Comentarista do “UOL”, Milly Lacombe criticou as SAFs no Brasil. Tomando como ponto de partida o Botafogo, que está meio a polêmica de pagamento de premiações do Campeonato Brasileiro e da Libertadores de 2024, ela se posicionou de forma contrário ao modelo.
– O Botafogo é muito celebrado por ser uma SAF vitoriosa, a SAF mais vitoriosa da história das SAFs no Brasil, mas o fato é o seguinte. O torcedor e a torcedora do Botafogo estão só celebrando, não querem nem ouvir falar mal, foi o maior ano da história do Botafogo, então deixemos o torcedor e a torcedora celebrarem, porque é isso, quem torce, distorce. Mas é nossa obrigação olhar pra isso com olhos mais razoáveis. O Botafogo, o John Textor, que é tão celebrado por ser um grande gestor, a empresa dele, a Eagle Football, deve R$ 3 bilhões. É muito dinheiro. A empresa deve muito, a empresa tem buracos, e aí tem uma holding com vários times e essa empresa está muito endividada. O Botafogo é um clube muito endividado, porque quando vira a SAF, depois de um ano a gente lê no noticiário, “olha, a SAF do Botafogo diminuiu as dívidas em tantos, em tantos milhões”, mas, gente, diminui porque ele renegocia dívida, tributária, fiscal, trabalhista. Eu não acho isso legítimo, eu não acho isso legal, eu não acho isso decente – reclamou Milly Lacombe, em live no “UOL”.
– E aí o time que teve o maior ano da história da vida dele, agora a gente fica sabendo que não paga salário, fundo de garantia, tem um monte de coisa envolvida nessa dívida e os jogadores reclamam. E eles acham ruim os jogadores reclamarem. Eu não entendo, a gente precisa pelo menos colocar as coisas onde elas devem ir. Esportivamente o ano do Botafogo foi maravilhoso, eu acho que a torcida tem que celebrar, foi lindo, o Botafogo está na moda, a camisa e o escudo mais bonito do planeta, mas assim, vale a qualquer custo? Vale o desmonte? Vale perder o treinador? É isso que a gente espera? Aí a gente tem que fazer perguntas um pouco mais profundas, o que é um clube de futebol? Ele existe pra quê? Pra dar lucro? Ou ele existe pra fazer circular afeto? Eu fico com a segunda opção, pra mim existe pra fazer circular afeto, e nesse sentido, embora tenha sido um ano muito bom, de 2024, 2025 se anuncia um ano um pouco mais perturbador. Acho que a torcida gostaria de ver o time ser minimamente mantido, o treinador ser mantido, mas não é isso que a gente está vendo, e não apenas isso, agora um desfile de dívidas – apontou a comentarista.
Milly Lacombe ainda explicou sua posição sobre Sociedade Anônima no Futebol.
– Eu sou contra a SAF. Eu vou fazer uma camiseta assim, a SAF é uma solução trágica para um problema real. Por que eu acho isso? Porque a SAF chega primeiro renegociando dívida, então tem um monte de trabalhador, de trabalhadora, e a gente, como sociedade, perde, impostos deixam de ser pagos, são renegociados. A SAF trata o clube como se ele fosse uma empresa, e o clube não é uma empresa, porque o que a SAF acha é que clube existe para dar lucro. Um clube de futebol é tudo menos uma empresa. Futebol não é um negócio, não é uma ingenuidade dizer isso, é claro que há muito dinheiro envolvido, mas não é isso que eu quero dizer. Um clube de futebol existe para formar identidades, o clube de futebol existe para criar nossas subjetividades, ele faz circular afeto. O futebol é uma coisa imensa, se ficar só na planilha, vai ser um esporte qualquer e vai morrer. E a SAF concentra poder, não dilui o poder. O problema que a gente tem é que são poucas pessoas mandando no jogo com interesses escusos. Aí a gente fala, então vamos fazer uma pessoa só mandar, um cara só vai mandar, e ele é como se fosse uma ditadura, ele vai mandar, ele vai dizer quem fica, quem sai, ao gosto dele, pode ser um gringo que não entende nada de futebol. “Ah, mas olha, está ganhando todos os jogos”. Mas a que custo? Que buraco isso vai deixar? Então, eu acho que a gente não tem um debate verdadeiro sobre a SAF. A SAF está no, se você pagar pela bagagem, o preço da passagem cai. Não cai – concluiu.