Primeiro diretor de futebol do Botafogo como SAF, André Mazzuco foi braço direito de John Textor por cerca de três anos. Hoje dirigente do Internacional, ele relembrou o período no Glorioso e contou detalhes das escolhas do clube em relação a planejamento.
– Eu acho que a grande sacada do Botafogo é que era uma folha em branco. Para todos nós. Até para o John. Para ele, era tudo novo. A gente foi escolhido, eu e, na época, o Alessandro Brito, para tocar um projeto que ele nos deu uma folha em branco. E ele brincava. “Sem roteiro?” Sem roteiro. Ele nos deu uma orientação econômica e uma orientação de visão estratégica que ele tinha. “Eu quero o Botafogo em algum momento a gente criar um projeto sólido de formação de atletas, de negócio”. Para mim, é o ponto esquecido. Que é a categoria de base. Aí que foi que o John escolheu. Ou a Eagle escolheu. “Eu quero um Botafogo ganhando tudo. Competitivo”. Isso não paga a conta. Que é uma coisa que a gente vai testar daqui a pouco. É um reflexo que vai… Apesar que, assim, você compra um Luiz Henrique por US$ 22 milhões e vende por US$ 30 milhões. Mas quem vai arriscar fazer um negócio desse? O John arriscou – disse Andé Mazzuco, ao podcast “FootHub”.
– A base é a sustentabilidade. Se você não tem isso, que é um pouquinho que o Botafogo agora está tentando mudar… Mas é um trabalho de muito longo prazo. A base não te dá um retorno imediato – explicou.
O dirigente contou ainda que havia um perfil definido para contratações nos tempos de Botafogo.
– Eu acho que a grande vantagem é a consciência de que, quando é uma SAF ou é um modelo que não é associativo, você tem profissionais para exercer as funções. Isso o John entendeu bem. Por bem e por mal em vários momentos. Porque também foi uma educação para ele. O John é um cara sensacional, é um cara que assiste a horas e horas de futebol. Ele não é um conhecedor do assunto em si, mas ele conhece futebol, porque ele realmente mergulha no futebol. Então, o que a gente tinha? A gente tinha algumas premissas básicas montadas com ele. A gente tinha premissas que a gente construía junto com ele. Vou dar um pequeno exemplo. A gente definiu que os jogadores do Botafogo deveriam ser fast, smart e technical. Ou seja, rápidos, inteligentes e técnicos. Parece básico demais. Mas se a gente não tivesse uma premissa dessa, a gente não faria o futebol. Intensidade. Hoje, futebol, para mim, é uma outra discussão. Mas para mim, futebol, se você não tem intensidade, você não chega a lugar nenhum. Você pode ter dinheiro e investimento, mas se não tem um time intenso, que é um pouquinho do que está acontecendo com o Inter hoje, é bonito de ver, porque é um modelo – afirmou Mazzuco.
– Até lembrando uma coisa que foi a gente falando de gestão de pessoas, acho que um ponto que eu também considero fundamental no sucesso que a gente teve no Botafogo, era o perfil do atleta. Porque hoje você tem todas as ferramentas técnicas, táticas, físicas e você tem que mergulhar no comportamental. E pra quando você tem um time vencedor, um time que você quer algo a mais que você vai buscar, você tem que ter um perfil de jogador adequado. Você não pode mais ter o jogador de futebol. Você tem que ter o pacote completo. Isso faz muita diferença. A gente não teve nenhum problema de grupo no Botafogo. Como a gente não tem hoje no Inter, por exemplo. Pela seleção do perfil de jogador. Se é um jogador que pode te entregar muito tecnicamente, mas não te entrega no outro campo, a gente não pega – encerrou.