Torcedor do Botafogo que ofereceu R$ 20 a John Textor diz que dinheiro foi presente de Natal da avó e brinca: ‘Onde já se viu recusar?’

Torcedor do Botafogo Thales Maia
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‘Ninguém ama como a gente’, ‘Não se compara’, ‘O Maior Amor do Mundo’. Os torcedores do Botafogo conhecem bem as frases e, mesmo em meio a períodos conturbados, não deixam de demonstrar o quanto amam o clube. E Thales Maia fez valer as máximas na última sexta-feira (7), no Aeroporto Santos Dumont, no Centro do Rio de Janeiro, ao recepcionar John Textor, empresário norte-americano que chegou ao Brasil para dar continuidade ao processo para adquirir 90% da SAF do clube carioca.

O professor de Geografia de 27 anos, que herdou a paixão pelo Botafogo do pai e começou a acompanhar o Glorioso na Série B de 2003, viralizou na internet ao oferecer R$ 20 ao bilionário, que é um dos sócios do Crystal Palace e dono de uma fortuna avaliada em aproximadamente R$ 1,3 bilhão.

E a origem dos R$ 20 chamam atenção. Em entrevista ao ESPN.com.br, Thales detalhou a recepção ao empresário no desembarque no Rio de Janeiro e revelou que tudo é fruto de um presente de Natal da avó e troco de uma lavagem completa em seu carro.

Não foi nada planejado. Sou daqueles caras que nunca anda com dinheiro algum, nunca gostei de andar com dinheiro na carteira. Sempre tomo bronca da minha mãe: ‘Tem que ter R$ 10 na carteira. Não é possível que você não ande com dinheiro’. Sim, não ando com dinheiro. Tanto que esse dinheiro, na verdade, foi um presente de Natal da minha avó. Ela me deu R$ 50, eu usei R$ 30 para dar uma lavagem completa no carro e sobrou esses R$ 20. Na correria, estava aquela loucura: ‘John, John, vem’. Falei: ‘Quer saber, vou brincar com essa situação’. Muito comum a gente oferecer dinheiro para jogador mercenário, né? Mas peguei, lembrei da origem do dinheiro e brinquei: ‘John, John, this is for you. It is a gift’ (John, John, isso é para você. É um presente). Ele até acabou apertando a minha mão, mas não aceitou. Até brinco que ele foi ‘desumilde’ comigo, onde já se viu recusar R$ 20 (risos)”.

Veja a tentativa da entrega de R$ 20 para John Textor no vídeo abaixo:

Presente nos últimos ‘AeroFogos’ para recepcionar Clarence Seedorf, em 2012, e Keisuke Honda, em 2020, o Alvinegro comparou as festas feitas para as estrelas internacionais com a da chegada de John Textor e apontou as diferenças entre elas.

O clima estava diferente dos famosos ‘AeroFogos’, no qual já teve grandes recepções para Montillo, Seedorf, Honda, inclusive nesses dois últimos eu estava presente. Quando a gente recepciona um jogador, é mais festa, farofada, batucada, aquele clima de fato de você receber um grande astro que pode resolver em campo e te trazer muitas alegrias. Já a chegada do John Textor, foi diferente, tive essa sensação. É a chegada de um ‘camarada’ que vai comprar 90% das ações da SAF. O que ele é para você? É tudo muito novo. Você consegue planejar um pouco o que vai ser daqui para frente, mas não consegue cravar. A galera estava um pouco ressabiada, não sei se era o fato de ser no Santos Dumont, já que o Galeão que é nossa verdadeira casa. Estava com muita chuva no Rio de Janeiro também. Aos poucos, a gente foi quebrando o gelo, cantando e o aeroporto foi se inflamando com a torcida”, disse Thales.

Há torcida mais apaixonada que a do Botafogo? Para o Alvinegro, não. E o motivo é até paradoxal. Apesar do pouco retorno oferecido pelo Glorioso nos últimos anos, o amor de Thales – e dos demais que carregam a estrela solitária no peito – só cresce.

A torcida do Botafogo é muito doida, muito maluca, todo mundo é dodói apaixonado pelo clube. Se for ao jogo do Botafogo no Nilton Santos de ônibus, você vê 50 ações tão doidas quanto essa. Nada melhor que uma pós-vitória do Glorioso você voltar de 692 (linha de ônibus) para casa, você vê 50 maluquices iguais a essa. A torcida se supera, é ‘Botafogo de Futebol e Entretenimento’ que a gente costuma falar. Nada é planejado. Acredito que a torcida do Botafogo é sim a mais apaixonada, até mesmo pela forma que ela demonstra o amor ao clube. Justamente pelo retorno. O que o clube nos oferece? Nos últimos tempos, não tem oferecido tantas alegrias, mas, mesmo assim, de maneira até curiosa, nosso amor só aumenta”.

