Coordenador geral de arbitragem da CBF, Rodrigo Cintra detalhou os planos da CBF com os árbitros, que estão realizando período de treinamentos no Rio de Janeiro. Entre eles, estão prazo para profissionalização, um VAR mais participativo e atuante e a revelação de que houve juízes que foram para a reciclagem em todas as rodadas do Campeonato Brasileiro 2025 até aqui.
Leia os principais pontos da entrevista de Rodrigo Cintra à Band:
Profissionalização
– Na verdade, nós temos um programa para o planejamento para até 31 de dezembro do próximo ano, que é um dos grandes objetivos nosso a curto prazo, que é a profissionalização da arbitragem. Nós tínhamos um planejamento inicial para o meio deste ano. E devido ao apoio que nós temos hoje da presidência da CBF, nós estamos antecipando todos os planejamentos que são possíveis. E isso faz com que nós tenhamos também esse trabalho já iniciado nesse momento. São várias ações. Isso desde o mês de fevereiro, desde quando eu cheguei, eu já percebi essas ações, a aprovação rápida dessas ações. E o mais importante é que nós temos hoje dentro da instituição uma visão de que sim, que a arbitragem deve ter esse tratamento. E hoje nós estamos fazendo de modo inédito esse primeiro trabalho de profissionalização da arbitragem brasileira. Na parte técnica, na parte de instrução, na parte do dia a dia, como se fossem exclusivos dedicados para isso, nós já estamos fazendo exatamente assim. Treinamento físico teórico, técnico, tático, de instrução, aprimoramento com as palestras também, complementando, porque não pode ser mais de seis, sete horas de treinamento físico. Então nós temos hoje uma agenda completa e nós vamos repetir isso também. E nesse momento, os árbitros mais, vamos dizer assim, os mais qualificados até o momento, porque tudo isso é momento. Então os árbitros que estão conosco, principalmente na Série A e alguns também da Série B brasileira, estão aqui. E isso depois vai descer em cascata para todas as federações, porque os instrutores, eles também são das federações dentro do Brasil.
O que muda após profissionalizar
A previsão é dezembro de 2026, daqui a aproximadamente 18 meses. Sem dúvidas, o índice de acertos aumenta. Por quê? Porque nós estamos falando de um ser humano e dedicado exclusivamente para aquela função. Então, intempéries, vamos colocar questões de deslocamento, questão de problemas, questões psicológicas, questões familiares, questões financeiras, questões relacionadas a nível de instituição, nível de avaliação, repetição, repetição, repetição, como qualquer processo de ensino pedagógico. E depois avalia, controla, sobe um degrauzinho, repete, repete, repete, avalia, controla, sobe mais um degrauzinho. Isso nós conseguimos fazer, por exemplo, aqui. E na profissionalização, com mais insistência e consistência. Por quê? Porque no campo de jogo, o hábito ele vai utilizar, por exemplo, Aqui, ele utiliza diversas vezes. E com isso, algo que eu tenho falado muito, é como se fosse uma equipe para trocar pneu de um carro de Fórmula 1. Há 30 anos, trocava em 30 segundos. Hoje, troca em trê segundos. Então, com a repetição, avaliação, controle, ajuste, os hábitos passam a tomar decisões acertadas, mais rápido. E é o que todos nós queremos. Eu, você, os fãs, todo mundo que assiste o futebol, que é fã do futebol, os clubes. E nós somos empáticos a essa situação. Nós sabemos que todos precisamos melhorar. E a arbitragem está buscando excelência com o que há de melhor hoje no mundo para que nós possamos concretizar esse grande objetivo.
