A goleada sobre o Brasiliense pela Copa do Brasil parece ter sido um oásis no deserto de ideias do futebol do Botafogo. Esperava-se uma guinada em direção às vitórias e ao sucesso na temporada, mas não foi o que o time apresentou no empate sem gols com a Portuguesa em jogo válido pelas semifinais da Taça Rio. Mais uma vez, o Glorioso foi desorganizado, apático e acéfalo, sem conseguir se impor diante de um adversário de menor investimento. Pior: completou cinco partidas seguidas sem vencer o time da Ilha do Governador.
As entradas de Di Placido, Danilo Barbosa e Eduardo na vitória da última quarta-feira deram o norte do que deve ser o time titular de Castro para a sequência da temporada. Por isso, o treinador repetiu quase toda a escalação da última quarta-feira. Saíram apenas Marçal, que cumpriu o último jogo de suspensão, e Piazon. Hugo entrou na lateral-esquerda e Victor Sá, recuperado de problemas físicos, retornou ao ataque.
A volta de Victor Sá, no entanto, não resolve um dos principais problemas da equipe em 2023. Desde a saída de Jeffinho, o time não tem pontas capazes de criar desequilíbrios em situações de um contra um ou oferecer amplitude e profundidade para atacar a linha de fundo. Victor chegou com muita expectativa, foi atrapalhado por uma lesão, mas nunca conseguiu entregar regularidade. Carlos Alberto tem mostrado iniciativa, mas peca bastante nas tomadas de decisão. Luis Henrique, enfim, parece querer disputar a posição, embora inspire pouca confiança. Já Piazon, que por vezes teve papel tático importante na equipe, erra demais e não é uma opção confiável para a criação de jogadas. Para ser competitivo e superar os resultados do ano passado, o Botafogo precisa contratar titulares para as duas pontas.
Essa ausência de um jogador disruptivo, capaz de produzir jogadas imprevisíveis, torna o Glorioso um time previsível. Eduardo, que voltou ao time na última quarta-feira, é um dos poucos jogadores do elenco com o potencial de oferecer algo de inesperado, mas é pouco em meio a uma equipe que voltou a cometer muitos erros técnicos que quebram a dinâmica ofensiva. É impossível conseguir volume de jogo, com ritmo e intensidade no ataque, com tantos erros de passes e decisões ruins. A única chance de gol alvinegra no primeiro tempo saiu com Victor Sá batendo fora da área após boa jogada individual de Cuesta, logo aos três minutos de jogo. É sintomático que a melhor jogada ofensiva do time tenha surgido de uma arrancada do zagueiro.
O Botafogo não conseguiu colocar em prática qualquer plano ofensivo para chegar ao gol. A desorganização foi a regra do ataque alvinegro no primeiro tempo. A falta de padrão tira confiança, dificulta as escolhas e promove o erro, pois aumenta o número de jogadas forçadas. O Alvinegro foi para o intervalo com menos posse de bola (49%), menos finalizações (4) e menor índice de acerto de passes (86%). Defensivamente, o time conseguiu pressionar o homem da bola para evitar os lançamentos nas costas da defesa. Contudo, a Portuguesa foi perigosa pelas beiradas do campo, aproveitando uma atuação ruim dos laterais. Firmes, Adryelson e Cuesta estiveram sólidos na proteção da área.
Castro voltou com três alterações no time. Apagados, os dois pontas foram substituídos por Piazon e Luis Henrique. Piazon cumpriu uma função mais posicional que Carlos Alberto, sempre bem aberto junto à linha lateral. No meio, Danilo Barbosa saiu para a entrada de Lucas Fernandes. Sem mexer na estrutura do time, o treinador apostou na qualidade de Lucas para melhorar a criação. O time voltou mais organizado e melhorou com mais condições de controlar a posse e trocar passes no campo de ataque. A Portuguesa assumiu a aposta no contra-ataque e continuou criando problemas nas escapadas pelas laterais.
Apesar da leve melhora coletiva, o Botafogo seguiu sem conseguir pressionar, sem estabelecer um ritmo ofensivo para envolver o adversário e criar chances de gol de maneira consistente. Ainda que finalizando mais, as oportunidades mais perigosas foram dois chutes de fora da área de Lucas Fernandes e Tiquinho, aos seis e aos 30 minutos. O centroavante cresceu na reta final do jogo e criou boa chance para Luis Henrique aos 39 minutos da etapa final.
Eduardo cansou, caiu de rendimento no segundo tempo e foi substituído por Raí. Na marra, o Botafogo conseguiu empurrar a Portuguesa contra a própria área nos últimos dez minutos de jogo. Lucas Fernandes acertou o travessão em chute de fora da área. No mais, foram cruzamentos forçados e tentativas frustradas de triangulações até o apito final.
Botafogo e Portuguesa voltam a se enfrentar na segunda-feira (27), às 20h, em Volta Redonda. Para avançar à final da Taça Rio, o Glorioso tem a vantagem de jogar por um novo empate.
Números do jogo: (Footstats)
Posse de bola – POR 44% x 56% BOT
Passes certos – POR 249 (87%) x 447 (90%) BOT
Finalizações – POR 9 (2 no gol) x 13 (6) BOT
Cruzamentos – POR 0/11 (0%) x 6/26 (23%) BOT
Lançamentos – POR 11/50 (22%) x 10/27 (37%) BOT
Desarmes – POR 15 x 13 BOT
Interceptações – POR 2 x 3 BOT
Rebatidas – POR 35 x 35 BOT
Dribles – POR 6 x 8 BOT
Perdas de posse de bola – POR 32 x 25 BOT
Faltas – POR 14 x 19 BOT
Cartões amarelos – POR 4 x 3 BOT