O estilo do Botafogo mudou completamente. Saiu o jeito vencedor de 2024, mais físico, forte e agressivo, entrou um time em tese mais técnico, com jogadores franzinos e ritmo lento. A alteração foi ressaltada pela comentarista Jéssica Cescon, no programa “Redação SporTV“, após a derrota para o São Paulo no Morumbis, pelo Campeonato Brasileiro.
– Muito distante do Botafogo Way. Foi tão falado esse Botafogo Way, que foi responsável por fazer o Botafogo vencedor e campeão, mas esse Botafogo está se distanciando do Botafogo Way. Eu não acho que o fato de ter três volantes em campo significa não jogar no Botafogo Way. Não tem nada a ver. Mas é a postura do time. Uma postura de apatia. Um time que não estava conseguindo encaixar para ter aquela força toda do Botafogo. O Botafogo Way é um time que é avassalador quando está com a bola no pé, busca esse gol a todo custo. E não foi isso que a gente viu. Pode ser que o Davide Ancelotti vire o jogo e a gente veja o Botafogo crescer de produção de novo. Mas me parece que o modelo do Botafogo de fazer futebol que é construir a sua equipe na janela do meio do ano, é um time que tem muita rotatividade porque pensa no negócio, pensa na venda do jogador, aposta num treinador que não tem experiência ainda como técnico principal. Isso é acreditar no improvável. Por que o improvável vai dar certo o tempo todo? – indagou Cescon nesta segunda-feira (15/9).
– É improvável que um time que começa a consolidar a equipe na janela do meio do ano vá dar certo. Pode dar? Pode. Mas é improvável. É improvável que um treinador que não tem experiência comandando uma equipe principal, um treinador principal, dê certo. Pode dar certo? Pode dar. Mas é improvável. Então, como se aposta demais que o improvável vai acontecer sucessivamente? “Ah, deu certo ano passado, vamos fazer esse ano de novo”. Eu acho difícil. É querer demais que o raio caia duas vezes no mesmo lugar. E paga-se o preço disso. E acho que com o Davide também o Botafogo paga o preço de ter um treinador que não é tão experiente assim. Ele está conhecendo as nuances do Campeonato Brasileiro agora. As nuances da Libertadores, da Copa do Brasil. Ele percebe que as coisas mudam de figura muito rápido no Brasil. Uma semana é um espaço, um tempo muito grande. Você motivar a equipe a cada três dias é complicado. A pressão aqui é diferente. O torcedor quer ver outra coisa então, enquanto o treinador não tem toda essa experiência. Então vamos ver como é que o Textor vai entender toda essa dinâmica. Ele vai continuar dando respaldo? Eu não estou te falando que não tem que dar. Mas se ele vai dar, é entender que talvez esse processo se arraste por mais um tempo. E talvez o ano do Botafogo termine sem ter nenhum título lá no final. Esse é o preço que se paga. É o modelo de gestão de correr risco – explicou.
A comentarista acredita que um dos problemas do Botafogo é a rotação constante no elenco.
– Esse encaixe, para dar certo, já que é um time que tem tanta rotatividade de jogadores, precisa ser imediato para o Botafogo conseguir colher os frutos no mesmo ano em que ele faz as mudanças. E aí você exige do futebol um nível de acerto tão elevado, que é tão difícil você conseguir. E olha que eu já elogiei, e continuo elogiando o mapeamento de mercado que o Botafogo faz. É um time que sabe exatamente que perfil de jogador que quer contratar, que jogo que quer desempenhar. Vai ao mercado e traz a peça conforme essas características, que se imagina para aquela posição. Isso diminui bastante o erro e a demora para um jogador se adaptar ao coletivo. Mas nem sempre vai acontecer de uma maneira perfeita como foi no ano passado. O jogador vai chegar, vai encaixar com o seu companheiro e vai começar a produzir demais. Quando você mexe demais essa estrutura do time, você corre esse risco das coisas não se encaixarem. É importante que o torcedor tenha noção disso, porque esse é o modelo de negócio do Botafogo. Não é um modelo de negócio de 2025. Me parece ser um modelo de negócio que o Botafogo adotou. De trocas constantes, de vender o jogador quando tem mercado, de trazer o jogador para cá com a promessa que ele vai lá para fora, vai para a Europa na medida que chegar uma proposta. É um modelo de negócio que nunca é certo ou errado. Mas isso tem um custo. Pode ser que nem todo ano se repita como foi em 2024. O torcedor tem que ter ciência disso e vai ter que aceitar, porque o Botafogo tem um dono – completou.