Marlon Freitas é um dos grandes nomes recentes do Botafogo. Campeão da Libertadores e do Campeonato Brasileiro em 2024 como capitão, o volante deu excelente depoimento ao livro recém-lançado “É Tempo de Botafogo“, dos jornalistas Rafael Casé e Claudio Portella.
O jogador abriu o coração sobre a liderança, a faixa de capitão, a volta por cima e as conquistas. O livro já está à venda em https://www.gryphus.com.br/products/e-tempo-de-botafogo-o-livro e será lançado oficialmente na próxima segunda-feira em General Severiano.
– Eu acho que eu não tenho essa dimensão ainda e vejo isso como um lado positivo de continuar a minha história aqui dentro, essa vontade de vencer, de fazer de novo. O Botafogo não conseguiu conquistar duas vezes, até então, uma Libertadores. No Brasileiro, a gente também quer tentar fazer de novo. Então assim, eu vejo isso de um lado positivo, isso me motiva cada vez mais a continuar fazendo o meu melhor, dentro de campo e fora de campo também. O título que eu quero ser lembrado, claro que para o externo ficam as conquistas materiais, o troféu ali e tal, as taças, mas internamente é o lado humano, sabe, de um cara que trabalha, que ajudou as pessoas, um cara que nunca desistiu, um cara que sempre colocou todo mundo para cima, que tenta alegrar o dia a dia, que preza pelo ambiente. Eu acho que essa vai ser a minha maior conquista dentro do clube, ser lembrado de uma forma positiva internamente. Vai ser uma alegria muito grande para mim depois que esse ciclo finalizar, que a minha história aqui dentro terminar, ver pessoas falando, seja nas mídias, seja pessoalmente, quando tiver esse encontro e falar a admiração, o carinho, o legado que eu deixei internamente no clube. Eu acho que não tem conquista maior do que essa. Mas eu quero continuar ganhando, eu sei que as pessoas lembram muito de quem conquista, de quem ganha, então assim, é uma coisa que eu tenho também essa ambição de ganhar, de querer ganhar, e desde quando eu vim para o Botafogo eu falei que eu queria ser campeão. O pessoal até brinca, fala que não tem como falar das conquistas do Botafogo sem citar o Marlon, por tudo o que aconteceu em 23 e tudo o que aconteceu em 24 – declarou Marlon Freitas.
Identificado com a torcida, o volante respondeu se 2024 tem um sentimento ainda mais especial pelo que ocorreu em 2023.
– Eu acho que você olhando a história, sim, mas se você falasse para o torcedor botafoguense ele não ia acreditar. “Você vai ganhar o Brasileiro e a Libertadores no próximo ano”, esquece. Você vê muitas pessoas falando depois das conquistas, “pô, perdi meu pai naquele ano, pô, sofri isso e aquilo”. E a gente sabe, muitas pessoas acham que a gente não sente a dor do torcedor, mas a partir do momento que a gente vai ficando no clube um ano, dois anos, a gente vai entendendo essa paixão, a gente entende, a gente entra ali para poder vencer, só que do outro lado também tem um adversário querendo vencer também, entendeu? E nós somos seres humanos também, a gente vai errar, a gente vai falhar, mas eu sempre falo, desistir não. Eu vou errar, eu vou acertar, uns vão gostar, outros não, mas eu sou aquilo ali, eu não vou mudar pela opinião de um ou outro, não, eu sou aquilo ali, esse é o Marlon, esse é o Marlon – afirmou o capitão, que tinha confiança na volta por cima.
– Por muito tempo eu fiquei calado, praticamente o ano todo, só deixando meu trabalho falar, minha dedicação, meu comprometimento. E foi difícil, sabe, não foi fácil. Começo do ano, aquela coisa sai e fica, muita coisa na minha cabeça. Se eu tinha que ficar, se eu tinha que continuar a história. Só que para mim, eu acredito muito quando você passa por um momento desses, tem algo preparado para você individualmente e pelo contexto para o Botafogo também, porque o Botafogo já vinha sofrendo há muito tempo e quando tem aquela chance de você vencer um título com 13, 15 pontos de frente e você perde, eu sabia que o Botafogo ia ser o campeão em algum momento e eu sabia que tinha algo preparado para mim. Eu só não sabia que o Botafogo ia ter esse roteiro no ano seguinte – acrescentou.