E se a moda pega?

Questionado sobre os R$ 20, Thales afirmou que uma possível ação partindo do clube baseada em seu ato no aeroporto não pegaria. Para ele, os apaixonados têm o papel de apoiar, enquanto um projeto para dar certo tem que partir e passa por uma gestão profissional.

Isso é relativo, até porque já houve isso em outros momentos, com outros clubes. Aqui no Rio tem exemplos com o Botafogo e com o Vasco. O clube teve a ação de colocar o nome na cadeira da arquibancada do Nilton Santos, recentemente teve a doação de qualquer valor para ajudar no Centro de Saúde e Performance. A torcida do Vasco teve a questão do CT, um torcedor no Nordeste que vendeu a bicicleta para ajudar. Depende do cálculo que seria feito, mas, mais do que isso, contar com o torcedor é saber o que fazer com o dinheiro que já arrecada. Se até então os clubes que recebiam um grande aporte de patrocínio, de TV, não conseguem sobreviver, imagina depender do torcedor? Nossa função é torcer, fazer festa, cobrar dentro do possível. Se o Botafogo quiser aproveitar e usar como estratégia de marketing, vamos aí. Até porque a gente, agora, vai ter uma gestão profissional”.

Embalado?

No dia 24 de dezembro de 2021, às vésperas do Natal, o torcedor do Botafogo ganhou um belo presente. O Alvinegro revelou em comunicado oficial que havia assinado um pré-contrato com o empresário John Textor, interessado em adquirir 90% da SAF. Desde então, Thales jogou a empolgação nas alturas.

“A empolgação está nas alturas. Principalmente desde o Natal, que descobrimos que o John Textor seria o investidor. Desde então, está lá nas alturas. E o torcedor do Botafogo vem consumindo todo e qualquer conteúdo relacionado à SAF e até mesmo ao Crystal Palace. O grande motivo da empolgação é que vai haver uma grande mudança. O grupo político que está há anos no Botafogo não vai atuar tanto, isso é motivo de louvor. A gente via atitudes antidesportivas, sem cabimento e profissionalismo. Você via ‘camarada’ dormindo em live, Montenegro mandando áudios em WhatsApp. Agora, vai ter uma mudança. A palavra agora é profissionalismo. É louvável, é motivo de muita alegria. Pelo John Textor ter credibilidade, experiência, acaba nos colocando com certa empolgação”, disse o professor de Geografia de 27 anos, que deixou claro: torce pelo Botafogo, não pela SAF, e apontou os títulos que o Glorioso pode sonhar nas próximas temporadas.

Sou torcedor do Botafogo, não da SAF, deixando bem claro. Mas, uma coisa está interligada à outra. Meu maior sonho é que as dívidas possam ser equacionadas, que o clube possa respirar. Que nos próximos três anos tenhamos uma equipe mais competitiva e, quem sabe, possamos lutar por títulos. Hoje em dia, temos competições de mata-mata. É possível ganhar uma Copa Sul-Americana, uma Copa do Brasil. O Botafogo, no modelo antigo, já deixou escapar diversos títulos por diversos motivos. Espero que possa brigar cada vez mais e possa voltar ao patamar de antigamente”.

CT, time competitivo ou quitação das dívidas? Para Thales, uma coisa leva à outra. Com um passo de cada vez, o Botafogo pode resolver os problemas mais gritantes para, então, lutar por títulos e voltar aos tempos áureos.

Acredito que 99,9% dos torcedores responderiam que é formar um time competitivo. Mas, a qualquer preço e a qualquer custo, levou a gente onde estamos, com uma dívida gigantesca. Então, acredito que, nesse momento, vai ser um time mais tímido e, com o passar do tempo, vai ter um reordenamento. Igual ele fez no Crystal Palace. Os medalhões saindo, e ele contratando cada vez mais jovens promissores que vão se tornar realidade e dar resultados, tanto no aspecto esportivo, quanto no financeiro. Acho que dando esses pequenos passos vai ter a capacidade de investir no CT, tanto na base quanto no profissional. Tem que ver se o Espaço Lonier será só para base ou se também para o profissional. Mas, no futebol, a bola não entra por acaso. É tudo uma questão de planejamento e reordenamento. Um passo de cada vez, um time competitivo aqui, uma reorganização da dívida ali, um ganho de receitas, novas finanças, patrocinadores. Uma coisa acaba levando à outra. Um time para disputar nos primeiros anos sem riscos, dívidas quitadas aos poucos e o investimento vai aumentando. Um passo de cada vez”, finalizou.

Fonte: ESPN Brasil

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