Em longa entrevista no programa “ESPN F90”, o diretor-executivo de futebol do Botafogo André Mazzuco comentou diversos assuntos. Além de crer nas permanências de Luís Castro e Eduardo, o dirigente debateu pautas importantes do clube.
Confira trechos abaixo:
– A SAF tem uma responsabilidade grande de estruturar os clubes. Temos uma cultura muito imediatista, significa que vai demorar tempo para mudar. Entendemos, o que nos faz buscar respostas imediatas com o resultado esportivo. O próximo passo do futebol é o lado humano, não dissociar, passa pelos profissionais e pela estruturação. Temos uma categoria de base que sobrevive graças aos esforços dos profissionais, como Tiano Gomes e João Paulo Costa, é uma estrutura deficitária, que demanda investimento alto. É difícil fazer tudo de uma vez. Agora é pensar em projeto de médio prazo, para ter CT adequado, formar os atletas e os não-atletas. Há um projeto em paralelo, temos o resultado esportivo e esse esforço para formar pessoas melhores. Os clubes têm que estar bem dispostos. A CBF, como órgão-máximo, é importante tomar partido disso, só dessa forma, com insistência, vamos mudar esse quadro cultural. O Botafogo quer se tornar clube com resultados eficientes e desenvolver seus jovens para isso. Trouxemos o Marçal da Premier League porque tínhamos o Hugo, que vivenciando com Marçal se desenvolve mais rápido. Como o Raí com o Eduardo. Esses atletas nos ajudam no processo de formação. E Luís Castro vem de processo bacana no Porto, fomentou no Shakhtar, estamos construindo isso no Botafogo.
SAF
– O grande desafio na mudança de cultura é tentar fazer de forma diferente. O benefício de uma SAF é que as decisões são mais técnicas que emocionais, clubes associativos têm dificuldade com a continuidade. Não tenho dúvidas que muitos times teriam resultados melhores se tivessem mantidos os treinadores. Quanto mais tempo se conhece um problema, maior a chance de resolver. No Botafogo, passamos por duas crises, que foram as viradas de chave do clube, tomamos decisões técnicas. Passamos por oito jogos sem vencer ano passado, tínhamos atletas chegando e se recuperando, o problema não era o treinador. E esse ano tivemos fator técnico ruim, não classificamos às semifinais, mas tínhamos razão para isso. Temos um dono, John (Textor), contrata profissionais para reportar a ele. Fomos firmes, mesmo na pressão, não era o treinador (o problema). É lógico que não esperávamos estar em primeiro, mas esperávamos estar em uma boa posição no campeonato. Futebol precisa de tempo, são vários seres humanos juntos para se adaptar e conhecer o trabalho de treinador. O resultado vai te batendo enquanto o trabalho esta acontecendo. A SAF vai entender que é necessários que as decisões sejam cada vez mais técnicas.
Prioridade
– Em quanto mais competições estivermos, melhor. Não tem que priorizar. Temos que trabalhar o elenco, ter opções de jogadores, fizemos muito isso, mudar o time. Não vamos priorizar, são duas competições importantíssimas. Brasileirão nos dá o calendário do ano que vem, Sul-Americana é playoffs, queremos chegar o mais longe possível.
Estratégia no elenco
– Não é nem questão de equilíbrio, é otimização financeira. Fizemos muito investimento ano passado. Buscamos agora esse equilíbrio de otimização, ter elenco eficiente e com jogadores com valor de mercado. Reposição pode tecnicamente ser similar, mas financeiramente ser menor. Na primeira janela, assumimos com seis semanas para montar o time, naturalmente se bota mais dinheiro na mesa, é emergencial. Na segunda, foram investimentos altos, mas mais otimizados. Agora, trouxemos Diego Hernández, de potencial alto, investimento baixo, talvez em curto espaço de tempo ocupe espaço. É aproveitar esse momento, caso haja saída, de transição de elenco. Temos espinha-dorsal interessante e jogadores se desenvolvendo ao redor deles.
Média de público
– É curioso, estamos tentando buscar mais dados que nos deem essa razão. A média é OK para o Botafogo dos anos recentes, estamos tentando aumentar, tivemos bons públicos ano passado. Estamos há 80 dias jogando duas vezes por semana, economicamente é puxado, tem um gasto importante. Talvez uma das razões recentes seja o cara ter que escolher o jogo para ir. Estamos tentando melhorar o plano de sócios, fizemos lançamento com benefícios, estamos tentando atrair mais, melhorar estádio, claro que o resultado atrai. Temos que buscar soluções melhores para atrair mais público.
Treinadores estrangeiros
– Não enxergo muito a questão da nacionalidade do treinador, muitos que vieram para o Brasil trouxeram metodologias. Somos o país do futebol, mas extremamente acomodados, com pouca oportunidade. Tivemos incentivos recentes com a CBF. Até a relação do executivo com o treinador é distante. É questão de buscar qualificação, temos treinadores brasileiros maravilhosos, mas lá fora eles têm facilidade maior de troca de conhecimento. O Brasil é continental, na Europa você pode sair de um país para o outro para aprender, o conteúdo borbulha. Quando esses caras vêm para cá, trazem coisas novas. Temos que aproveitar isso para qualificar quem tem pouco acesso, como é o caso dos treinadores brasileiros. Percorremos o Brasil inteiro, lá eles percorrem 12 países e crescem em conteúdo. As coisas estão mudando, estão melhorando. Luís Castro traz uma comissão técnica de cinco pessoas todas altamente capacitadas, com certificado da Uefa, são profissionais que vêm com bastante bagagem e podem ajudar no processo que estamos vivendo.