Marlon Freitas conta detalhes da Libertadores e resume Botafogo: ‘Ser botafoguense não é fácil, mas é gostoso’

Marlon Freitas, do Botafogo
Reprodução/GE

Capitão do Botafogo nos títulos da Libertadores e do Campeonato Brasileiro, Marlon Freitas se abriu em entrevista ao “Abre Aspas”, do “GE”. Ele contou detalhes das conquistas e dos famosos discursos motivacionais e falou uma frase forte: “ser botafoguense não é fácil”, mas é gostoso”.

– Já teve tempo que eu tentava treinar (discursos). Num quarto assim, na cama, no chuveiro. “Ah, vou falar assim, assim, sem nada e tal”. Aí quando via uma série que eu gosto assim, ou uma frase, alguma coisa assim na internet, eu falo, “caraca, mano, isso aqui é legal. Vou linkar isso aqui com isso, com o que aconteceu na semana”. Eu sempre tento observar as coisas assim. Só que chega ali, eu não sabia o que ia falar. Eu, literalmente, não sabia. Eu falei, “mano, que tipo de mensagem? O que eu vou passar pra esses caras? Qual o sentimento que eu tô agora? O que que eu tô sentindo? Eu tô confiante, tô confiante que a gente vai ganhar. Só que eu preciso transmitir isso pra esses caras. Como?” – relembrou.

– A bola rolando, 40 segundos (expulsão). Cara, eu estou de frente assim, velho. Eu vou chamar para passar a tática. Aí eu chamo os jogadores e falo assim “sempre foi difícil pra nós, né? Sempre, né? Sempre foi difícil pro Botafogo. A gente vai ser campeão assim. A gente vai ser campeão assim. Acredita que a gente vai ser campeão”. Eu acho que a gente deixou tudo ali, sabe? E a gente mereceu ganhar essa taça. A gente mereceu muito pela nossa trajetória, pelo cenário que foi criado. Eu acho que tinha que acontecer. Tinha que ser daquele jeito ali, porque é o Botafogo, né, cara? Eu sempre falo que você pode esperar alguma coisa. Porque aí você tem que estar preparado. Porque o Botafogo é isso. Ser botafoguense não é fácil, mas é gostoso. Foi algo assim na minha vida incrível. Me dá vontade de chorar, toda vez que eu vejo. Eu começo a rir, mas lá no fundo, com vontade de chorar, porque, tirando o meu pai me vendo, realizando o sonho dele de me ver no profissional, acho que foi o melhor dia da minha vida – destacou.

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Caminho do título

– Quando a gente passa do Palmeiras, a gente passou de uma equipe muito forte. É uma equipe que era favorita a ganhar essa competição. Só que a gente vai enfrentar, pelo chaveamento, eu olhava assim, “todos esses times aqui já foram campeões de Libertadores. A gente é o único time que não tem”. E aí o jogo do Peñarol, em nenhum momento que a gente fez 5×0 a gente comemorou assim, de extravasar, já acabou. Na hora assim, o Artur (Jorge) já fechou a comemoração. Cara, tem outro jogo. A gente fez uma placar considerável, mas tem outro jogo. Porque, ao mesmo tempo de ter uma tranquilidade, você dá uma preocupação. Se você toma um gol com dez minutos no jogo de lá, é loucura. Por isso que eu falo que a Libertadores é muito difícil. Porque jogar contra esses times é difícil demais. Principalmente fora. É muito difícil. Eles sabem jogar essa competição. Eles sabem a hora de fazer cera. Eles sabem a hora de arrumar o tumulto. Eles sabem jogar essa competição.

Preleção da final

– O Artur Jorge sempre dava a preleção no hotel. Dessa vez, ele deu dentro do vestiário. Ele fala do time e daqui a pouco ele fala “Sabe por que estamos aqui? Porque você não desistiu em 2023”. Ele vai falando de todos os jogadores que estavam em 2023. Olhei e só desciam lágrimas, todo mundo chorando. Eu também, mas não era de soluçar, não. Sabe aquele choro lento? Acho que é o pior, o que dói mais. Era verdade. Se a gente tivesse largado, não estaríamos lá. Eu falo isso do jogador, mas também serve para o torcedor. Se tivessem largado, será que estaríamos lá?

