Campeão brasileiro pelo Botafogo em 1995, Carlos Augusto Montenegro se emocionou e foi às lágrimas em participação na live do canal “Resenha Alvinegra“, com Octávio Bocão, em 9 de dezembro, um dia após o clube conquistar o Campeonato Brasileiro de 2024. O ex-dirigente fez analogia e comparou os títulos da temporada ao nascimento de gêmeos.
Montenegro chorou quando seus filhos, Bernardo, André e Marcelo entraram na live.
Leia o belo relato de Montenegro:
– Nós merecemos. Vou contar uma história. Se você me permitir, eu estive refletindo muito, e depois fica sujeita a debates etc. E é bom todos os botafoguenses saibam o que aconteceu nesses últimos 30 anos e principalmente no ano de 2023. Porque se não tivesse acontecido o ano de 2023 não existiria 2024. Foi fundamental 2023 para ter o 2024. Eu estou no Botafogo há 30 anos e descobri que o Botafogo é um clube realmente diferente. É um clube especial. É o maior provedor de jogadores para a Seleção Brasileira, para o Brasil. E o Botafogo sempre foi um clube com muitas estrelas, muito sadio, muita força, um clube muito invejado por causa disso, mas é um clube com poucos filhos, poucos troféus. Poucos títulos. O Botafogo já teve Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo, Zagallo. O Botafogo já teve Rogério, Gerson, Jaizinho, Roberto, Paulo César. Já teve Nilton Santos. Já teve o diabo. Mas o Botafogo tem poucos filhos. Poucos troféus. E a torcida sempre, principalmente agora, na era digital, sempre quis ter mais troféus, mais títulos, porque os grandes concorrentes sempre têm mais troféus e mais títulos. E o Botafogo passou um momento muito ruim. Eu acompanhei esse momento. Eu tive três filhos lindos. Bernardo, André e Marcelo. E o meu quarto filho tem 29 anos, foi em 1995. A gente chama ele carinhosamente de Brasileiro. O título do brasileiro é meu filho. E ele sempre chegava para mim e falava “pai, por que eu não tenho irmãos? Eu tenho irmãos de carne e osso. Bernardo, André e Marcelo. Mas eu quero outros irmãos. Os troféus que os outros clubes têm”. Falei, “meu filho, calma, isso aí tem que ver com ginecologista, com obstetra. A gente vai conseguir fazer outros filhos. Para você ter irmãos”.
– E foi um período em que ele não teve uma boa saúde. Além de ter que consolar o meu filho de 29 anos, o Brasileiro, que eu chamava de Brasileirinho, eu tinha que cuidar do clube Botafogo para não deixar ele morrer. E um dia meu filho de 29 anos tem irmãos. E cuidava. E ia para o hospital e tinha que dar soro, às vezes antibiótico. Teve vezes que ele caiu de divisão. Foi da A para B. E aí precisou de respirador para conseguir oxigênio, sobreviver, etc. E o meu filho entendeu isso. Porque você precisava primeiro deixar o Botafogo sadio e ter bons obstetras, que geralmente são os técnicos, geralmente são dirigentes, pessoas que fazem um clube ser gestante e ter um filho. A gente foi, foi, foi e teve uma hora em que eu chamei um grande obstetra. Mas ele era mais ginecologista. Ele não fazia o parto. Foi o Durcesio Mello, um tremendo empreendedor, um cara do bem, um cara generoso, um cara com experiência empresarial. E que na calada da noite fez um curso de ginecologia e soube tratar o Botafogo de uma forma brilhante. Tirou o Botafogo de uma crise em 2021, subiu com ele e foi procurar um dos maiores obstetras do mundo, John Textor. Falou “hoje em dia existe medicina especial, medicina nuclear e o caramba”. Esse ser Botafogo que é diferente merece um ginecologista, um obstetra de primeira, e achou o John Textor. E hoje existe na genética medicina nuclear. Você pode, às vezes, fazer filhos e eu conversava com o meu Brasileirinho e falava de 29 anos. Eu falava pra ele, “meu filho, aguarde porque agora a gente tem saúde. Então a gente não vai precisar voltar para os hospitais. O que a gente tem que fazer agora é ir no ginecologista e seguir o que ele determina. Saúde”.
