A pauta esquentou após o Botafogo golear o Flamengo por 4 a 1, no último domingo, pelo Campeonato Brasileiro: fair play financeiro. Foi o que pediram o clube rubro-negro, o Fluminense e parte da imprensa. Qual a opinião de John Textor sobre o assunto?
Acionista da SAF do Botafogo, o empresário americano deu declarações recentes se mostrando a favor do fair play financeiro, explicando qual sua ideia.
Relembre abaixo as declarações dadas em entrevista publicada pelo “GE” em 17 de julho:
— Eu não violei as regras do fair play financeiro em nenhum lugar do mundo. Isso é usar a força do nosso balanço para comprar um ativo, os direitos de um jogador. O fair play financeiro no mundo, e por isso que eu chamei de fraude em um discurso que dei em Londres, é construído para manter os grandes times grandes, e os pequenos, pequenos. Pense nas regras. Você só pode investir 70% das suas receitas nos seus jogadores. Se você já é o Liverpool, ou o Flamengo, tem mais receitas que todo mundo. Se você colocar uma regra dessa aqui no Brasil, você sempre vai ter o Coritiba na parte de baixo da tabela. Essas regras são feitas para manter o status quo. Porque não tenho como alcançar do dia para a noite os 40 milhões de torcedores que o Flamengo tem. Isso é uma fraude, mantém os times pequenos embaixo.
— Se queremos paridade, deveríamos fazer um teto salarial. A NBA, a NFL fazem isso funcionar muito bem. É negociado com o sindicato de jogadores. Cuida não só dos grandes jogadores, mas estabelece um pagamento mínimo para jogadores que estão começando. Estabelece dinheiro para aposentadoria de jogadores. Então, quando a carreira acaba, infelizmente muito cedo, há ajuda e suporte para essas pessoas seguirem para o pós-carreira. E todo mundo tem o mesmo nível salarial. É por isso que Cleveland consegue ganhar um campeonato e Nova York não. Toda cidade pequena na NBA tem chance de vencer um campeonato se for um clube bem gerido e tomar boas decisões. Fazer isso seria maravilhoso. Isso é fair play financeiro.
— Poderia ser feito no Brasil, não na Europa. A razão pela qual não dá para fazer na Europa é que os países são pequenos, as fronteiras todas são próximas. Seria muito fácil para um jogador dizer “eu não gosto do meu teto salarial na Inglaterra, então vou para a França”. A mobilidade dos jogadores torna impossível fazer, a não ser que todos os países da Europa assinem o mesmo teto salarial. O que é ainda mais difícil devido a situações econômicas e financeiras e todo esse tipo de coisa.
— Mas o Brasil é grande o suficiente e dominante o suficiente. Desculpe, Argentina, mas somos nós, no futebol da América do Sul, que poderíamos ter uma estrutura de teto salarial que alcance paridade. Em que o Coritiba tem uma chance de vencer o Flamengo. Competitivamente, sendo esperto, desenvolvendo jogadores, competindo bem, contratando o treinador certo. E, se a liga fica mais forte, todos os times se tornam mais valiosos, mais investimento viria e poderíamos ter a força da Premier League aqui no Brasil. Se vier com o limite de gastar até 70% de receitas, como a Uefa faz, será um mundo diferente. Os clubes do topo vão poder gastar muito dinheiro, e os de baixo não.
— Se você não se importa, eu queria voltar para falar de um grande multiclube. Se não fizermos alguma coisa sobre o Fair Play financeiro aqui, deveria ser um teto salarial, porque não tem os problemas que a Europa tem com teto salarial. Seria um limite contido internamente. Você não poderia gastar mais do que essa quantidade de dinheiro e garantiria que o fluxo ajudasse os jogadores ao longo de todos os níveis. É possível fazer isso de forma bem saudável.
— Se você fizer isso ou nada, e esse é meu aviso para Corinthians, Palmeiras, Flamengo… Se não fizermos algo, vamos acordar daqui a 70 anos, sob a atual estrutura administrativa, com as pessoas que estão aqui hoje, o Bahia vai ganhar o Campeonato Brasileiro em 17 de cada 20 anos.
— Eu amo as pessoas no Manchester City, as pessoas que trabalham lá são incríveis. Mas o fato é que o Brasil trouxe dinheiro do petróleo para casa. Se não fizermos algo agora sobre um teto salarial, o Bahia vai comer nosso almoço. Aquela cidade maravilhosa [Salvador], ótimo hotel, ótima comida, perfeita. Eles vão ganhar todos os campeonatos por 20 anos consecutivos. Lamento dizer isso para os torcedores do Flamengo aí fora. Esqueçam, acabou, acabou. Precisamos consertar isso agora. A Liga tem que ser feita agora, o teto salarial também.
— Eles são Abu Dhabi. Nós temos que competir contra o Catar [PSG] na França. Eu estou disputando com um país, não com um dono. Um modelo de gasto desenfreado, sem restrições. Desde que eles consigam gerar receita suficiente, e eles conseguem devido às relações com o Catar e com os patrocínios. Então eles conseguem colocar as receitas exatamente onde eles precisam, para gastar o que eles querem porque desejam ganhar a Uefa Champions League.
— Eu tenho que competir com isso enquanto dono de um dos grandes clubes da França, que foi campeão nacional sete vezes seguidas entre 2000 e 2008. Agora, aquele clube, o grande Olympique Lyonnais, não consegue competir por nada além do segundo lugar. Nós vamos dar o nosso melhor, espero chutar a bunda deles e que tenham um ano ruim. Mas tudo que precisam fazer é colocar a mão no bolso, soltar um pouco de dinheiro do petróleo e eu já era.
Já no dia 19 de agosto, após o Botafogo golear o Flamengo e o presidente rubro-negro ironizar “os tempos de SAF” sem fair play financeiro, John Textor voltou a se posicionar.
— É sabido que gosto e respeito o Rodolfo (Landim), e é verdade que acredito na ideia de trazer o fair-play financeiro para o Brasil, mas posso confirmar que nossas receitas aumentaram de forma tão significativa que nossos níveis salariais atuais estão em apenas 45% das receitas. Isso está bem abaixo do limite de 75% imposto pelo fair-play financeiro. Portanto, está claro que essa versão do Botafogo ainda seria possível se as regras europeias do FFP fossem aplicadas no Brasil – explicou.