenhar o fair play financeiro, não tem maneira única. Pode por exemplo permitir nível de perda ou aportes proporcionais a receitas, mas excedendo, durante um tempo. A questão é não manter um clube dependente de uma empresa ou pessoa estranha ao jogo. O Corinthians tem contrato com empresa de apostas que vai bancar Depay, não tem recursos para pagar, mas e se essa empresa quebrar? Federativamente, o contrato do Depay é com o Corinthians. Quando tem aportes superiores à capacidade de receita, faz ficar muito dependente de pessoa ou empresa. Se acontece algo na vida do mecenas, familiar, de saúde, o clube está pendurado? – questionou.