O presidente da Associação Uruguaia de Futebol (AUF), Ignacio Alonso, afirmou que clubes estão cogitando até mesmo não irem mais ao Brasil para os jogos das competições da Conmebol. O dirigente disse estar preocupado com os recentes casos de violência quando clubes do Uruguai e da Argentina visitaram o país e falou em “xenofobia“.
Um dos casos citados por Alonso foi no jogo Botafogo x Peñarol, pela semifinal da Libertadores de 2024, quando torcedores uruguaios acabaram sendo presos depois de praticarem saques, furtos, roubos a ambulantes, depredações, agressões a policiais militares e ofensas racistas, entre outros crimes, na orla do Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro.
– Tenho uma opinião muito clara sobre isso. Há muito tempo os times, não só os uruguaios, mas os do Rio da Prata, principalmente, e alguns outros que viajam com um contingente significativo para o Brasil, sofrem todo tipo de abusos da polícia e muitas vezes de organizações que têm base territorial lá, relacionados a torcedores, roubos etc. Essa é uma realidade que está acontecendo, mas o mais complicado é o abuso policial, porque é institucional, e nós temos apoiado muito o Brasil, que tem sido muito sensível a algumas agressões individuais que sofreu nos estádios ligadas ao racismo. Acredito que está na hora do Brasil se juntar ao restante das federações, que têm sido sobrecarregadas pelo Código Disciplinar com uma série de sanções relacionadas ao racismo, multas, penalidades em campo etc – disse Alonso à “Rádio Carve Deportiva“.
O dirigente classificou o que chamou de “xenofobia” algo tão grave quanto o racismo que torcedores e jogadores brasileiros têm sofrido quando saem do país – o caso mais recente e emblemático aconteceu na semana passada com o atleta Luighi, do Palmeiras, em jogo contra o Cerro Porteño, no Paraguai, pela Libertadores Sub-20.
– Sejam sensíveis para se juntar a nós nesta questão, que é verdadeiramente preocupante, e também é organizada, muito mais disseminada, repetida em todos os jogos, massiva. Assim como o racismo é um antivalor e deve ser combatido, e nós o classificamos como crime, acho que beira a xenofobia [o que acontece] no Brasil, realmente, porque eu não vejo isso em relação a ninguém além dos estrangeiros. Acho que o racismo é tão antivalor quanto a xenofobia, e neste caso temos que encarar isso como uma questão para todo o continente. Temos uma situação muito clara nos últimos meses, que foi a situação do Peñarol, aconteceu com o Nacional e outros clubes uruguaios, aconteceu com os argentinos… – afirmou, continuando:
– Sei que os clubes estão se movimentando, estão conversando entre si, porque alguns querem tomar decisões como não ir ao Brasil, ou de se recomendar que não vá ao Brasil, mas acho que temos que falar sobre isso de forma diferente, temos que falar sobre isso entre pares, e que o governo brasileiro e os governos estaduais, porque há uma rede complexa de jurisdições, tomem providências sobre o assunto. Não pode acontecer o que aconteceu outro dia com o Racing, aconteceu a mesma coisa com eles [contra o Botafogo, pela Recopa], não pode ser que continue acontecendo e que as pessoas se agridam por esporte, e que estrangeiros sejam atacados por esporte, e que nada aconteça, porque realmente nada vai acontecer. Aqui, quando tem um sinal racista, um gesto racista, isso não acontece, pelo contrário, há sanções, perseguição, até processo penal. E quando isso acontece, nada.
Em relação ao caso envolvendo o jogo do Racing contra o Botafogo pela Recopa Sul-Americana, o dirigente pode estar se referindo a um caso que nada tem a ver com futebol: o de dois turistas, torcedores do clube argentino, que foram baleados na Praia da Barra da Tijuca em um assalto. Na ocasião, as próprias vítimas agradeceram o apoio prestado pela diretoria do Glorioso.