O tema manipulação de jogos e corrupção no futebol brasileiro é muito caro a John Textor. Em entrevista ao programa “CNN Esportes S/A”, da “CNN”, o dono da SAF do Botafogo reservou alguns minutos para falar da questão e ressaltou a necessidade de se combater esse problema, elogiando os esforços que são feitos no país no momento, como a CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas no Senado.
– O que me incomoda é que não podemos falar sobre isso abertamente. Acho que o Brasil deveria ser orgulhar de estar fazendo algo a respeito. Kajuru, Romário, o senador Portinho, esse é um dos poucos países no mundo que abriram uma investigação e está tentando fazer algo a respeito. É um problema global, não é um problema brasileiro. A corrupção na forma de subdesempenho de jogadores é um problema enorme no futebol, no tênis, no críquete, e há processos judiciais que acontecem em todo o mundo quando isso acontece. As novas tecnologias nos permitem ver anomalias no comportamento dos jogadores. Então, em vez das pessoas atacarem alguém como eu, que traz esses problemas à tona, que mostra como a tecnologia pode melhorar o jogo, por que não admitimos que isso é um problema? Todo mundo queria negar o doping no ciclismo, até que Lance Armstrong, o maior ciclista do mundo, admitir. Nós temos esse problema no futebol, é uma realidade – disse Textor.
O empresário norte-americano recordou as punições que sofreu no STJD e os julgamentos que teve que enfrentar por conta dos indícios que trouxe, com base em novas tecnologias que ajudam a detectar anomalias no esporte.
– O que realmente me incomodou quando trouxemos para o Brasil essas ideias para a discussão, a resposta foi a seguinte: “Vamos suspender esse homem porque ele está envergonhando nossa liga”. O Brasil não deveria se envergonhar. O Brasil é o primeiro país que está fazendo algo a respeito. Vamos corrigir aqui e ser um exemplo para o resto do mundo – pontuou Textor.
– A corrupção realmente me incomoda, aconteceu na nossa liga nos últimos anos. Aconteceu na Grécia, na Turquia, na Inglaterra, na Alemanha. Acontece na Copa do Mundo, acontece na Uefa. Então, sim, isso me incomoda e eu não vou ficar calado sobre isso só porque as pessoas não querem falar disso. Eu vou tentar melhorar o jogo – completou.
Veja outras declarações de John Textor sobre o tema:
RELAÇÃO COM Ednaldo Rodrigues
– Estou muito feliz que minha relação com a CBF esteja melhorando consideravelmente, com o Ednaldo recentemente. Ele fez algumas declarações públicas sobre mudanças que ele quer implementar em sua equipe, nas designações de árbitros, e o Ednaldo está se envolvendo com tecnologia, ele está participando dessas discussões, ele tem se envolvido com o Botafogo de forma muito produtiva nos últimos meses. É um grande trabalho. Isso exige mais do que apenas na CBF. É um problema global. Então, agora estou feliz que a CBF realmente está começando a fazer algo a respeito.
CORRUPÇÃO É PIOR NO BRASIL?
– Não acho que seja pior aqui. Claramente não é. Na verdade, a metodologia que foi desenvolvida para ajudar a detectar manipulação de partidas foi desenvolvida na Europa e para a Europa. Países de toda a Europa têm o mesmo problema. A metodologia foi desenvolvida em parte por meio de investigações. Eles prendiam ou entrevistavam pessoas que manipulavam jogos e aprendiam os truques e ferramentas que usavam. Como eles ensinavam um jogador a virar e correr para o outro lado, ao invés de interceptar uma bola. Como eles ensinam um zagueiro, em vez de aproveitar o ângulo dele à frente do jogador, a ajustar o ângulo e deixar o caminho para o gol mais fácil. Essa metodologia foi desenvolvida na Europa, não no Brasil, porque havia problemas em todos os lugares. Agora, existe uma tecnologia que facilita a visualização disso, uma visão computadorizada. Essas pequenas mudanças de comportamento podem ser amplificas com visão computacional para que possamos ver. Isso significa que, se os jogadores e árbitros sabem que existe essa espécie de “olho perfeito no céu” que tudo vê, vão parar de fazer isso.
TECNOLOGIA A FAVOR DA CORRUPÇÃO
– Acho incrível o alarde que fazem nos noticiários sobre um único jogador que aceita uma pequena quantia de dinheiro para fazer algo que não deveria, quando temos uma cultura de corrupção que envolve as organizações, as federações, times que pagam dinheiro às pessoas para ganhar e perder jogos… Temos empresas de apostas que fazem a mesma coisa. Agora as apostas estão proliferando ainda mais com as chamadas “apostas prop”, em que você aposta que um jogador vai marcar ou não, ou que vai levar um cartão amarelo ou não. A corrupção sempre existiu por diversos motivos. Pelo esporte, pelas apostas… Está cada vez mais difícil para de controlar, porque a tecnologia é uma via de mão dupla, fazer essas apostas está cada vez mais fácil. Acho que executivos como eu, as pessoas das federações, os donos de clubes, todos devemos trabalhar para resolver esses problemas que sabemos que existem. Porque, quando vejo um jogador correndo no gramado e marcando um gol incrível, e vejo crianças chorando de alegria nas arquibancadas porque seu ídolo fez um gol, não deveríamos ter a certeza de que aquilo foi uma jogada honesta, que aconteceu porque dois times estavam dando seu máximo para vencer o jogo? E que ninguém, sejam jogadores, apostadores ou árbitros, interferiu nisso? Queremos um resultado puro, que o que vemos em campo seja a beleza que sabemos que deveria ser.
O QUE A CBF PODE FAZER
– A CBF trabalha com empresas que ajudam a resolver o problema. Eu gostaria de abrir esse portifólio de tecnologia para incluir mais ferramentas, para que a CBF tenha mais ferramentas para enfrentar isso. Existe uma empresa que eles usam ativamente que tenta identificar jogos manipulados com base nos padrões de apostas. Essa empresa talvez só vê 20% do mercado, porque as pessoas que manipulam jogos, que apostam quantias significativas de dinheiro, não fazem isso em sites legais, como a Betano. Eles fazem isso no Sudeste Asiático, no mercado negro. A empresa que a CBF usa não é o suficiente. É uma das ferramentas, precisamos de muitas.