Jornalista especializado em negócios no esporte, Rodrigo Capelo deu entrevista ao “Charla Podcast” e falou sobre a situação financeira e estrutural do Botafogo, que vive disputa judicial entre John Textor e Eagle Football Holdings pelo controle das ações. Ele opinou sobre o caso e a chance de o grego Evangelos Marinakis estar no mesmo grupo.
– Eu acho que o Botafogo não vai vai fazer parte do grupo do Marinakis, acho que não. Mas isso é um achismo com algum grau de informação. É um achismo, assumo. O que a gente sabe, com base na análise financeira do Botafogo, é que o clube precisa ser reorganizado. O clube está devendo muito e não devia. O Botafogo de Futebol e Regatas é sócio minoritário. Eles têm 10%, quer dizer que eles não administram, mas eles têm que fiscalizar porque eles são sócios dessa SAF. A SAF, só para a gente ter uma noção, ela já tem R$ 200 milhões em impostos reparcelados que não foram pagos. A SAF é de 2022, tem três anos. Em três anos, já tem R$ 200 milhões em impostos que não foram pagos e já foram reparcelados, impostos novos. É sacanagem, né? É sacanagem – pontuou Capelo.
– Porque quando a gente fala de fair play financeiro, e todos os competidores que estavam pagando imposto direitinho? Não é uma competição injusta? Então, assim, como é que pode uma SAF e, aliás, para todo mundo que achava que a SAF ia trazer profissionalismo, transparência, rigor com pagamento de impostos de jogadores, ter R$ 200 milhões em impostos que não foram pagos e já foram reparcelados, já entrou em Refis? Está com curiosidade? Abre o balanço e vê. Ou seja, contratou, prometeu salário, não recolheu imposto, já foi na Receita Federal e já fez um acordo em dívida nova, cara. Fora os R$ 700 milhões que ainda tem na associação para pagar. Porque a SAF também tem que pagar a dívida passada do Botafogo. Aquele passado não acabou. Então, é uma dívida muito grande que o Botafogo tem que dar conta com uma receita que hoje toda hora aparece uma notícia de R$ 1 bilhão em receita, R$ 700 milhões em receita. As receitas do Botafogo estão muito grandes, sim. Só que elas estão muito grandes porque tem premiação de libertadores, premiação de Copa do Mundo de Clubes. Só que essas premiações não são recorrentes. O Botafogo pode chegar em 26 e não ganhar Libertadores de novo e não vai ter Copa do Mundo de Clubes. Ele não vai ter essa premiação. A receita vai voltar para um patamar de quanto? De R$ 300 milhões, R$ 400 milhões? O custo vai estar alto porque o time é competitivo? Não vai ter dinheiro para pagar as contas? Faz o quê? Vai quebrar de novo? Entendeu? Essa é a preocupação que o torcedor tem que ter. E aqui não é assim – ponderou.
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John Textor
– “Você está dizendo que o John Textor é ruim para o Botafogo?” Não, o John Textor salvou o Botafogo. Eu acho isso mesmo. Eu não esqueci de 2022. Eu não esqueci de 2023, nem de 2024. Mas tudo o que você faz tem uma estratégia, tem um risco assumido e tem um preço que você vai pagar. E tem que acompanhar cada etapa da história para estar consciente. Para estar consciente, pelo menos. Se o torcedor que está assistindo a gente fala assim, “pô, eu entendi tudo, mas mesmo assim eu acho que valeu a pena”, está tudo bem, cara. Está tudo bem. Mas entendeu a gravidade? Entendeu a estratégia? Entendeu o que o John está fazendo? O meu papel é esse. É só explicar.
