O desafio que aguardava o Botafogo na noite de segunda não era nada fácil. Recebeu o Palmeiras no Nilton Santos e saiu derrotado por 3 a 1. O adversário é a equipe mais regular do futebol brasileiro, líder do campeonato, invicto como visitante, time que mais marcou e que menos sofreu gols fora de casa. O Glorioso é o quarto pior mandante do Brasileirão e conheceu a sétima derrota em 15 jogos. O jogo foi marcado por erros individuais que ajudaram a construir o resultado final.
Além do rival e da campanha fraca como mandante, os desfalques também tornaram o desafio mais complicado para o Glorioso. Victor Cuesta e Marçal, responsáveis pelo lado esquerdo da defesa alvinegra, cumpriram suspensão pelo terceiro cartão amarelo. A ausência da dupla também foi sentida na construção do jogo da equipe: Cuesta é o jogador que mais acerta lançamentos no elenco (41, média de quase dois por jogo); já Marçal é quem mais acerta passes no time, com média de 40 passes e 89% de aproveitamento por jogo. Além disso, os dois são peças fundamentais nas bolas paradas, o lateral nas cobranças e o zagueiro nas rebatidas e finalizações. Kanu formou a zaga com Adryelson e Hugo entrou na lateral-esquerda.
O treinador também contou com retornos importantes para a montagem do time titular. Gatito voltou da seleção paraguaia e Eduardo cumpriu suspensão na última rodada. Outro que voltou ao time foi Jeffinho. Depois de entrar bem, com participação no lance do gol da vitória sobre o Goiás, o ponta retomou sua vaga no onze inicial. Apesar da inconstância recente nas atuações, natural para um jovem com pouca experiência profissional, o ponta continua sendo a principal opção para criar desequilíbrios nos adversários a partir do drible. Sem Marçal iniciando as jogadas e organizando o jogo na esquerda, o time ficou ainda mais dependente da inspiração individual do garoto.
O jogo começou sob o controle do Palmeiras, com o time paulista ditando o ritmo, espaçando o ataque e acuando o Botafogo no campo de defesa. Gabriel Pires e Tchê Tchê encontraram dificuldades para entrarem no jogo e conseguirem reter a posse para aliviar a pressão imposta pelo adversário. Sem sucesso na troca de passes, o time recorreu às bolas longas para ligar defesa e ataque, sempre buscando a referência de Tiquinho Soares. No saldo do duelo, o centroavante levou a melhor no enfrentamento com Gustavo Gomez.
O Glorioso demorou para conseguir colocar a bola no chão. Chegou bem em uma cobrança de falta rápida que Jeffinho finalizou mal aos dez minutos. Mas foi aos 19 minutos que o time trocou pela primeira vez alguns passes em sequência no campo de ataque. Depois de boa jogada individual de Saravia, Tiquinho recebeu na entrada da área e finalizou de primeira para abrir o placar. Destaque para o senso de posicionamento do atacante, que foge da zona de pressão para receber livre, e para o movimento rápido de chute que pegou de surpresa o goleiro Weverton.
O gol foi a injeção de confiança que o Botafogo precisava para crescer e equilibrar o jogo. No embalo da torcida, o time ensaiou mostrar que pode enfrentar o líder do campeonato de igual para igual. Mas não estava nos planos um pênalti de Gabriel Pires aos 24 minutos que possibilitou o empate alviverde. Mesmo com empate, o Alvinegro não se abateu e teve boa oportunidade com Junior Santos depois de boa jogada individual. Contudo, aos 36, Piquerez fez o que quis com Saravia e cruzou para Mayke virar o jogo. Se foi bem em criar o lance do gol no ataque, o lateral argentino voltou a mostrar a péssima abordagem defensiva que o torna um elo frágil na defesa.
Com dois laterais-direitos de ofício em campo (Marcos Rocha e Mayke, este posicionado como meia-direita) e Gustavo Scarpa também caindo pelo setor, o Palmeiras explorou os desfalques alvinegros e a insegurança de Kanu e Hugo. Em um momento do primeiro tempo, Castro inverteu Jeffinho e Junior Santos procurando melhorar a recomposição defensiva, mas logo desfez a alteração e voltou ao posicionamento original.
O Botafogo ainda contou com a atuação ruim de jogadores importantes. Eduardo cometeu alguns erros técnicos grosseiros e pouco apareceu na frente. Gabriel Pires mais uma vez mostrou qualidade no passe, mas parece mal na questão física. O meia está lento na leitura das jogadas e execução dos gestos técnicos. Foi assim no lance que originou o terceiro gol palmeirense, aos 14 minutos do segundo tempo. Prendeu demais a bola no meio-campo em uma região de intensa pressão do adversário. Desarmado, assistiu ao Palmeiras ser mortal e encontrar Dudu na área em poucos segundos.
Del Piage entrou bem contra o Goiás e poderia ter sido considerado já no intervalo como opção para aumentar a força e o poder de marcação do meio-campo alvinegro. Com Eduardo e Gabriel deslocados no jogo, Tchê Tchê ficou sobrecarregado, o que deixou a defesa muito exposta às arrancadas do adversário. Castro substituiu Gabriel Pires apenas após o erro decisivo no segundo tempo. No seu lugar entrou Victor Sá posicionado como um segundo atacante. Gustavo Sauer substituiu Junior Santos e voltou a apresentar qualidade na perna esquerda e um bom entendimento para executar a função quando o adversário tem a defesa postada. Junior Santos vai melhor atacando em transição, aliando velocidade e força.
O Palmeiras teve Zé Rafael expulso aos 23 minutos da etapa final. Castro já havia colocado o Botafogo em um 4-2-4 e mudou para um 3-3-4 com as entradas de Del Piage e Matheus Nascimento nos lugares de Tchê Tchê e Kanu. Rafael e Hugo formaram a defesa com Adryelson. O objetivo era ter mais peças no campo de ataque, utilizando toda a amplitude do campo para abrir a defesa adversária. Na prática, nada disso funcionou e o time terminou a segunda etapa sem nenhuma finalização certa. Abel Ferreira reorganizou bem sua equipe e foram os paulistas que estiveram mais perto de marcar mais um gol.
Na 30ª rodada, o Botafogo vai até a Ressacada enfrentar o Avaí na próxima quinta-feira (6), às 20h. Na luta contra o rebaixamento, o Leão da Ilha venceu apenas um dos últimos 12 jogos.
Números do jogo: (Footstats)
Posse de bola – BOT 47% x 53% PAL
Passes certos – BOT 295 (86%) x 347 (88%) PAL
Finalizações – BOT 8 (1 no gol) x 12 (6) PAL
Desarmes – BOT 11 x 15 PAL
Interceptações – BOT 4 x 5 PAL
Rebatidas – BOT 41 x 30 PAL
Cruzamentos – BOT 4/10 (40%) x 7/18 (39%) PAL
Lançamentos – BOT 11/22 (50%) x 15/38 (39%) PAL
Viradas de jogo – BOT 0 x 4 PAL
Dribles – BOT 6 x 7 PAL
Perdas de posse de bola – BOT 24 x 21 PAL
Faltas – BOT 15 x 15 PAL
Cartões amarelos – BOT 5 x 3 PAL
Cartões vermelhos – BOT 0 x 1 PAL