– Bom, em 2023 trouxemos um outro ginecologista de Portugal (Luís Castro) e foi muito bem. E foi quando tivemos o início da gestão. Da gestação. São nove meses. O início foi ótimo. Você olhava a ultrassonografia, meu Deus, sadio. Vai ser um meninão. Bem pra caramba. Coincidentemente, o início da gravidez foi o primeiro turno do Campeonato Brasileiro passado. Mas a gestação estava indo muito bem. De repente, eu não sei o que houve, acho que faltou vitamina. O ginecologista obstetra foi chamado na Ásia, tivemos que trocar o médico. Não deu certo. Aí foram cinco obstetras tentando salvar porque a gestação começou a ter problemas. Isso eu acho que todo botafoguense, todo ser humano, conhece, entende. Bom, nascimento prematuro. Eu não tinha coragem de contar pro Brasileirinho que uma gravidez que estava indo tão bem, que ia dar um irmão para ele sadio, estava começando a desenhar um nascimento prematuro. E o bebê nasceu prematuro. Não deu nem tempo para ir para a incubadora. Foi um excesso de soberba de achar que ia ter mais um irmão e achar que estava tudo bem e de achar que já tinha nascido sem ter nascido. A torcida para que nascesse era tanta que nasceu prematuro. E a criança quando nasce prematura às vezes se salva e às vezes morre. E o irmão do Brasileirinho morreu. Começou a morrer em outubro, morreu em novembro de 2023. Muito triste. Isso é muito triste, quem já passou por isso sabe que é muito triste. Bom, mas aí você tem a medicina nuclear, etc.
– A gente encontrou um obstetra e um ginecologista que além de ser um ser humano incrível, John Textor, tem grana, tem dinheiro e falou “agora o filho é uma questão de honra. Eu vou procurar os melhores no mundo”. Já estava lá nos Estados Unidos e ele estudou, estudou, estudou e viu através de mim que os melhores, mas viu por coincidência, que os melhores nascem em Portugal ou se formam em Portugal. Em 1995, o obstetra ginecologista do Brasileirinho foi um senhor Autuori, brasileiro, mas se formou em Portugal e trabalhou lá. Trouxeram para mim ele, eu fui apresentado, eu nunca tinha ouvido falar o nome dele, “esse aqui é um bom obstetra, esse sabe fazer filho aqui, participa do parto, tem experiência”. Trouxe esse danadinho desse Autuori e o cara me deu o Brasileirinho. O Textor trouxe o Artur Jorge, um cara que não era muito conhecido lá, treinador do Braga, mas um excelente ginecologista, porque além de tudo ele sabe fazer parto e sabe fazer a cabeça das pessoas. Chegou aqui, viu uma família sofrida que tinha perdido um filho prematuramente em 2023, falou pra família “olha, vocês vão seguir a risca o meu tratamento então tem uma hora que tem que ter tranquilidade, tem uma hora que tem que ter vitamina”. As horas das vitaminas foram perfeitas, vitaminas que o nosso parto desse ano teve a vitamina Igor Jesus, vitamina Luiz Henrique, vitamina Allan, vitamina Adryelson, são vitaminas porque quem está grávida precisa tomar. Para você simplesmente não ter de novo bebê prematuro. E ele foi indo, de uma felicidade tremenda, acalmando a família, acompanhou o bebê os nove meses, uma coisa que não aconteceu o ano passado e aí o cuidado foi tanto, a medicina nuclear ajudou que tivemos gêmeos.
– Eu falei pros meus filhos e principalmente pro Brasileirinho que nasceu em 95 “vocês não vão ter um irmão, vocês vão ter um casal de irmãos, vêm dois”. Primeiro nasceu uma menina pela primeira vez, menina o nome dela começa com “A”, “A Libertadores“. Eu achei um nome lindo, esse a gente nunca teve na vida, uma menina que já nasceu maravilhosa, uma menina bela, esse Artur Jorge conseguiu isso. E uma semana depois nasceu o irmão da Bela, o irmão da Libertadores, “o Brasileiro”. A gente é tri. Por isso a pessoa mais importante do Botafogo que tem poucos filhos é o ginecologista, o obstetra, e guarde esse nome “Obstetra”. Esse John Textor é um provedor e adora criança. Ele já me disse “eu vou encher vocês de filhos, eu vou encher o Botafogo de filhos”.