Leia algumas outras respostas de Marlon Freitas:
Primeira vez como capitão
– Quando bate o martelo que eu vou permanecer, que o clube conta com o meu trabalho, que eu ia ser importante naquele momento para o clube, eu falo “eu vou dar o meu melhor, vou fazer o meu melhor”. Eu comecei a exercer minha liderança no meu pior momento, na minha pior fase, que imagine a minha cabeça quando na época, foi o Tiago Nunes que me chama e fala assim “você vai fazer parte dos capitães e tal, você topa?” Eu poderia falar que não, era normal, eu falar não, quero ficar na minha, quero trabalhar e tal. Mas eu topo. Você imagina quando você chega no estádio, eu lembro até hoje, não lembro o adversário, mas foi no Raulino de Oliveira, que é o estádio do Volta Redonda, aí estava a faixa de capitão assim no meu armário e eu falei “caraca”. Ele já tinha conversado comigo que ia ser o capitão, mas estava revezando ali e eu chego, mando a foto para minha esposa, tiro a foto assim “o que é isso aí?” Eu falo “é a faixa de capitão”. Ela “caraca, meu Deus, você é muito doido”. Eu falo “não, vai dar certo e tal”. Então assim, naquele momento era difícil para o torcedor ver o Marlon com a faixa de capitão do seu time, que não é só mais uma braçadeira, é a braçadeira, para você vestir a braçadeira de capitão você tem que ser exemplo dentro e fora de campo, você é um líder, as pessoas vão olhar para você, as pessoas, se você vai subir aquilo ali, as pessoas vão te seguir, entendeu? Então assim, era difícil para mim naquele momento, mas no momento eu pensei duas vezes acertei essa missão e assim, foi um ano mágico.
Discursos no vestiário
– Dentro das falas ali no vestiário, cara, parece que não era eu que estava falando assim, porque linkava muito com os momentos, do que aconteceu, com o momento atual. A fala do jogo do Palmeiras no Brasileiro, que a gente de lá já vai para Buenos Aires, foi uma das falas assim, que se mandassem eu repetir eu não ia conseguir, da maneira que foi. Pô, a gente jogou com os caras aqui, no ano anterior a gente perdeu, agora a gente decidiu o título lá, praticamente foi uma decisão de título. Claro que tinha o jogo do Inter também, que era um jogo muito difícil. E aí aquele contexto todo, e eu não sabia o que falar naquele momento, e eu já estava no quarto, aí muitas pessoas falavam assim, “pô, você fica ensaiando e tal, não sei o que”. Eu falo “não cara, eu não consigo”. Às vezes eu vou com uma fala já pronta, só que chega ali, eu não consigo, eu tenho que falar algo que eu acredito nisso, eu nunca vou falar algo para você que eu não acredito. Porque senão eu vou te passar uma mensagem que eu não acredito, que o líder não acredita. Se eu estou passando essa mensagem para você, é porque eu acredito, é porque eu acho que a gente fazendo isso, a gente vai conseguir. A gente tem muitos jogadores de muita literança no grupo, isso ajuda também. Só que teve jogos assim, que eu falo assim, “Telles, fala aí, fala você hoje”. Só que eu chego ali, aí ele fala assim, “pô, irmão, tu falou que era para eu falar e tu falou”. Eu falei “mano, eu não consigo”. Então já teve momentos já que o Alex Telles falou e tal, eu falo, “mano, fala, porque também eu não posso só, eu tenho que dividir”.
Importância de Joel Carli
– Foi no jogo com o Palmeiras, e ele (Carli) chega para mim depois do jogo, ele fala assim “eu queria entrar em campo, a gente ganhou o jogo aqui no vestiário, pela sua fala. Se tinha um jogo que eu queria jogar era esse”. E aí, quando vai para a final, eu estou falando e vejo ele, eu falo “esse cara, ele queria jogar, que não sei o que”, e ele, todo emocionado, daquele jeito dele, você vê que ele é durão, ele não se aguentou e tal. E você vê que é um cara, ele queria estar ali. Ele é um campeão também, ele é um campeão, ele pode falar que ele foi campeão da Libertadores, ele fez parte. Eu sei que ele queria ser campeão como jogador, mas ele foi campeão também, como funcionário do clube, como um cara que também passou o que passou com o clube, sendo fiel, honesto, mesmo num momento difícil, ajudando, e foi um primeiro cara que quando eu cheguei, ele falou assim, o que você precisa, pode contar comigo.
