Mais bastidores do Botafogo de 2023 foram contados por Marçal em entrevista ao “Charla Podcast” nesta sexta-feira (10/1). O lateral-esquerdo defendeu Lucio Flavio, que era auxiliar, assumiu como interino e acabou demitido a poucas rodadas do fim, com o time ainda na liderança no Campeonato Brasileiro, mas vindo de quatro derrotas seguidas e em queda livre.
– Eu sei que o torcedor botafoguense acabou achando que devia ser outro treinador, tá? Mas eu coloco zero culpa no Lucio Flavio com tudo que aconteceu. Zero culpa mesmo. “Ah, se a gente precisava de um outro treinador?” Talvez. Entendeu? “O primeiro nome seria Lucio Flavio”. Não. Mas a partir do momento que o Lucio Flavio assume, que é logo depois da saída do Bruno Lage, pô, é um cara que fez o time jogar. Só que é aquilo, né? Acabaram acontecendo coisas. As principais situações, que foram o início daquela daquela recaída de 23 foram com ele comandando o time. Aponto zero dedo pro Lucio Flavio. Pelo contrário. Foi um cara que conseguiu deixar o time animado. Conseguiu buscar algumas coisas ali que o time não tinha. É um cara que fez um bom trabalho – afirmou Marçal.
Ex-jogador do Botafogo, Marçal acredita que com Lucio Flavio o Botafogo poderia ter sido campeão caso ele assumisse após a passagem de Cláudio Caçapa. Ele explicou o que não deu certo com Bruno Lage.
– Eu trabalhei com o Lage no Wolverhampton. Então, o momento que nós estávamos vivendo, que é a saída do Luís Castro, a gente com uma vantagem interessante, Cláudio Caçapa assume interinamente. Quatro vitórias. E eu trabalhei com o Cláudio também no Lyon, três anos e meio. Uma puta pessoa, um excelente profissional. E entendeu muito o grupo, cara. Antes do jogo contra o Vasco, a gente treinando, ele armou o time reserva, falou assim “o Vasco vai fazer assim, e nós vamos fazer assim. Vamos esperar um pouquinho mais”. A gente, naquela época não esperava. Toda hora pressionando. Tiquinho e Carlos Eduardo davam o sinal, nosso time já sabe. Não precisa ninguém olhar pra ninguém, todo mundo segue o baile. Os caras conseguiram, de alguma maneira, passar na primeira linha, a gente recua atrás da linha da bola. E vamos pressionar. Depois que arrumar, a gente volta a pressionar de novo naquele setor. O Cláudio pegou e falou “vamos dar uma segurada”. O time reserva deitando na gente. Aí ele percebeu que o negócio não estava acontecendo. O negócio não estava acontecendo. Ele falou assim “rapaziada, a gente está errando”. Aí eu, sempre maluco, botando a cara no negócio, falei, “Cláudio, acho que seria interessante perguntar para o Tiquinho e para o Carlos Eduardo o que eles acham. Porque eu acho que o nosso time prefere começar sempre já pressionando”. Ele falou que a proposta não era bem essa, mas não estava funcionando. Ele perguntou, Carlos e Tiquinho falaram que preferiam pressionar. Pressionamos e atropelamos o Vasco – contou, antes de ser perguntado se o time seria campeão brasileiro com Caçapa.
– Agora a gente está tudo muito com suposições. Eu acho que sim. Se o Cláudio continua seria… A gente tinha terminado bem. Eu vou falar até mais. Se o Lucio assume depois do Cláudio, se o Lage não vem, continua o Lucio, eu acho que também tinha tudo para dar certo. Eu não estou dizendo que o Lage é mau treinador. Bem pelo contrário. Já tinha trabalhado com ele um ano. Só que eu sabia que o Lage não ia querer levar crédito no final do ano pelo trabalho do Cláudio e do Lucio. Ele entra para mudar. Ele entra para fazer alguma mudança, para mostrar a cara dele mesmo. As coisas não funcionaram com o Lage da maneira que a gente esperava. A gente tinha uma maneira de trabalhar. O Cláudio veio, praticamente seguiu muito essa maneira. Muito brasileira. E o Lage vem com uma maneira diferente, e aí dá um baque um pouco no grupo. Jogadores começam a perder a confiança porque o Lage já tem um estilo muito didático. Com o Caçapa e com o Castro, a bola corria muito no treino e eles iam arrumando. Com o Lage, a bola corria muito pouco. Era muito didático, parava toda hora. O Lage é um puta treinador. Eu acho que ele é muito inteligente, conhece muito de futebol. Só que é um processo diferente. E aí deu um baque, os jogadores começaram a perder a confiança – disse Marçal.
O lateral ainda deu mais exemplos das diferenças de Bruno Lage.
– O Castro ficava mais concentrado no treino e quando ele ficava indignado em alguma situação ele já dava logo um… É que nem um filho. Ele fala “porra, não é assim não, caralho. É assim”. O Lage tinha uma reação primeiro de desaprovação. Entendeu? Aí o filho começa a fazer as coisas olhando pra ver se o pai está aprovando. Entendeu? Eu comecei a ver muito isso no grupo. E foi aí que a gente começou a perder um pouco de estar confiante. Devia? Não devia perder. A gente tinha muitos pontos de vantagem. Mas aí a gente já tinha vindo de um baque, foi vendo empates, pesou bastante. Empatamos muito. E muitas vezes mudando muito a nossa percepção de jogo. O Lage mexeu muito nessa mesma mudança que o Cláudio ia fazer contra o Vasco. O Lage mexeu muito. “Minha maneira de jogar é assim, me contrataram pra isso”. E aí eu acredito que se viesse qualquer treinador que conhecesse também, o Lage também não conhecia o futebol brasileiro. A gente teve uma conversa antes de eu ir para o Botafogo, ele disse “eu fiquei sabendo que você estava voltando e tal, Não quer ficar mais aí com a gente?” Eu falei “pô, não. Chegou meu momento de voltar pro Brasil. Quero jogar no Campeonato Brasileiro. Quero estar um pouquinho no meu país”. Ele respondeu “Cara, não sei. Eu acho que é um erro e tal”. Então é um cara que não conhecia de fato o Campeonato Brasileiro. Não sabia o quão competitivo era o Campeonato Brasileiro. Na minha percepção, eu acho que agora hoje ele tem uma imagem totalmente diferente – concluiu.