– Quando voltamos do aquecimento, cada um fala um pouquinho. O que eu iria falar? O pessoal colocou nossa trajetória em um espaço no vestiário e estava escrito “nosso caminho”. Quando chegamos na Argentina, o Danilo (Barbosa) estava filmando, e eu disse que chegamos na terra prometida. Nós estamos representando um clube centenário, que não tinha esse grande título. Ali já começou essa coisa. No reconhecimento do gramado, um dia antes, eu boto a mão no centro do campo e digo “Deus, aqui é a terra prometida, vou ser campeão aqui”. No discurso eu falo sobre isso e nem deu tempo de dar abraço.

– Já começo a chorar, falo que quero dar um abraço no meu pai e olho para Tchê Tchê, Tiquinho, Artur. Todos estavam chorando. Eu pensei: “será que isso é bom ou ruim?” (risos). Será que eles vão levar para o lado de não ter outra oportunidade ou vai ser para o lado da tristeza? O Tiquinho estava passando pela mesma situação que eu (perdeu o pai em 2023). Conversamos sobre isso, eu entendia a dor dele. Tchê Tchê chorou porque acho que ele sabia da minha dor. Carli também se emocionou… Era o sonho de muitas pessoas em jogo.

– Eu chorei quando tocou o hino em campo. Passou tudo pela minha cabeça. Um ano depois, eu podia levantar a taça. Para muitos, eu nem deveria estar ali. Gostavam de mim, mas será que acreditavam? Gostar é diferente de acreditar.

Final da Libertadores

– Eu estava de frente. Tuf! Eu vi o jogador (Fausto Vera) e vi sangue. Eu ainda falei com o árbitro que não foi nada, tenho que defender o meu (risos). Nem sei se o árbitro entendeu o que eu estava falando. Eu estava tão confiante nessa questão de terra prometida… É como se eu tivesse passado pelo deserto, que foi 2023, e tinha chegado a hora. Sofri o que tinha que sofrer. Lembro do Artur (Jorge) fazer um gesto para mim, um 3 com as mãos, mas não entendi muito. Depois assimilei que ele me mandou jogar de zagueiro, botou o Savarino de volante (risos). Em nenhum momento passou pela minha cabeça que iríamos perder. A gente ia ser campeão.

– Houve um atendimento médico, reuni todos na rodinha e disse: “Sempre foi difícil para nós, sempre foi para o Botafogo. A gente vai ser campeão assim. Acreditem que seremos campeão. Todo mundo vai fazer um pouquinho a mais”. Todo mundo me olhou e aceitou. Tanto que depois o Savarino me chamou e disse que estava preocupado, mas ficou com confiança depois do que eu falei. Não importava a circunstância, nós seríamos campeões assim.

– Na minha cabeça a gente teria que mudar (o time após a expulsão). Eu perguntei o que passou na cabeça dele (Artur Jorge) quando estávamos indo para o Mundial. Disse que me mandou para zagueiro e ia esperar até uns 15 minutos. Se estivéssemos tomando pressão, ia mudar. Graças a Deus, fomos bem. Ver Almada, Luiz, Savarino e Igor terem aplicação para defenderem foi surreal. A gente deixou tudo. Nós merecemos ganhar. Eu não vou falar nunca, mas acho muito difícil um clube ser campeão com um a menos o jogo todo. Tinha que ser. É o Botafogo. Ser botafoguense não é fácil, mas é gostoso.

– A Libertadores eu nunca vou esquecer, fiz até tatuagem. Poder levantar a taça depois de um ano difícil eu não esperava. Eu sabia que tinha algo para o Botafogo, mas confesso que não sabia que era a Libertadores. Eu queria o Brasileiro porque perdemos no ano anterior, era a minha ambição. Acho que todo botafoguense queria aquilo que foi tirado de suas mãos por alguns meses por culpa nossa. Não apago nada de 2023. Deu esperança, era só ajustar um pouco a rota que conseguiríamos.

– Quando acaba a final, eu desço as escadas e só choro. Tinha que falar com meu pai que conseguimos. Acho que ele estava mais orgulhoso de tudo que eu suportei para chegar até lá do que da conquista em si, mas é um combo. Só fui agradecer a Deus e depois falar com meu pai. Valeu a pena todos os ensinamentos dele e da minha mãe. Não sei descrever para vocês, acho que não vou conseguir viver de novo. Valeu a pena suportar tudo e ficar calado. Não preciso demonstrar nada para ninguém. Não preciso ser mais nem menos. Preciso ser o Marlon.

Fonte: Redação FogãoNET e GE

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