A temporada histórica do Botafogo, com os títulos da Libertadores e do Campeonato Brasileiro, foi tema de editorial do jornal “O Globo”, um dos maiores do país, neste domingo (15/12), em sua página 2.
O texto descreve todo o processo de recuperação do Glorioso desde que se tornou SAF, no Natal de 2021, com evoluções gradativas ano a ano sob a gestão John Textor.
O editorial reforça a importância do modelo empresarial no futebol, mas ressalta que a SAF não é garantia de sucesso, dando como exemplo o Vasco, que se desvinculou da 777 na justiça e procura um novo investidor.
“Implantada no Brasil em 2021, a SAF se mostra interessante aos clubes sem capacidade de investimento. O modelo melhora a governança e reforça o profissionalismo em times que viviam no atoleiro”, diz um trecho.
O texto encerra afirmando que há alternativas às SAFs que podem funcionar, em clubes saneados financeiramente e bem administrados, com capacidade de investimento, casos de Palmeiras e Flamengo atualmente.
Confira o editorial:
Títulos do Botafogo reforçam sucesso do modelo empresarial no futebol
Apesar da eliminação da Copa Intercontinental, a trajetória vitoriosa do Botafogo neste ano — com intervalo de apenas uma semana, o clube conquistou a Copa Libertadores da América e o Campeonato Brasileiro — pôs em evidência o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF), adotado pelo alvinegro carioca a partir de dezembro de 2021. A SAF, que impõe ao clube gestão empresarial, lhe abriu perspectivas, como demonstram os resultados.
Em 2020, o Botafogo fora rebaixado para a Série B depois de uma campanha medíocre. Como SAF, passou por profundas transformações. Elas incluíram reforço do elenco com algumas das contratações mais caras da história do futebol nacional. A estratégia se mostrou bem-sucedida. Em 2023, o clube fez uma campanha arrebatadora, liderando 31 das 38 rodadas do Brasileirão. Perdeu fôlego na reta final, acabando num frustrante quinto lugar (pelo menos pôde disputar a Libertadores). Neste ano, protagonizou campanhas exemplares, conquistando os títulos continental (inédito) e nacional (que não vencia desde 1995).
O modelo clube-empresa, da SAF, é adotado com sucesso nas principais ligas da Europa. Times como Manchester City, Bayern de Munique e Paris Saint-Germain funcionam dessa forma, com apoio de grandes investidores. No Brasil, existem hoje mais de 60 SAFs em diferentes divisões. Na Série A, além do Botafogo, Fortaleza — que, embora seja SAF, mantém o controle do futebol internamente — e Bahia (do grupo que administra o inglês Manchester City) também fizeram campanhas notáveis. O Fortaleza chegou em quarto, o Bahia em oitavo, à frente de equipes tradicionais como Fluminense ou Grêmio. Na elite do futebol, também são SAFs Cruzeiro e Atlético-MG.
Claro que o sucesso de Botafogo e outras SAFs não se estende a todas. Há casos em que o modelo não deu certo. Um dos exemplos é o Vasco da Gama, que chegou em décimo lugar no Brasileiro depois de uma campanha de altos e baixos. A parceria com os investidores da 777 fracassou, levando o clube a travar uma batalha judicial contra o grupo. Como toda empresa, uma SAF pode sofrer de má gestão e fracassar. A SAF cruz-maltina está agora à venda.
Implantada no Brasil em 2021, a SAF se mostra interessante aos clubes sem capacidade de investimento. O modelo melhora a governança e reforça o profissionalismo em times que viviam no atoleiro. Não há dúvida de que, com mais dinheiro e gestões mais eficientes, eles podem reforçar seus elencos com jogadores de nível internacional e se credenciar aos principais títulos.
Mas, mesmo nos casos bem-sucedidos, o modelo não serve como receita única. Há outras alternativas. Palmeiras e Flamengo, que conquistaram seis dos últimos dez Brasileiros, são clubes com finanças saneadas, bem administrados, com grande capacidade de contratação. Cada time deve avaliar o melhor para o próprio perfil. O importante é deixar de lado o amadorismo que há anos caracteriza o futebol brasileiro e buscar administrações eficientes. É bom para os clubes e para o futebol.