Reciclagem
– Na primeira rodada, inclusive, todos acreditaram que foi extraordinária. Para nós, não. Foi muito boa. Nós tivemos alguns episódios internos, tratamos, cuidamos e os árbitros já voltaram. Ninguém viu, porque isso é uma praxe. Desde que o futebol existe, a Comissão de Arbitragem cuida dos árbitros, aprimora os árbitros e os reconduz para as partidas. E nós tivemos isso na primeira rodada? Poucos jogos tivemos, mas sempre temos, porque nós estamos falando de seres humanos. E aí nós ajustamos e ninguém viu. Na segunda rodada teve uma repercussão mais midiática. Ok, acontece também, a depender do tipo de intercorrência. Às vezes é um lance interpretativo, às vezes é um lance, um erro muito mais visível e acentuado. Está tudo bem, infelizmente isso acontece. E nós não gostamos que isso acontece, mas infelizmente ainda ocorre. E na terceira rodada também tivemos dois episódios. Mas lembrem, são dois episódios em dez partidas, com 30 grandes decisões ao menos. Ou seja, nós estamos falando de pelo menos 300 grandes decisões e dois equívocos. E quando acontece isso, seja por uma falha de interpretação, ou uma interpretação menos apropriada, ou uma interpretação também equivocada, nós trazemos o árbitro, afastamos para a instrução e depois, a depender do nível do equívoco ou da situação, retorna para as atividades. Seja na série A, seja na série B, seja na competição que nós entendemos que ele tem que voltar se ele já estiver habilitado para tal. Então é algo meritocrático, é algo que nós estamos atentos, muito mais do que vocês possam imaginar. Na primeira rodada, tivemos muitos elogios. Eu falei, gente, não está extraordinário, nós temos coisas a ajustar. E aí fomos, ajustamos, voltamos com árbitros experientes, árbitros internacionais, arbitrando como se fossem jovens, correndo como nunca antes, diferente de outras temporadas. E não é culpa deles e nem de gestão. É culpa, simplesmente, de nós podermos enxergar isso com um lado humano mais aprimorado, com mais carinho, com mais detalhe, e no final das contas, fazê-lo com que ele acerte mais. Porque é o que todos nós queremos. O clube quer, a federação quer, a CBF quer, o torcedor quer. Então a gente está aqui para ajudar isso a acontecer. Nada mais do que isso. Ajudar a fazer com que os hábitos tenham mais acertos.
Período de treinos
– Primeiramente, isso é um sonho para qualquer federação, associação nacional, para qualquer país. Treinar os árbitros, como nós estamos fazendo nesse momento, como a CBF propõe, como a CBF está estruturando, é algo que é um sonho para qualquer equipe de arbitragem, para qualquer comissão de arbitragem. E esse trabalho sendo realizado aqui, ele é exatamente o retrato de um partida oficial. E sendo assim, os árbitros atuam, com os observadores in loco. Depois eles vão para a cabine, a tenda do feedback, que a gente chama de instant feedback. E essa tenda que dá o retorno, essa tenda é fundamental. Porque ele ainda está com a mente no jogo. A questão cognitiva dele é mais acentuada, porque ele vai lembrar de ricos detalhes. E ali ele tem a instrução. Após essa instrução, ele tem uma devolutiva com os instrutores que analisam questões comportamentais, questões disciplinares, posicionamento em campo e detalhes técnicos da arbitragem. E depois esses árbitros voltam. E ao voltar, eles aprimoram já. E é o que eu disse no primeiro momento, repetição, repetição, repetição, controle, avaliação, repetição, repetição, repetição. Vai fazer com que a arbitragem acelere o processo de busca pelo erro mínimo, pela mitigação de erro em partida.
Nova forma de atuação do VAR
– Nós já temos essa semana completa de programação, parte prática, parte teórica. A teórica é complementar, é necessária. Mas o foco é a equipe de arbitragem entender que existem alguns profissionais no campo e alguns profissionais na cabine, no VAR. Hoje, todos fazem parte da mesma equipe. Tanto que temos assistentes de campo, que temos assistentes de vídeo. Então, mudando esse conceito de cara, nós já temos a equipe integrada. E a equipe, a parte do VAR, que faz parte da equipe de arbitragem, se tornando assistentes de vídeo, como a essência deveria ser sempre, ele passa a auxiliar o árbitro muito mais do que nós víamos no passado, devido à evolução de todo esse processo do Video Assistant Record, que é o nosso conhecido VAR hoje no Brasil.