Possíveis cenários
– Eu não acho que ele vai vender o Botafogo para o Marinakis ou vai fazer uma fusão, eu não acho que vai por esse caminho. Assim, o primeiro passo é, como é que os sócios do John, a Iconic, a Ares e Michele Kang, principalmente, e o John vão se acertar? Vai dividir, tem que dividir. Nessa divisão, o Botafogo vai continuar dentro da Eagle ou fora? Porque existe um cenário em que os sócios remuneram o John e falam “John, a gente vai te pagar X milhões e o Botafogo é nosso, tá bom?” E o John, por algum motivo, é convencido e sai. Isso pode acontecer. O John Textor vai sair de figura e aí o botafoguense vai se acostumar com o rosto da Michele Kang que é quem colocou o rosto lá no Lyon, por exemplo. É uma possibilidade. Ou o John vai chegar num acordo para falar “olha, vou tirar o Botafogo da Eagle Football Holdings e vou colocar na Eagle Football Group”, que é uma empresa que ele já abriu nas Ilhas Cayman. Tem o mesmo nome, só que muda no finalzinho. Não é a Holdings, é a Group. E não é na Inglaterra, é nas Ilhas Cayman. O Botafogo vai para lá e vai ser o primeiro e único grupo num primeiro momento. Ele já está sondando a compra do Sheffield Wednesday na Inglaterra. Pode ser que ele compre o Botafogo da Eagle dos antigos sócios com dinheiro de algum lugar. De onde? Alguém empresta dinheiro para ele. Assim como ele comprou o Lyon com dinheiro da Iconic e da Ares, ele pode comprar o Botafogo da Eagle com dinheiro de alguém. Uma outra Ares, outra Iconic. É do Marinakis? Pode ser. Pode ser um acordo de crédito entre eles, um empréstimo. Pode ser um empréstimo vinculado a venda de jogador. Ele vai conseguir esse dinheiro com alguém. Aí ele compra o Botafogo, coloca no novo grupo, consegue mais crédito, compra o Sheffield Wednesday, coloca no grupo também e começa a refazer o grupo de clubes como ele gosta, como ele quer fazer, e nasce uma nova Eagle. É uma possibilidade. Aí tem duas Eagles.
– Mas tudo isso está sendo decidido agora e é fundamental, porque com uma ou outra, a administração do Botafogo deve mudar radicalmente. Porque claramente a cabeça do Textor é ambiciosa, ela é arrojada, mas é também gastadora. Busca dívida, quer ir atrás de título, mas endivida. Já os outros sócios, aparentemente, têm um perfil mais conservador, do tipo, o que você fez aqui, entendeu? Vamos agora reestruturar, refazer. Talvez, acho, eles sejam um pouco mais conservadores. O Botafogo pode ter uma outra administração se trocar de dono. Mas, cara, por enquanto, essa parte é a especulação. O que dá para saber é isso. Vai depender de em qual grupo o Botafogo vai estar. Vai estar com os outros sócios ou vai estar com o John? Essas informações, tudo o que a gente está falando aqui agora, amanhã ou hoje, eles podem chegar com uma nota falando assim, olha, entramos em um acordo, o Botafogo vai fazer isso, vai acontecer isso. Pode mudar em dois minutos.
Botafogo vai quebrar?
– Não, eu não falo essas coisas, cara, porque aí eu seria tipo o profeta do apocalipse, entendeu? Eu não quero ocupar esse espaço. O que eu sei é que o Botafogo está muito endividado. Ele está muito endividado, ele está gastando mais do que arrecada. E tem um risco assumido que é muito alto. Você vende jogador, mas você não vende jogador todo dia, entendeu? Esse é o problema. Você vai vender um monte de jogador, aí esse dinheiro vai entrar e vai pagar dívida. Essas dívidas, primeiro a gente tem que entender também como é que vai ser essa divisão de ativos e passivos entre Lyon e Botafogo, porque o Botafogo está devendo dinheiro para o Lyon, o Lyon está devendo para o Botafogo, mas tem uma discussão entre eles de se o dinheiro é devido ou não. Então tem muita coisa cinzenta no meio do caminho para entender, sabe? Tem que esperar o balanço de 2025 sair lá em 2026 para olhar de novo e falar assim, cara, agora avançou mais um pouquinho. É um trabalho recorrente. A gente tem que ver retrato por retrato para ver o filme depois e falar assim, olha, está acontecendo isso. Hoje o que dá para dizer é isso, o Botafogo tem um risco muito grande financeiro assumido. Vai quebrar? Não sei. Vai ficar com um time muito fraco do nada? Vai cair de divisão? Não acho. O Botafogo ainda tem mais um ou dois anos de elenco forte com essa mesma administração, com esses mesmos profissionais, com o John. Essa equipe que está de administração, eu acho que perdura mais algum tempo, no mínimo, até sair essa solução entre os donos. Quem fica com o quê? Quem é dono do quê? Quando tiver essa solução, aí, dependendo do que for, pode ser que mude tudo, pode ser que não mude nada. Pode ser que resolva a parte financeira, comece a resolver, pode ser que piore, pode ser que as decisões comecem a ser mais ousadas ainda, não sei, cara, aí a gente tem que acompanhar cada retrato para saber o filme.