O Botafogo abriu o treino para a imprensa nesta quinta-feira, no CT Lonier, os jogadores deram entrevista e uma das declarações que mais repercutiu foi a de Igor Jesus sobre Renato Paiva ter lhe pedido para ficar mais na área. O treinador alvinegro disse que o camisa 99 não contou tudo (ainda bem) e esclareceu o que quer do centroavante em sua filosofia de jogo.
– No sistema em que nós jogamos, 4-3-3 ou 4-2-3-1, e isso é um ponto de partida, não jogamos normalmente com dois 9 e, portanto, isso faz com que o 9 referência seja mais centralizado. Agora, eu acho que o Igor não quis contar tudo, e ainda bem (risos). Demostra que é um miúdo inteligente. Há zonas onde eles, obviamente, atuam de forma preferencial por causa das características deles. O zagueiro é zagueiro porque sabe, atua muito melhor na zona do zagueiro do que na zona do meia, e assim sucessivamente – iniciou.
– Dentro do jogo posicional, é verdade que a dinâmica, quando sobe, e quando a bola entra nessas zonas, muitas das vezes, essa é a grande confusão, do jogo posicional estar tudo quieto e sossegado nas zonas, e é mentira. A bola tem que entrar nas zonas para depois as dinâmicas começarem, e a partir daí, é o que eu digo, pode estar gente dentro, pode estar gente fora, independentemente de quem seja. E aí o Igor faz outro tipo de movimento, ainda bem que ele não contou, mas o que nós, de fato, queremos é que as jogadas terminem com o Igor na zona onde ele, de fato, é muito bom, que é dentro da área para fazer gols. Se até lá ele consegue ligar jogo, se até lá ele consegue atacar espaços, se até lá ele consegue arrastar a defesa adversária fazendo diversos movimentos sem bola, onde ele é também extraordinário, e isso ajudar que a equipa se aproxime da área, toco. Porque depois, quando a equipe se aproximar da área, eu quero é que ele esteja na área – explicou.
Renato Paiva também destrinchou o que significa o termo “jogo posicional”, tão falado pela imprensa nas análises sobre o novo treinador alvinegro:
– O jogo posicional é a equipe estar junta atacando e defendendo. Se está junta, quando ataca tem mais linhas de passe, tem mais dinâmicas interiores e exteriores. Coloca mais jogadores nas zonas onde está a bola, seja fora da área, seja dentro da área. E depois, dentro disso, aprender com os que ficam mais atrás a defender com menos, ocupar bem as zonas para defender com menos e anular as referências de transição do adversário. Portanto, o que preocupa muito no ataque é isto. E, no momento da perda, se de fato estamos juntos, no momento da perda podemos acumular jogadores para pressionar a bola e para evitar que o adversário chegue ao nosso gol o mais rápido possível. Se não for possível esse primeiro momento de defesa e de roubar a bola, compactar um bocadinho mais atrás, juntos outra vez. Porque, se tu te separas e afastas as linhas, são exatamente as zonas onde o adversário te quer fazer mal. É espaço entre linhas, seja entre a linha média e a linha defensiva, seja entre a linha avançada e a linha média. E aí tu deixas espaço para o adversário crescer, progredir e ir na direção da tua área. Obviamente que a equipe quando está compacta e está mais perto do gol adversário, o espaço está nas costas. Esse é o perigo desta forma de jogar e de defender. Mas, obviamente, nós também temos, e estamos trabalhando nisso, antídotos. Porque as grandes equipes no futebol mundial jogam assim e já o Botafogo também jogava assim e ganhou os títulos grandes assim. Eu não consigo conceber que nós estejamos na área adversária com a linha média e avançada e que a linha defensiva esteja 10 metros atrás da linha do meio campo. Não vejo o jogo dessa forma. O desafio é exatamente esse, juntos dentro do campo e juntos fora do campo. Nós e a torcida.
Renato Paiva disse ainda que adoraria ver suas equipes com muitos gols marcados pelos laterais e detalhou também o posicionamento dos volantes. Veja as demais declarações:
PARTICIPAÇÃO DOS LATERAIS
“O que quero dos laterais é que tenham um protagonismo especial quando atacamos. Em primeiro lugar, nem sempre são os laterais que têm de estar na largura, alguns têm de estar na largura, eu já falei isso, para mim a largura é irreversível no jogo, se fizermos ter um ataque variável por dentro, por fora, a largura é inegociável, se tu estiveres sempre por dentro e não consegues jogar dentro, porque está lá toda a gente dentro, então tens de ter gente fora também. A dinâmica tem a ver exatamente com isso, no jogo posicional, umas vezes os laterais, umas vezes os pontas, umas vezes os meias, é nesta versatilidade que eu quero que a equipa ataque, depois é o compromisso defensivo que eles têm que ter, e eu quero que eles façam gols. Sinceramente eu disse a eles, quero que eles façam gols, quero que eles sejam uma ameaça quando estamos atacando, quero que eles sejam uma ameaça muito forte às defesas adversárias, e nós estamos a criar dinâmicas para isso, obviamente sem eles esquecerem que o papel deles é defesa lateral e, como tal, defender primeiro.”
POSICIONAMENTO DOS VOLANTES
“Depende do jogo, o jogo é que te pede, o jogo é que te dá informações, se é necessário que os volantes estejam em linha, se é necessário que os volantes estejam mais à frente ou mais atrás, se tem a ver com o posicionamento do adversário, com a ocupação dos espaços, o jogo é dinâmico. Por isso eu digo, às vezes os sistemas têm isto, a equipe joga em 4-2-3-, e depois quando a equipe começa a desenrolar o ataque e tu paras, num determinado momento a equipe está em 4-4-2, ou está em 3-5-2, ou está em 3-4-3, porque é um ponto de partida que as dinâmicas depois acabam por beneficiar no momento inicial, mas que acabam por alimentar outros sistemas a partir do sistema base. O posicionamento deles vai estar sempre influenciado em relação ao quê? À bola, o colega mais próximo, o colega mais distante, os passos do adversário, portanto se eles estão lado a lado, se estão mais à frente ou mais atrás, é o jogo que vai pedir, eles têm que saber fazer isso e esse é o nosso papel.”
LATERAIS FAZENDO GOLS
“Acho que não há nenhum jogador de futebol que não queira fazer gol. Nenhum. Então, todos têm que ter essa capacidade de poder chegar à área, de poder surpreender o adversário, de aparecer em zonas inesperadas, desde que obviamente tu te equilibres atrás e isso não desequilibre o teu equilíbrio. Isso é que é o grande desafio. Mas é o grande desafio meu e é o grande desafio de todos os treinadores que treinam equipes desta dimensão que jogam para ganhar títulos, que é atacar com muita gente, repito, e defender com com menos do que atacamos. E quando tu defendes com menos do que atacas, na ocupação de espaço tens que ser muito rigoroso, tens de ser muito agressivo no momento de controlar as referências do adversário. E por isso eu, se eu ganhar três títulos com 15 gols dos meus laterais, vou ficar encantado. Ou dos meus meias. O que eu quero é que eles desfrutem, quero que eles tenham a responsabilidade tática do jogo, percebam quando é que é o momento de ir lá fazer o gol e quando é que não é o momento de ir lá fazer o gol. Para já, estou muito satisfeito com aquilo que a equipa apresentou contra o Cruzeiro.”