Emoção na final
– Era algo muito forte. E eu vejo assim, o Barboza chorando, o Marçal com o olho cheio d’água, o Tchê Tchê, o Tiquinho, então eu olho assim e falo “isso vai ser muito bom, ou isso vai ser muito ruim, porque os caras vão entrar chorando numa final do campeonato”. E aí aparece quando está tocando o hino, a gente está enfileirado assim, eu estou chorando também, então naquele momento que eu estou chorando, eu pensava assim “cara, se a gente não ganhar, os caras vão ver o líder chorando, então a gente sabe que as pessoas vão julgar”. Só que, mano, eu sou ser humano igual todo mundo, eu não queria, tipo assim, depois do jogo eu pensei nisso, até em casa a gente conversando sobre isso, porque a gente vê né, vou dar um exemplo, o Thiago Silva e tal, as pessoas falam, mas é um puta líder. Não é porque ele é líder que ele não pode chorar, não é porque ele é líder que, não, nós temos que tirar essa situação. Então você pode chorar porque você não tem a faixa de capitão, e eu não posso. Cara, era uma emoção de ter chegado até ali, era uma emoção de tudo, a história estava vindo na minha cabeça, “eu estou numa final de Libertadores, nós podemos fazer história, cara, a gente nunca ganhou, o clube nunca ganhou, vamos ser lembrados daqui a 10, 15 anos, o Botafogo pode”. A gente vai trabalhar pra ganhar de novo, sim, mas as pessoas vão lembrar desse, do primeiro. O primeiro sempre é especial, as pessoas vão lembrar daquele ano.
Líderes do elenco
– A gente tinha muitas lideranças ali, o Marçal, o primeiro capitão era o Gatito Fernández, se eu não me engano, depois o Tchê Tchê, ou o inverso. Mas o Gatito, pela história dele dentro do clube, que para mim é um ídolo, né, o Tchê Tchê, que era um dos capitães, e eu que estava com a braçadeira no campo. E aí eu chamo o Tchê Tchê e o Gatito, falo “cara, vamos nós três lá receber a taça”. E é um momento que a gente, tipo assim, cara, tem um vídeo certinho, câmera lenta, a gente, pô, levanta a taça assim e tal. É, tipo, olhando, “caramba, cara, a gente conseguiu e tal”. Você vê o Gatito, tudo que ele passou no clube, você vê o Tchê Tchê também, a importância dele, um cara campeão, por onde foi, por onde passou, ganhou. E conquistou um título desse tamanho com o Botafogo. Foi um momento de muita emoção. Eu tenho esse vídeo aqui guardado, né, então, assim, são jogadores que mereceram, por todo empenho, dedicação do clube. O Gatito, pô, viveu, passou o que passou com o clube, nos momentos mais difíceis do clube, ele estava lá, estava disposto a ajudar. É isso que eu falo da importância, sabe, de ser, pode ser que o Gatito seja uma peça importante pro externo, lá fora, a história dele, mas ele é muito mais importante pro interno, sabe, tudo que ele aguentou, tudo que ele suportou, o cara ser fiel, o cara com dedicação, com empenho, depois, né, mesmo não julgando, você vê a dedicação dele, o empenho dele, a liderança que ele, a postura dele do dia a dia, comprometimento, dedicação.
Parceria elenco e torcida
– Cara, acho que o momento é aquele ali que a gente está abraçado, na final da Libertadores, que a gente está com jogador menos. Eu acho que quem olhar aquela foto não vai nem querer contar quantos jogadores estão ali abraçados, ele vai achar que tem 11, tem 12, tem 13, tem 15. Porque era muito braço, era muita perna ali, então, cara, era muita gente ali junto, sabe. E eu falo de muita gente, aqueles jogadores ali, e aqueles torcedores ali dentro do estádio, aqueles torcedores. E eu nunca vi o Nilton Santos tão cheio igual eu vi depois, né, as fotos, as pessoas se jogando no chão, chorando, eu queria estar ali, eu queria que tivesse o Marlon jogando e o Marlon lá no Nilton Santos, sabe, aquela emoção, aquela coisa toda, acaba o jogo, na hora do gol do Júnior também.