VAR é para isso? Daniel Nobre Bins revela ‘conversas a todo momento’ com árbitros e orientações durante o jogo; comentarista critica

Daniel Nobre Bins, VAR da CBF
YouTube/Canal do Duda Garbi

Para que foi criado o VAR? Em tese, para decisões factuais e lances claros não observados pela arbitragem de campo. No Brasil, funciona diferente. Árbitro de vídeo da CBF, Daniel Nobre Bins revelou que fala constantemente com o árbitro principal, como se fosse um auxiliar, e dá orientações durante os jogos.

– Conversamos. Hoje, o VAR tem liberdade muito maior, então podemos falar “atenção lá na entrada, escapou um braço”. Se pudesse escutar o áudio do VAR, o trabalho não é só quando chama. É a todo momento. Trabalhamos como auxiliar do árbitro de jogo, se abriu um leque maior para o árbitro de vídeo. No início da ferramenta, tinha restrição, não pode falar. Hoje, posso dizer “jogador subiu lá, deixou escapar um braço, atenção, Daronco, o braço escapou”. Para trabalhar de forma preventiva, para evitar lance que jogador deixe o cotovelo. Hoje o trabalho é muito preventivo – declarou Daniel Nobre Bins, ao canal do Duda Garbi.

– Acontece muito a simulação. Temos que esperar a decisão do árbitro. Decidiu seja com advertência verbal ou cartão amarelo, posso falar “Daronco, pegou no peito, não no rosto”. E o jogador continua em volta, ele fala “o VAR já me avisou”. É ferramenta de uso de controle de jogo preventivo. “O VAR já me avisou que pegou no peito”. Passamos feedbacks que ajudam nas decisões. Inclusive quando erram decisões. O Daronco diz “pode me falar, não vou sofrer condicionamento, mas quero saber para conduzir”. Senão o jogador vem cobrar, um tiro de meta ou escanteio, na mediação você pode falar “errei lá, desculpa, vou me concentrar mais”. Isso ajuda nessas relações que se estabelecem nesse controle de jogo. Antes não se podia falar nada, hoje se entende como um assistente – acrescentou.

Daniel Nobre Bins, no entanto, acredita que o VAR poderia interferir menos no futebol brasileiro.

– Uma das grandes polêmicas que se tem no Brasil é essa, primeiro se falava que o VAR demorava demais, hoje não tem mais tanto essa demora. Hoje a discussão é por que o VAR entrou ou não. Quando entra, “é muito intervencionista, tem que respeitar as decisões do árbitro de campo, quer apitar pelo árbitro”. Quando não entra, “o VAR é omisso, estava dormindo, o que estava fazendo lá?”. Isso não vai acabar, tenho certeza. No Brasil, tem a questão das polêmicas, de cada um buscar defender seu time. Se não entrou, é porque achou que não tinha que entrar. Se caminhássemos para subir a linha de interferência, na Europa é muito maior, para entrar no lance tem que ser coisa (muito gritante). Lá se respeita mais a decisão do árbitro de campo, o que dá tranquilidade maior para o árbitro de vídeo. Temos diferença também da Conmebol em relação ao Campeonato Brasileiro. Talvez pela característica nossa, cultural, de jogo aguerrido, dirigentes dando satisfação após o jogo… Acho que isso (menos interferência) seria um bem para o futebol – avaliou.

Comentarista critica

Ex-árbitro e hoje comentarista de arbitragem, Renato Marsiglia criticou a forma que o VAR atua no Brasil, em live no “UOL”.

– Digo sempre que a questão do VAR está entre a cadeira e o equipamento. Acho que aqui o VAR interfere demais, em questões de interpretação. Não foi criado para isso, foi criado para lances claros, óbvios, inquestionáveis, que a ética repudia, em que até o torcedor que seria beneficiado diz tudo bem. Mas o VAR se expandiu, talvez por pressão de mídia, torcedores e comissões técnicas, passou a reapitar o jogo no Brasil. Ou seja, o árbitro faz uma coisa, o VAR reapita, chama e manda, faz resenha. Quando deve simplesmente chamar e dizer “tem esse lance aqui, olha”. Não tem que ficar ali “olha o braço, o cotovelo, o joelho”. Não é ele que apita. Quer reapitar, induzir o árbitro a mudar a opinião. Por isso digo que o problema está entre a cadeira e o equipamento – cornetou Marsiglia, que comentou ainda sobre as conversas entre o árbitro de vídeo de o de campo.

– Até fico surpreso. É a questão do reapitar, “olha o jogador tal”. Se sou eu, desligo, ou mando o cara para aquela parte. O árbitro já tem pressão suficiente, obrigações suficientes, tem que prestar atenção em uma série de questões, aí vai ficar com VAR dizendo que está acontecendo isso ou aquilo. Vai prestar atenção no VAR ou no jogo? É questão de orientação, “sr. VAR, sai do ouvido do árbitro”. Eu primeiro falaria para ficar quieto, educadamente, “entra na hora que for para entrar”. Se continuasse, eu desligaria. Se eu fosse chamado pela comissão, diria que está interferindo em assuntos que não são da competência dele – completou.

Fonte: Redação FogãoNET e canal do Duda Garbi

Comentários