– É um dia especial, foi um dia emocionante. Desde Buenos Aires. Cara, uma loucura. Valeu a pena. Quando eu vi aquele mosaico “Resistir”, valeu a pena a gente resistir. A minha participação esse ano foi quase zero. Eu só participei com a torcida. Ajudando, principalmente em alguns jogos, e principalmente contra o Atlético em Buenos Aires a vários torcedores irem. Esse movimento Ninguém Ama Como A Gente, que tenta unir as torcidas e faz esses mosaicos maravilhosos, merecia entregar o troféu. A torcida, representada por alguém, merecia entregar. Porque essa torcida é linda. Esse ano eu fui só torcedor e me senti muito bem sendo só torcedor. Ano passado eu era só torcedor. Fiquei triste. Esse pessoal, tem muita gente. Por isso é que na nossa música, um dos hinos agora, falam da mídia suja. Todas as entrevistas desse ano, todas as entrevistas com o Artur Jorge e alguns jogadores, principalmente o Marlon Freitas, o mais visado, fizeram referência a 2023.
– É muito triste uma família que perde um filho de uma forma prematura ficar remoendo, remoendo, remoendo isso. Todos falaram, “Cadê o mental? Será que vai acontecer igual? Será isso? Será aquilo?” Uma covardia com o Artur Jorge, um ginecologista, um técnico de primeira, uma pessoa especial defendendo o grupo. E ele falava para as pessoas, para os repórteres, “gente, eu não estava aqui, eu não era o ginecologista obstetra da criança que faleceu prematuramente ano passado. Vocês estão me pedindo explicação de coisas que eu não presenciei. Eu não estava aqui”. Mas é uma mídia suja. Porque não gosta muito do Botafogo, entendeu? Ouvi dizer que o clube acabaria… essa mídia suja. Pois é. Só perguntavam isso. Não perguntavam sobre a saúde do bebê desse ano. Nada, nada.
– Nós empatamos seguidamente com Criciúma, Cuiabá, Atlético-MG com reservas e Vitória. Quatro empates. Foram oito pontos. Era para o Botafogo ter hoje 87 pontos e o Palmeiras 73 setenta e três. Quinze de diferença. Já era para ter sido campeão um mês atrás, pô, com esse time. Mas não, foi campeão na hora certa. Se a gente empatou, empatou porque empatou. O time estava cansado, mas o time pegava força. Empatava contra o Criciúma e ia lá, ganhava do Palmeiras. E empatava com o Cuiabá. Ia lá e ganhava do Atlético-MG. Empatou com Vitória e foi lá e ganhou do Internacional que fez o melhor segundo turno lá no Beira-Rio. Ninguém deu valor a essa vitória. Entendeu? Então é isso. E ninguém falava isso. “Poxa, como é que você consegue isso, ginecologista? Como é que você consegue ganhar do Palmeiras com esse mental do Botafogo? Como é que você consegue ganhar uma partida com menos um?” Ninguém pergunta isso. Então, falta de respeito com uma família que perdeu um filho de uma forma trágica porque teve complicações e perdeu um filho prematuramente em 2023. Então, Deus abençoou e deu um casalzinho de gêmeos para a gente em 2024.
– Agora eu não sei como é que a mídia vai tratar esse casal de gêmeos. A Libertadores e o Brasileiro. É um casal. E aí o Botafogo veio se igualar ao Santos, merecidamente, que foi o único que ganhou os dois junto com o Flamengo, mais recente. Foi o primeiro a ganhar o Santos. E o Botafogo eu acho que está sendo o último a ganhar. Os dois maiores clubes que o Brasil teve e que foram base da Seleção Brasileira. Não é o maior clube em torcida, em gente, em estádio, sei lá o quê. É o maior clube em sentimento, em ser diferente. É o clube que mais sabe escolher ginecologista. É uma SAF reconhecida. Quando o Botafogo ganha, ele é reconhecido nacional e internacionalmente. É reconhecido. Nós somos pessoas escolhidas. E quero agradecer a toda a torcida botafoguense, a todos os grupos que eu participo, a todos os meus amigos. Nós resistimos juntos. E quem colocou aquela frase no mosaico foi muito feliz. A história do Botafogo é resistir. Ele teve uma vida em que, naturalmente, ele gostaria de ter muitos filhos. Não teve. Ele tinha dificuldade para engravidar. Mas, hoje em dia, geneticamente, é mais possível engravidar e ter filhos saudáveis. Nós estamos de parabéns.